Na comédia Tempos Modernos, o autor, realizador e actor Charles
Spencer Chaplin parodiava as facetas nefastas da crise económica mundial
e da nova fase da industrialização. Pessoas que lutavam contra
máquinas, a exploração, a necessidade extrema. No centro da história,
alguém tenta sobreviver aos difíceis tempos: um vagabundo, com
chapéu-coco, bigode, sapatos enormes e bengala.
Devido aos seus
filmes de humor sofisticado, Charlie Chaplin pode ser considerado ainda
hoje o comediante mais famoso de todos os tempos do cinema. Ele negava,
porém, a imagem que faziam dele em função do seu trabalho.
"As
pessoas dizem que sou uma pessoa alegre. Eu sou um homem bastante
sério. Com frequência não sei como devo expressar alguma coisa. Por isso
os meus filmes são sempre tão longos. E o mais difícil é dar-lhes a
aparência de simples."
Chaplin precisou de quatro anos para concluir
Tempos Modernos. O filme tornou-se um momento de ruptura na sua
carreira. Pela última vez, o artista levava para as telas o seu lendário
vagabundo. E este entrou para a história do cinema como o seu
derradeiro filme mudo.
Já há algum tempo as películas tinham passado
de mudas as sonoras. Mesmo assim, Chaplin confiou mais uma vez na sua
muda arte da pantomima, restringindo a sonorização à música e efeitos
sonoros. Somente um personagem podia falar: o dono da fábrica, que
vigiava os seus operários através de uma gigantesca parede de projecção.
O empregado que se encontra na linha de montagem, aperta os parafusos
muito devagar. De repente, fica preso numa peça na passadeira rolante e é
arrastado para dentro de uma enorme engrenagem da máquina. Mais uma
cena de Chaplin que entrou para a história do cinema. Tempos Modernos é
antes uma sequência de cenas engraçadas isoladas do que grande guião
dramático.
"Bom dia, meus senhores e minhas senhoras, aqui fala o
vendedor automático. Eu tenho a honra de apresentar-lhes o Sr. John
Billows, inventor da máquina automática de alimentação. O aparelho é uma
invenção genial para se comer automaticamente. Os senhores economizam o
intervalo do almoço e dão um golpe na concorrência", anuncia a nova
máquina.
Mas golpe mesmo sofre apenas a personagem de Chaplin. A
máquina é testada tendo como cobaia o empregado, a máquina sai fora do
controle, dá-lhe um banho de sopa e alimenta-o com parafusos . O público
na pré-estreia, no dia 5 de Fevereiro de 1936, no cinema Rivoli de
Nova Iorque, fica deslumbrado.
Mensagem política ou pura diversão?
"Eu acho que passar mensagens é muito problemático. Elas podem ser
indignas. Podem até mesmo ser ridículas. Não acredito em mensagens",
comentou certa vez ao falar de Tempos Modernos.
Chaplin não via o
seu último filme mudo como uma sátira política, mas como entretenimento.
Mesmo assim, o governo americano sentiu-se incomodado, assim como os
governos nazis da Alemanha e fascista da Itália, que proibiram a
exibição da película. Após novos filmes e anos de atritos com o governo
dos EUA, o artista britânico deixou o país que escolhera para viver,
retornando à Europa.
Somente décadas depois Hollywood reconheceria o
mérito das sua obras. Em 1971, Chaplin, já com 83 anos, recebeu um
Oscar pela sua incalculável contribuição para o cinema.
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