quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Enedina Alves Marques: a primeira engenheira negra do Brasil.

Enedina nasceu no dia 13 de janeiro de 1913, em Curitiba no Paraná. Filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, formou-se engenheira no ano de 1945, sendo a primeira mulher negra no Brasil a se formar em Engenharia e primeira mulher a ter essa graduação no estado do Paraná.
Filha de doméstica, foi criada na casa da família do delegado e major, Domingos Nascimento Sobrinho, para quem sua mãe (carinhosamente chamada dona Duca) trabalhava. Sempre foi tratada como parte da família. Enedina tinha a mesma idade da filha de Domingos e para que pudesse fazer companhia uma a outra ele a matriculou nos mesmos colégios e assim, foi alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza Dorfmund, entre 1925 e 1926.
Durante 1932 e 1935, Enedina passou a trabalhar como professora em cidades no interior do estado, como Rio Negro, São Mateus do Sul, Cerro Azul, Campo Largo.
Entre os anos de 1935 e 1937 ela retorna à capital para cursar no Novo Ateu, o Madureza – Curso intermediário, que era exigido na época para o magistério, equivalante nos dias de hoje a um supletivo ginasial. Nesse mesmo período, passa a morar com a família do construtor Mathias Caron, em Juvevê. Um amigo e parente da família, Jota Caron, é quem garante sua presença na casa da família. Mesmo não sendo formalmente empregada, Enedina pagava os préstimos de moradia com serviços domésticos. Os Caron se tornaram os novos benfeitores de Enedina.
Ainda em 1935, aluga uma casa na frente do Colégio Nossa Senhora Menina, no Juvevê, e monta classes seriadas de alfabetização. Em 1938, faz curso complementar em pré-Engenharia no Ginásio Paranaense, hoje Estadual do Paraná, no período noturno, enquanto estava na casa dos Caron.
Em 1940, ingressa na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná. De acordo com Jorge Santana, o valor da mensalidade equivaleria hoje a um salário mínimo. Em 1945, Enedina Alves Marques se gradua em Engenharia Civil na mesma instituição, tornando-se a primeira mulher engenheira do Paraná e a primeira engenheira negra do Brasil. A formatura se deu no Palácio Avenida, tendo como paraninfo o professor João Moreira Garcez. Antes dela, dois negros se formaram em Engenharia na instituição: Otávio Alencar (1918) e Nelson José da Rocha (1938).
Em 1946, Enedina foi exonerada da Escola da Linha de Tiro e tornou-se auxiliar de engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná. No ano seguinte foi deslocada para trabalhar no Departamento Estadual de Águas e Energia Elétrica, após ser descoberta pelo então governador Moisés Lupion.
Nesse período realiza o que para muitos foi seu maior feito como engenheira, a construção da Usina Capivari-Cachoeira. Também trabalha no Plano Hidrelétrico do estado, além de atuar no aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.
Estabelecida no governo e com carreira estruturada, entre os anos 1950 e 1960, Enedina dedicou-se a conhecer o mundo e outras culturas viajando. Nesse mesmo período em 1958, o major Domingos Nascimento Sobrinho faleceu, deixando-a como uma de suas beneficiárias no seu testamento.
Em 1962, aposentou-se pelo governo do estado e recebeu o reconhecimento do governador Ney Braga, que por decreto admitou os feitos de Enedina enquanto engenheira e lhe garante proventos equivalentes ao salário de um juiz.
Embora não tenha publicamente demonstrado interesse ou participação em nenhuma vertente de movimento em prol da igualdade racial, Enedina é um exemplo de mulher, negra, que alcançou seus objetivos e mostrou que poderia estar onde quis estar.
Em 1981, Enedina é encontrada morta no Edifício Lido, no Centro de Curitiba, vítima de ataque cardíaco. Morreu sem deixar descendentes.
No ano de 2000, foi imortalizada ao lado de outras 53 mulheres pioneiras do Brasil, pelo Memorial à Mulher, localizado na Praça do Soroptismismo, em Curitiba, no bairro Hugo Lange.
Em 2006, é fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá.
Texto: © Débora Cruz / Palmares Fundação Cultural / Revistas da UFPR

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