domingo, 15 de novembro de 2020

LUZIA, O MAIS ANTIGO FÓSSIL HUMANO DAS AMÉRICAS – LAGOA SANTA-MG – (12.000 a 8.000 anos atrás).


LUZIA, O MAIS ANTIGO FÓSSIL HUMANO DAS AMÉRICAS – LAGOA SANTA-MG – (12.000 a 8.000 anos atrás)
Além de fósseis encontradas na Serra da Capivara, no Piauí, existe também um antigo conjunto de fósseis achados no município de Lagoa Santa, em Minas Gerais. Fósseis de habitantes da região que haviam sido descobertos por Peter Lunda no século XIX, e que em 1842, já lhe chamara a atenção por apresentarem crânios estreitos e faces projetadas para a frente, características de povos africanos que vivem ao sul do deserto Saara. Mas esses 17 crânios ficaram esquecidos em caixas no Museus Nacional no Rio de Janeiro por muito tempo.
Em 1974, na Lapa Vermelha IV, em Lagoa Santa, durante a escavação da equipe de Annette Laming-Emperaire, foi descoberto um esqueleto humano que foi datado pelo teste de Carbono 14, como tendo 11.500 , e é o mais antigo fóssil humano até agora encontrado em toda América. Posteriormente foi apelidado de Luzia.
No final da década de 1980, o bioantropólogo Walter Neves, em parceria com o colega argentino Héctor Puciarelli, começaram a reexaminar os crânios originalmente escavados por Lund, em Lagoa Santa. Então Neves ficou surpreso ao perceber que essas pessoas tinham morfologia muito parecida com as encontradas hoje em africanos, aborígenes da Austrália e nativos da Melanésia, todas de populações consideradas negras. Então Neves e companhia retomaram os escavações em Lagoa Santa e encontraram mais 30 novos crânios que vão até 8.000 anos atrás.
Luzia ganho a aparência em 1999, graças ao trabalho de Richard Neave, um antropólogo forense britânico . Um sujeito capaz de reconstituir as características físicas de um esqueleto para ajudar a polícia a identificar pessoas, solucionar crimes ou acidentes. Suas características são claramente negroides. O fóssil dessa mulher pré-histórica contribui para reacender um antigo debate em torno das origens do homem americano. De acordo com o paleoantropólogo Walter Neves, responsável por batizar o fóssil, a morfologia do crânio de Luzia a aproximaria dos atuais aborígenes da Austrália e nativos da África.
Luzia colocou ainda mais dúvidas na já claudicante e quase extinta “Teoria Clóvis”, que estabelecia que todos os habitantes das Américas eram descendentes de uma leva de asiáticos da região da Sibéria nas proximidades do Lago Baikal, que teriam atravessado o Estreito de Beringia por volta de uns 12.000 anos atrás, já que Luzia é uma mulher com características bem distintas dos indígenas atuais que são mais próximos do grupo epigenético mongoloide.
Luzia foi investigada pelos bioantropólogos e arqueólogos Walter Alves Neves, André Prous, Joseph F. Powell, Erik G. Ozolins e Max Blum.
Neves levantou a hipótese de que a ocupação da América foi mais antiga do que até então se imaginava, embora não recuando muito no tempo, cerca de 14 mil anos antes do presente, e que foi realizada por vários povos de regiões distintas, como da Oceania e da África. Essa tese não é muito bem aceita por alguns cientistas.
Os estudos realizados na região habitada por Luzia e outros paleoíndios demonstram que eles desconheciam a cerâmica e que sua indústria lítica era rudimentar. Pesquisas recentes afirmam que esses homens eram sedentários. Numerosos enterros e uso de matérias-primas existentes apenas neste local reforçaram estas ideias. Uma análise das cáries nos dentes destes americanos demonstra que eles, embora não tivessem agricultura, se aproveitavam intensamente de recursos vegetais.
Na época em que eles viveram na região, ali mesmo viviam tatus gigantes com uma tonelada e 3 metros de comprimento, preguiças gigantes com 200 quilos e do tamanho de um bezerro, “tigres” dentre de sabres com 3 metros de comprimento, embora esse nome não seja muito correto pois seu parentesco com os tigres atuais está muito distante. Foram detectados ossos desses animais gigantes até por volta de uns 9.500 anos, dois mil anos depois da época de Luzia. Entretanto não ha indícios que o povo de Luzia, usasse esses animais para alimentação, embora não se possa descartar que isso possa ter ocorrido.
Segundo estudos dos restos alimentares eles consumiam vegetais e viviam da caça de animais de médio e pequeno porte como veados, roedores e lagartos. Embora alguns pesquisadores culpem o aparecimento do homem na região para o desaparecimento da mega fauna, devemos considerar que as mudanças climáticas provocadas pelo fim da Idade do Gelo há cerca de 10.000 anos, possa ser a causa primordial do desaparecimento dessa mega-fauna.
Por volta de uns 40.000 anos o “homo-sapiens” já tinha chegado a todas as partes da Europa, Ásia e Oceania. Estudos mostram que muitos habitantes do leste da Ásia mantiveram suas características africanas por muito tempo como demonstram não só os habitantes da Austrália e Nova Guiné, como tribos isoladas das Filipinas, da Malásia e da Micronésia. É possível que povos com essas características, habitando alguma parte da Ásia, tenham chegado as Américas bem antes dos asiáticos com características mongólicas. Então não teriam necessidade de atravessar os oceanos de barco. Mas podiam navegar pelas costas do Pacífico apenas com caíques ou jangadas.
E se eles chegaram em Monte Verde, no sul do Chile, cerca de 13.000 anos atrás, poderiam ter chegado bem antes a Lagoa Santa, em Minas Gerais, que é muito mais próximo do Alasca do que o estremo sul do Chile.
Talvez os mais antigos remanescentes do povo de Luzia sejam os índios botocudos, que moravam no interior de Minas Gerais e foram os inimigos mais renitentes dos invasores portugueses, até serem subjugados no começo do século XIX por ordem de Dom João VI, Hoje descendentes desses povos ancestrais pode ser os Xavantes, do tronco linguístico Jê.
Já vi muitas pessoas contestarem as datações por testes de Carbono 14, por desconhecerem de como ele é feito, afirmando que essas datas são falsas, pois segundo a Bíblia, o mundo foi criado por Deus, no ano 4004 a.C., ou no mais tardar no ano 4108 a.C., e portanto não poderiam ter mais de 6.128 anos atrás.
O Carbono é o elemento químico número 6 da Tabela Periódica. Embora não seja o mais comum dos elementos da natureza, faz parte essencial de todos os seres vivos sejam vegetais, animais ou seres humanos. O Carbono possui cinco isótropos, sendo o Carbono 12, com 6 prótons e 6 nêutrons, o mais abundante de todos os isótopos do elemento Carbono, com uma ocorrência corresponde a 0.9893 do carbono existente na natureza. Outro isótropo é o Carbono 13 que corresponde a 0.0107. Mas há também o Carbono 14, que é um isótopo radioativo natural do elemento Carbono, recebendo esta numeração porque apresenta número de massa 14 (6 prótons e 8 nêutrons). Forma-se nas camadas superiores da atmosfera onde os átomos de nitrogênio-14 são bombardeados por nêutrons contidos nos raios cósmicos:
Reagindo com o oxigênio do ar forma dióxido de carbono C14O2 , cuja quantidade permanece constante na atmosfera. Este, juntamente com o C12O2 normal, é absorvido pelos animais e vegetais sendo, através de mecanismos metabólicos, incorporados a estrutura destes organismos. Enquanto o animal ou vegetal permanecer vivo a relação quantitativa entre o Carbono 14 e o Carbono 12 permanece constante.
Quando o ser vivo morre inicia-se uma diminuição da quantidade de Carbono 14 devido a sua desintegração radioativa. No Carbono 14 um nêutron do núcleo se desintegra produzindo um próton, que permanece no núcleo aumentando o número atômico de 6 para 7, com emissão de uma partícula beta (elétron nuclear). O resultado da desintegração do nêutron nuclear do carbono-14 origina como produto o átomo de nitrogênio-14. Como essa desintegração ocorre num período de meia-vida de 5.730 anos é possível fazer a datação radiométrica de objetos ou de matérias arqueológicos, os seja, a cada 5.730 anos a quantidade de Carbono 14 fica metade da quantidade inicial. Passado mais 5.730 anos só existirá metade da metade do carbono inicial e assim por diante até aproximadamente uns 50.000 anos quando a quantidade é tão ínfima que fica difícil continuar a datação.
O método não é por isso adequado à datação de fósseis que têm idades na casa dos milhões de anos e que são datados por métodos estratigráficos e por decaimento de outros elementos radioativos. Alguns deles são o teste de termoluminescência,que pode datar até centenas de milhares de anos; o teste dos aminoácidos, até 300 000 ou 500 000 anos; pelo teste do urânio 238-tório 238, que data até milhões de anos, pelo potássio-argônio, até 350.000 anos, e muitas outros utilizados pela física e química que podem nos dar uma data bastante aproximada da época de cada objeto ou ser existiu.
FONTES:
LOPES, Reinaldo José – 1499, o Brasil antes de Cabral – Harpes Collins, Rio de Janeiro, 2017.
PROUS, André – Arqeuologia Brasileira - Editora UnB, Brasília-DF, 1992
RIBEIRO, Ronaldo – O quebra-cabeça da Pré-História - National Geographic, nº 8, dezembro de 2000.
Vale a pena ver

 

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