quinta-feira, 28 de junho de 2018

SUA MAJESTADE TÚPAC AMARU, POR GRAÇA DE DEUS, (QUASE) REI DA ARGENTINA

O povo da Era Imperial deve estar louco. Eu sempre aprendi que todas as colônias espanholas na América do Sul se tornaram repúblicas após a independência e somente o Brasil seguiu a contramão e se tornou monarquia. Não é isso? Bem, é sim, o Brasil foi a única monarquia sul-americana da era contemporânea (vejam bem: sul-americana e não latino-americana), mas por pouco não existiu também um Reino da Argentina por essas bandas no mundo.
Após a Revolução de Maio, a Argentina passou a ser regida por uma junta de governantes que convocou o Congresso de Tucumán, onde a independência da Espanha deveria ser formalmente declarada e uma constituição deveria ser escrita para reger o novo Estado. Durante as discussões, o influente general Manuel Belgrano apresentou o “Plano do Inca”.
Ele dizia que a Europa reconheceria mais facilmente o Estado Argentino independente se este adotasse uma forma de governo que se compatibilizasse àquelas do velho mundo, ou seja, a monarquia. As repúblicas eram vistas como subversivas naquele ambiente pós-Revolução Francesa. E ainda havia mais um fator: o romantismo.
Para ser Rei da Argentina, a proposta de Belgrano recaiu sobre Juan Bautista Túpac Amaru, um descendente direto da nobreza inca. Assim, a Argentina poderia reviver um período de glória passada, com o renascimento de um Império Inca simbolizado por uma nobreza local e histórica (e não importada da Europa). E até mais: a escolha de um descendente inca para o trono de um novo Estado sul-americano poderia angariar apoio do Peru e, quiçá, unificá-lo às Províncias Unidas do Rio da Prata para a formação de um extenso império.
Este plano foi apoiado até mesmo por José de San Martín e pela esmagadora maioria das províncias do norte, mas foi rejeitado pelos deputados vindos de Buenos Aires. Influentes e detentores de maior poder aquisitivo, estes deputados impuseram sua vontade republicana e a Argentina acabou se tornando uma república.

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