Em 677, as tropas do califa Yazid comemoravam quatro anos às portas
de Constantinopla. Repetidas vezes, os invasores tentavam quebrar as
defesas da cidade e, frustrados, atravessavam o Mar de Marmara para
recuperarem as forças na cidade ocupada de Cízico, a 13 km da capital.
Ainda que as muralhas resistissem, os árabes eram uma séria ameaça.
Os
bizantinos (ou romanos, como chamavam a si próprios, ainda que falassem
grego) resolveram tomar a iniciativa. Seus navios avançaram pelo mar
para interceptar a frota árabe. Seus dromons eram galeras parecidas com as trirremes da antiguidade, mas sem a capacidade de destruir navios a trombadas.
Normalmente,
esses barcos portavam catapultas e arqueiros. Foi com alguma surpresa
que os árabes os viram se aproximar cada vez mais, até poucos metros de
distância. Então, surgiu um barulho infernal, como um trovão, e uma
torrente de fogo saiu dos navios inimigos. O líquido incendiário era
pegajoso, impossível de tirar da madeira e das roupas. Jogar-se ao mar
não adiantava, porque ele também queimava sobre a água. A frota islâmica
foi aniquilada.
Assim estreou o fogo grego, um lança-chamas
medieval que atingia alvos a 15 metros e cujas chamas não eram extintas
por água. Era uma arma secreta: cada fase da produção do líquido e dos
lança-chamas ocorria separadamente, de forma que ninguém conhecesse o
processo inteiro. Mesmo povos que conseguiram capturar navios intactos,
com o combustível, não foram capazes de replicar a fórmula.
Historiadores
acreditam que a base fosse petróleo, com resinas vegetais e gordura
animal para tornar a mistura mais espessa, disparada de uma espécie de
panela de pressão ligada a uma bomba. Nunca replicado, o fogo grego
garantiu a sobrevivência do Império Romano do Oriente por quase oito
séculos, até ser confrontado com outra novidade ainda mais letal: os
canhões do Império Otomano.
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