quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Memórias do Japão católico que os portugueses construíram.

O Japão foi, sem sombra de dúvida, uma das mais bem sucedidas experiências de missionação da história do império português. Após a chegada das carracas negras dos «bárbaros do sul», como os japoneses nos chamavam, instalaram-se no império do sul levas crescentes aventureiros em busca de almas e de comércio. A interdição chinesa ao comércio directo entre China e Japão muito fez para rentabilizar a actividade dos portugueses, que, estabelecidos no seu entreposto de Macau, assim passaram a actuar como intermediários em muito do intercâmbio económico entre os dois impérios. A evangelização cristã, como em todas as partes do império português, acompanhou de perto o mercador e o capitão. Desde Nagásaqui, os portugueses foram criando intensa rede de igrejas, colégios, misericórdias e hospitais que, detidos geralmente por jesuítas, fizeram no Japão aquela que chegou a ser a maior comunidade cristã de toda a Ásia, assim como a maior do mundo que não sob a autoridade de um governante também cristão.
Estima-se hoje que a missionação portuguesa tenha criado uma comunidade nipo-cristã que chegou, no seu auge, a ultrapassar os 300 000 neófitos. Nem a tese amiúde repetida de que o cristianismo falaria fundamentalmente às classes oprimidas, nem a que afirma o suposto desajustamento do cristianismo ao carácter nipónico parecem, pois, poder merecer crédito ao estudioso sério. Pelo contrário, os padres portugueses converteram todas as categorias de homens. Entre 1553 e 1620, receberam a água baptismal pelo menos oitenta e seis Daimyos, ou senhores feudais, as igrejas numeravam já as muitas centenas, e o clero de origem japonesa constituía metade do total existente em terra nipónica.

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