O Brasil é conhecido historicamente como um país formado por
imigrantes. Ao longo do Século XIX, com o processo de unificação das
Províncias e Estados autônomos Europeus em países, muitas famílias
judaicas fugindo das perseguições antissemitas desembarcaram em terras
tupiniquins. O número de Judeus em território nacional aumentou
consideravelmente, inclusive os de origem Polonesa. Foi também nesse
período que o país entrou na rota da prostituição internacional e
cidades como São Paulo e Rio de Janeiro passaram a receber prostitutas
judias, trazidas para cá através do tráfico internacional de mulheres
protagonizado por uma grande organização criminosa polonesa.
Tal
organização, de nome Zwi Migdal, adentrava em pequenas cidades pobres da
Polônia e demais países do leste europeu e, a partir da promessa de
casamento e trabalho, traficava mulheres para a América.
Na
época, a prostituição nos grandes centros era uma atividade realizada
por moças francesas, de países da America do sul e mulheres negras em
situação de miserabilidade.
As prostitutas judias fizeram muito
sucesso pois eram consideradas uma novidade, e segundo os proxenetas da
época(cafetões) em suas propagandas, elas eram de boa família, boa moral
e quase virgens.
Em pouco tempo as Polacas ficaram conhecidas. Mas isso não mudava suas condições de prostitutas marginalizadas.
Primeiro elas eram exploradas como escravas sexuais, mas após um tempo,
eram expulsas das casas de prostituição e iam tentar a vida nos becos
das ruas das grandes capitais.
Ligadas pela religião e forte
moral judaica, as Polacas sofriam por não poder frequentar sinagogas,
ler o Torah em público, ou ao menos ser enterradas no mesmo cemitério
onde estavam outros judeus e judias. Pois para as normas religiosas, os
suicidas e as prostitutas deviam ser enterrados junto ao muro, num lugar
de exclusão, para demarcar uma condenação da religião a tais práticas.
Foi a partir dessas dificuldades que as Polacas passaram a se organizar
em associações de ajuda mútua, que atuavam no Brasil e outras partes
do mundo.
Através de uma instituição muito bem organizada e
solidária, as prostitutas polacas contribuíam com dinheiro, trabalho e
sabedoria para construir sinagogas, cemitérios(onde pudessem ser
enterradas) e pagar até mesmo estudo para os filhos que tinham em
decorrência do trabalho. Um dos cemitérios mais famosos construídos foi o
espaço Judaico Chora Menino, localizado em São Paulo.
A
história das Polacas é desconhecida de muitas pessoas, quase não se fala
dela quando o assunto é imigração para o Brasil. Mas a existência
dessas mulheres, que chegaram aqui como escravas sexuais e conseguiram
se unir para sobreviver ao violento submundo da prostituição nas grandes
capitais, é um dos capítulos mais interessantes da história de São
Paulo.
Até a linguagem das ruas foi consideravelmente alterada por influência delas. Por exemplo:
Quando suspeitavam que um cliente tinha uma doença venérea, diziam "ein
krenke" ("doença", em iídiche), que posteriormente se transformou em
"encrenca" . "Sacana" em(iídiche significa "perigo"), palavra
pronunciada quando a polícia chegava.
Texto - Joel Paviotti
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