quarta-feira, 1 de maio de 2019

A história das Polacas, prostitutas judias que se organizaram no Brasil para resistir à opressão das ruas e do submundo violento da prostituição nas grandes capitais brasileiras durante o Final do Século XIX e inicio do Século XX.

O Brasil é conhecido historicamente como um país formado por imigrantes. Ao longo do Século XIX, com o processo de unificação das Províncias e Estados autônomos Europeus em países, muitas famílias judaicas fugindo das perseguições antissemitas desembarcaram em terras tupiniquins. O número de Judeus em território nacional aumentou consideravelmente, inclusive os de origem Polonesa. Foi também nesse período que o país entrou na rota da prostituição internacional e cidades como São Paulo e Rio de Janeiro passaram a receber prostitutas judias, trazidas para cá através do tráfico internacional de mulheres protagonizado por uma grande organização criminosa polonesa.
Tal organização, de nome Zwi Migdal, adentrava em pequenas cidades pobres da Polônia e demais países do leste europeu e, a partir da promessa de casamento e trabalho, traficava mulheres para a América.
Na época, a prostituição nos grandes centros era uma atividade realizada por moças francesas, de países da America do sul e mulheres negras em situação de miserabilidade.
As prostitutas judias fizeram muito sucesso pois eram consideradas uma novidade, e segundo os proxenetas da época(cafetões) em suas propagandas, elas eram de boa família, boa moral e quase virgens.
Em pouco tempo as Polacas ficaram conhecidas. Mas isso não mudava suas condições de prostitutas marginalizadas.
Primeiro elas eram exploradas como escravas sexuais, mas após um tempo, eram expulsas das casas de prostituição e iam tentar a vida nos becos das ruas das grandes capitais.
Ligadas pela religião e forte moral judaica, as Polacas sofriam por não poder frequentar sinagogas, ler o Torah em público, ou ao menos ser enterradas no mesmo cemitério onde estavam outros judeus e judias. Pois para as normas religiosas, os suicidas e as prostitutas deviam ser enterrados junto ao muro, num lugar de exclusão, para demarcar uma condenação da religião a tais práticas.
Foi a partir dessas dificuldades que as Polacas passaram a se organizar em associações de ajuda mútua, que atuavam no Brasil e outras partes do mundo.
Através de uma instituição muito bem organizada e solidária, as prostitutas polacas contribuíam com dinheiro, trabalho e sabedoria para construir sinagogas, cemitérios(onde pudessem ser enterradas) e pagar até mesmo estudo para os filhos que tinham em decorrência do trabalho. Um dos cemitérios mais famosos construídos foi o espaço Judaico Chora Menino, localizado em São Paulo.
A história das Polacas é desconhecida de muitas pessoas, quase não se fala dela quando o assunto é imigração para o Brasil. Mas a existência dessas mulheres, que chegaram aqui como escravas sexuais e conseguiram se unir para sobreviver ao violento submundo da prostituição nas grandes capitais, é um dos capítulos mais interessantes da história de São Paulo.
Até a linguagem das ruas foi consideravelmente alterada por influência delas. Por exemplo:
Quando suspeitavam que um cliente tinha uma doença venérea, diziam "ein krenke" ("doença", em iídiche), que posteriormente se transformou em "encrenca" . "Sacana" em(iídiche significa "perigo"), palavra pronunciada quando a polícia chegava.
Texto - Joel Paviotti

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