A verdade mesmo é que a origem do Dia da Mentira confunde mais os
historiadores quanto as notícias falsas repassadas pelos parentes
desavisados em grupos do WhatsApp.
A versão mais difundida é de
que a origem é do fim do século 16, com a adoção do calendário
gregoriano na Europa. Instituído pelo papa Gregório XIII em 1582, ele
marcava o começo do ano em 1º de janeiro. Até então, como já era na em
Roma antiga, o ano começava em março.
No início, a mudança gerou confusão. Por teimosia ou desconhecimento,
muitos europeus continuaram brindando o novo ano na data antiga, e os
trotes de 1º de abril teriam como mote esse equívoco.
Antes de
Gregório, o calendário mais aceito era o juliano. Criado no ano 45 a.C.
por Júlio César (101 a.C.-44 a.C.), ele estabelecia que o início do ano
coincidia com o equinócio de primavera, entre 20 e 21 de março. Mas, na
Europa medieval, nem mesmo o calendário juliano era seguido por todos.
Muitas aldeias e paróquias celebravam o ano novo na festa da Anunciação,
em 25 de março. Outros esticavam o ano velho até 31 de março e só
comemoravam o réveillon em 1º de abril.
A
reforma do papa Gregório XIII terminou com a bagunça. Ou pelo menos
tentou. A Inglaterra, por exemplo, só adotou a nova folhinha em 1752.
Apesar de ter se antecipado ao papa e, por ordem do rei Carlos IX,
trocado de calendário já em 1564, a França só conseguiu impô-lo com a
Revolução Francesa, em 1789. Essa confusão de datas suscitou as
brincadeiras. Entre os trotes de abril, um dos mais populares era o
anúncio de casamentos falsos, marcados para o dia 1º. Arruaceiros também
pregavam cartazes com supostos éditos reais de conteúdo jocoso.
Outra
teoria para explicar o Dia dos Bobos defende que a data seria uma
antiga festa romana. “Em Roma já se pregavam trotes durante o equinócio
de primavera”, diz o historiador americano Joseph Boskin, professor da
Universidade de Boston. De acordo com ele, essas festas deram origem ao
Dia dos Bobos inglês (o April Fool’s Day), também comemorado no dia 1º.
“Os trotes de 1º de abril são anteriores à reforma do calendário por
Gregório”. Assim, a mudança talvez só tenha reforçado um dia de piadas
anterior.
Reforça essa teoria o fato de a referência mais
antiga conhecida ao Dia da Mentira estar nos Contos da Cantuária (1392)
do inglês Geoffrey Chaucer. No Conto da Freira do Padre, uma raposa
aparece enganando um galo no "32º dia desde que março começou" - isto é,
1º de abril. Ainda assim, isso é disputado. Alguns historiadores
acreditam que tenha havido um erro de transcrição e na verdade ele se
referia a 32 dias após março, isto é, 3 de maio.
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