quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Os Sertões - Uma Visão de Canudos.

"Ali estava, afinal, a tapera
enorme que as expedições
anteriores não haviam logrado
atingir.Aparecia, de improviso,
toda, numa depressão mais ampla
da planície ondulada. E no
primeiro momento, antes que o
olhar pudesse acomodar-se
àquele montão de casebres,
presos em rede inextricável de
becos estreitíssimos e dizendo em
parte para a grande praça onde se
fronteavam as igrejas, o
observador tinha a impressão
exata de topar, inesperadamente,
uma cidade vasta. Feito grande
fosso escavado, à esquerda, no
sopé das colinas mais altas, o
Vaza-Barris abarcava-a e
inflectia depois, endireitando em
cheio para leste, rolando
lentamente as primeiras águas da
enchente. A casaria compacta em
roda da praça a pouco e pouco se
ampliava, distendendo-se,
avassalando os cerros para leste
e para o norte até às últimas
vivendas isoladas, distantes,
como guaritas dispersas -- sem
que uma parede branca ou telhado
encaliçado quebrasse a
monotonia daquele conjunto
assombroso de 5 mil casebres
impactos numa ruga da terra. As
duas igrejas destacavam-se,
nítidas. A nova, à esquerda do
observador -- ainda incompleta,
tendo aprumadas as espessas e
altas paredes mestras, envolta de
andaimes e bailéus, mascarada
ainda de madeiramento confuso
de traves, vigas e baldrames, de
onde se alteavam as pernas
rígidas das cábreas com os
moitões oscilantes; erguida
dominadoramente sobre as
demais construções,
assoberbando a planície extensa;
e ampla, retangular, firmemente
assente sobre o solo, patenteando
nos largos muros grandes blocos
dispostos numa amarração
perfeita -- tinha, com efeito, a
feição completa de um baluarte
formidável. Mais humilde,
construída pelo molde comum das
capelas sertanejas enfrentava-a a
igreja velha. E mais para a
direita, dentro de uma cerca
tosca, salpintado de cruzes
pequenas e mal feitas -- sem um
canteiro, sem um arbusto, sem
uma flor -- aparecia um cemitério
de sepulturas rasas, uma tibicuera
triste."

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