domingo, 30 de setembro de 2018

30 de Setembro de 2009 - Estreia do documentário "Alô, Alô, Terezinha!"

Alô, Alô, Terezinha!" é um documentário dirigido por Nelson Hoineff e com roteiro baseado na vida do apresentador de programas de auditório no rádio e televisão brasileira, Abelardo Barbosa, mais conhecido pelo seu pseudônimo "Chacrinha". O documentário foi exibido, fora de competição, no Festival do Rio 2009 e na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Em 2009, o documentário levantou os prêmios de melhor filme do júri oficial, melhor filme do júri popular, melhor montagem e o Troféu Gilberto Freire. Também foi um dos indicados ao prêmio de melhor documentário do ano da Academia Brasileira de Cinema.
A obra acabou resultando na abertura de um processo contra a produtora Comalt, responsável pelo filme, uma vez que as ex-dançarinas se sentiram rotuladas como prostitutas. O diretor Nelson Hoineff, posteriormente, produziu ainda um minidocumentário intitulado "Chacretes", focando-se no cotidiano das dançarinas.
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- AS CHACRETES
No Brasil dos anos 50, ser bela, famosa, admirada e reconhecida não era privilégio exclusivo das participantes dos Concursos de Miss...
Os programas de auditório investiram na figura das assistentes de palco e dançarinas para dar graça e formosura entre os intervalos comerciais, ou para vender produtos anunciados dentro do próprio programa.
As primeiras dançarinas vestindo maiôs foram as ‘Tevezinhas”, que apareceram nos intervalos dos programas da TV Excelsior do Rio de Janeiro. Os outros canais imitaram a idéia, e a TV Tupi investiu nas “Garotas Tupi" e cada dia da semana era uma que aparecia. Com isso muitas moças enxergaram nestes trabalhos uma oportunidade de alcançar a fama e o sucesso, ou apenas para “aparecer" na televisão.
Um dos primeiros apresentadores a ter um séquito de moças vestindo colants cavados, com botas plataformas e uma coreografia das antigas vedetes de “teatro rebolado" foi Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Evolução natural das meigas “Tevezinhas”, as beldades da Excelsior passaram a se requebrar na abertura e no encerramento dos programas de Chacrinha, Moacyr Franco e César de Alencar. Na Hora da Buzina, porém, elas permaneciam discretamente ao fundo e marcavam o compasso com os pezinhos - sentadas!
Vestindo uniformes de futebol, aos poucos as dançarinas se levantaram, se soltaram e, já na TV Rio em 1967. ganharam o apelido de “Vitaminas”, sendo Addir Silveira uma das pioneiras. Quando chegaram com o Velho Guerreiro à TV Globo em 1970, a imprensa e o público já se referiam a elas como “Chacretes”.
As moças conhecidas como Chacretes carregavam consigo nome e apelido, como: Índia Potira, Estrela Dalva, Sandra Matera, Lia Hollywood, Fernanda Terremoto, Fátima Boa Viagem, Suely Pingo de Ouro, Gracinha Copacabana, Regina Pintinha, Gracinha Portelão, Lucinha Apache, Vera Furacão, Rita Cadilac entre outras.
Todas eternizadas entre as décadas de 1970 e 1980, ao saírem de cena, foram esquecidas ou devolvidas ao ostracismo: tomaram-se donas de casa, casaram-se, converteram-se a alguma religião, trabalharam em outras áreas profissionais fora da esfera artística televisiva.
O cineasta Nelson Hoineff depois de concluir o documentário “Alô, Alô, Terezinha" sobre Chacrinha, desdobrou sua pesquisa e realizou uma série para o Canal Brasil, intitulada “As Chacretes”. Nos depoimentos colhidos elas relembram os momentos que trabalharam no programa e falam das suas vidas depois de terem deixado a televisão. Ali. elas contam que caminho seguiram: índia Potira chegou a ser presa, Beth Boné tomou-se evangélica, celebra cultos pregando a “palavra do senhor" no rádio. Gracinha Copacabana mora sozinha rodeada de cachorros.
Rita Cadilac é uma exceção: fez carreira solo como cantora apresentando-se em boates, prisões e até no garimpo de Serra Pelada, gravou discos, pousou nua em revistas masculinas, participou de programas televisivos, fez filme pomô para comprar casa própria e sustentar sua família, e por último, ganhou um documentário no qual narra sua trajetória artística.
Entre os anos 1960 a 1980 ser Chacrete ou Bolete era sinônimo de prostituta, imoralidade ou o que viria a ser hoje a “garota de programa". Se Beth Boné admite em seu depoimento ter feito strip-tease em boates, a conclusão de que as Chacretes se prostituíam fica a critério do telespectador.
No entanto, as histórias vão de encontro à moralidade por trás de uma aparente liberalidade com o corpo e o sexo. Em seus depoimentos descortinam suas vidas constituída de altos e baixos, de diversões sexuais, do uso e abuso de um “dinheiro fácil'", de um trabalho inapropriado para “moças de família", da exposição do corpo nos melhores anos das suas vidas, uma vida desregrada e tortuosa que cedeu lugar ao ostracismo e declínio; em seguida veio à conscientização dos supostos erros, reflexão, admissão e mudança, eis a insígnia moral.
Como toda “história” — principalmente as contadas na televisão — depois de sacolejarem seus corpos para as câmeras televisivas, depois de serem vendidas e expostas como um produto, suas vidas tomam outro rumo, em nome do casamento, da família, do isolamento e recato moral pela resignação religiosa, estas “senhoras do bem" guardam algumas fotos, adereços e roupas daquela época. Mas tudo isso só pode ser retratado décadas mais tarde em televisão paga.
Na época, ao mesmo tempo que o apresentador era tido como paizinho, por trás de tamanho respeito propiciava-se a liberalidade do sexo e insinuava-se a prostituição; não se duvidava da Chacrete como “puta", designação que anteriormente Rita Cadilac as auto-define no documentário. Para a família moralista, as Chacretes contribuíram com o erotismo na família: apresentaram à dona de casa quem era a acompanhante ou amante do marido.
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FONTES:
- "Mulheres na Televisão" - Lúcia Soares da Silva (trecho de uma tese de doutorado para a PUC-SP: "Política e modulações do entretenimento televisivo: mulheres e denúncias" - 2011)
- Wikipedia
- IMDb

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