domingo, 26 de março de 2017

O primeiro "gueto" do mundo

O primeiro "gueto" do mundo
Há 500 anos, exatamente em 29 de março de 1516, o Senado da Sereníssima República de Veneza emitiu um decreto declarando que "os judeus deveriam viver todos juntos em uma área" longe de "corpore civitatis", o corpo da cidade.
O lugar escolhido para confinar e segregar os judeus foi o distrito de "Cannaregio", longe dos centros de poder. O seu nome se tornou sinônimo de segregação.
O judeus só poderiam sair da propriedade durante o dia apenas com um chapéu amarelo para distingui-los como judeus.
A partir da meia-noite até o amanhecer eles foram forçados a ficar trancados naquele perímetro, duas portas foram muito bem vigiadas por guardas cristãos que a própria comunidade judaica foi obrigada a pagar.
Na Idade Média tinham sido gradualmente expulsos da maior parte dos sindicatos e incapazes de possuir profissões imobiliárias. Assim, os habitantes do gueto ganhavam seu pão como vendedores de roupa usada, médicos e credores. A usura era proibida pela religião católica e rotulava os judeus como impuros.
O gueto de Veneza, atraiu muitos judeus em busca de um lugar seguro para viver. Na Verdade, durante o Renascimento até o séc. XVII, judeus vinham da Alemanha, Itália, Espanha, Portugal ou do Império Otomano ...
Os ponentinos (os judeus sefarditas que se converteram ao cristianismo para evitar a expulsão, mas continuaram a praticar a religião judaica em segredo, por isso eles foram perseguidos pela Inquisição) foram recebidos de 1589. Nesse período já haviam 5.000 judeus vivendo no gueto.
O gueto, apesar de todas as restrições que sofreu, teve uma vida cultural florescente. A prova é que veio obras intelectuais importantes, como de Leon Modena, Sara Sullam ou Simone Luzzatto.
O próprio Henrique VIII da Inglaterra se dirigiu aos estudiosos do gueto em busca de argumentos religiosos sobre como conseguir seu divórcio com Catarina de Aragão.
O primeiro Talmud (livro principal do judaísmo) na história foi impresso em Veneza em 1523. Um terço de todos os livros hebraicos impressos na Europa até 1650 estavam em Veneza.
Não confunda o gueto de Veneza com o de Varsóvia. O gueto de Veneza, segregavam os judeus, era um lugar de vida. O gueto de Varsóvia era um lugar de morte.
No gueto de Veneza os judeus viviam. Mas onde enterravam os mortos? Eles sepultavam seus entes queridos em um meio hectare de terra na ilha de Lido. Depois de muita controvérsia com alguns monges beneditinos que tinham um convento próximo, as autoridades venezianas determinaram que os judeus poderiam ter esse pedaço de terra para sepultar.
As autoridades permitiram construir uma cerca para proteger o local e evitar as numerosas profanações de túmulos que foram objeto de saques. Os judeus suportaram insultos e difamação quando transportavam seus mortos no barco para o cemitério de Lido especialmente quando o barco fúnebre passava sob a ponte de San Pietro di Castello.
E em 1688, a comunidade judaica pediu para que fosse aberto uma canal alternativo para que o gueto tivesse acesso até Lido. As autoridades concederam e o acesso ficou conhecido como " O canal dos judeus".
Tradução: © C.Wittel
Fonte: http://www.elmundo.es/…/2016/04/20/5717b1fee2704e3b4a8b4637…
© ARCHIVO HISTÓRICO DE VENECIA
Foto: Porta de entrada do gueto de Veneza. © PAOLA BALDARI

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