domingo, 25 de agosto de 2019

A história esquecida dos Soldados da Borracha, nordestinos recrutados pelo governo brasileiro para trabalhar nos seringais durante a Segunda Guerra Mundial, mas que, ao término do conflito, foram abandonados pelo Estado brasileiro e até hoje lutam na justiça para receber o que o Governo da época prometeu.

A história esquecida dos Soldados da Borracha, nordestinos recrutados pelo governo brasileiro para trabalhar nos seringais durante a Segunda Guerra Mundial, mas que, ao término do conflito, foram abandonados pelo Estado brasileiro e até hoje lutam na justiça para receber o que o Governo da época prometeu.
Quando o governo de Getúlio Vargas se tornou, oficialmente, aliado dos Estados Unidos, durante a Segunda Guerra Mundial, o Estado brasileiro, visando obter lucros, iniciou um novo ciclo da borracha na região amazônica. A ação visava coletar látex para exportar o produto aos Estados Unidos e Europa.
Para concretizar o projeto, Vargas apelou, novamente, aos homens nordestinos, mesma população que migrou para o norte do país, 4 décadas antes, para desbravar os seringais amazônicos. Então, o governo brasileiro criou o órgão SEMTA (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia), o qual alistava compulsoriamente jovens nordestinos, obrigando-os a seguirem para os extensos seringais da região norte. O regime de contratação de trabalho pertencia ao exército brasileiro e era realizado pela FEB (Força Expedicionário Brasileira), transformando esses jovens em soldados da borracha, ou seja, no papel, eram como qualquer outro soldado do exército brasileiro.
A cidade escolhida como centro do recrutamento foi Fortaleza, no Ceará. Em dois anos de esforço, mais de 60 mil pessoas foram enviadas para a região amazônica.
Os jovens e suas famílias foram expostos a terríveis condições de sobrevivência. Parte significativa deles, mais de 10 mil, morreu de malária, ataque de indígenas e de outras causas muito comuns mata adentro. No norte, já na região amazônica, trabalhavam cerca de 14 horas por dia, e ficavam à mercê de donos de seringais. Mesmo sendo equiparados a soldados brasileiros, o Estado resolveu mantê-los como empregados normais, ajudando a enriquecer os grandes proprietários da seringa na região.
Ao fim do conflito, Vargas simplesmente esqueceu dos soldados da borracha. Quando iniciou o recrutamento, o governo brasileiro prometeu aos soldados da borracha pensão vitalícia concedida a veteranos de guerra, terras e retorno para a casa. A grande maioria, porém, não conseguiu voltar às suas cidades, por conta de dívidas contraídas em armazéns de proprietários de seringais, falta de dinheiro para o retorno ou enfermidades que dificultavam a viagem penosa de volta ao lar.
Nenhum deles recebeu um centavo, e muitos morreram de fome após serem demitidos, por causa da diminuição da demanda pelo látex. Ao contrário do tratamento dado aos pracinhas, que combateram na Europa, os soldados da borracha foram abandonados à própria sorte.
O abandono desses homens pelo Estado brasileiro, pra variar um pouco, só foi reconhecido em 1988, e as indenizações foram liberadas apenas em 2014. Nesse ano, a quantia de 25 mil reais deveria ter sido depositada na conta dos poucos homens que sobraram. No entanto, essas indenizações ainda não foram totalmente pagas aos ex-soldados.
Destino bem diferente dos benefícios que o Estado deu às famílias de donos de seringais, que, em sua maioria, continuam ricas e dominando parte significativa da economia na Região Norte.
#pracegover foto em preto e branco, em tom sépia, mostra um porto e centenas de homens acenando para a câmera. Eles vestem roupas brancas, carregam roupas e pertences dentro de sacos. Ao fundo um rio
Texto - Joel Paviotti
Foto - Arquivo/SEMPTA

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