A proibição dos jogos de azar no Brasil foi estabelecida pelo
presidente Eurico Gaspar Dutra sob o argumento de que o jogo é
degradante para o ser humano.
.....
Por que Dutra fizera aquilo?
A medida foi atribuída à pressão de sua mulher, a professora Carmela
Dutra, mais conhecida como dona Santinha. Católica até enquanto dormia,
dizia-se que ela bombardeava os ouvidos de Dutra com as pregações que
escutava dos padres. Nem o argumento de que os impostos do jogo
financiavam as obras sociais pelas quais ela, como primeira-dama, ficara
responsável a sensibilizava.
Mas, na verdade, o hidrófobo
inimigo do jogo junto a Dutra era seu ministro da Justiça, o provinciano
Carlos Luz, ex-vereador, delegado de polícia e inspetor escolar em
Leopoldina (MG), depois fundador do PSD e deputado constituinte por
Minas Gerais.
Para ele, o jogo era um câncer moral, que arruinava
os homens de bem e destroçava as famílias. Os grandes perdedores se
matavam — e, de fato, os jornais abriam páginas quando se dava um desses
suicídios. Carlos Luz assegurou a Dutra que, se quisesse tornar-se
imediatamente popular, era só fechar os cassinos.
Dutra queria ser
popular. Dois dias depois, saiu o decreto que arruinou o almoço de
Joaquim Rolla e estomagou seus concorrentes.
A pressão para o fim
do jogo vinha de longe. Em 1941, o general Candido Rondon já pregava a
transformação dos cassinos em hospitais...
Uma lei do Estado Novo
(1937-45) dispunha que, se um dia o jogo fosse proibido, o governo
federal pagaria uma indenização aos proprietários dos cassinos e
assumiria as dívidas trabalhistas para com os funcionários demitidos.
Mas, em 1946, acabáramos de ingressar na democracia, e Dutra,
subitamente esquecido de que fora um dos cardeais do regime deposto,
anunciou que não era responsável pelos compromissos do Estado Novo — e
não pagou a ninguém.
Pior: em decreto complementar, estabeleceu
que os ônus, encargos sociais e indenizações aos empregados despedidos
deveriam ser saldados pelos próprios banqueiros do jogo. Naturalmente,
estes contestaram e, depois de uma briga de anos, nada se decidiu. Rolla
e colegas conseguiram zerar suas dívidas bancárias e com os
fornecedores, mas a maioria de seus empregados nunca viu a cor do
dinheiro.
- Fonte: "A noite do meu bem: A história e as histórias do samba-canção", de Ruy Castro
.....
"Esse negocio de acabar com o jogo no Brasil foi uma coisa sem pé nem
cabeça. No mundo todo existe jogo... Aqui, inventam essas cafajestadas
do tipo raspadinha e outras jogatinas oficiais lamentáveis. E o jogo de
cassino, coisa elegante, que se pode perfeitamente regulam, que
incentiva o turismo e traz recursos, proíbem.
Quem gosta, precisa
ir jogar no exterior! Bastaria impor regras. Por exemplo, só joga quem
apresentar identidade; cadastra-se o frequentador, ele recebe um cartão
pessoal e intransferível - funcionário de banco não pode jogar; etc. A
proibição foi uma cretinice.
Lembro-me da inauguração do
Quitandinha em 1943. Bob Hope veio. Olhou aquela construção maravilhosa e
disse: 'Isso aqui é Las Vegas de white-tie'. "
- Jorginho Guinle, em seu livro "Um Século De Boa Vida"
.....
ANTIGA:
O apelido de Carmela Leite Dutra confirma. Dona Santinha, como
costumava ser chamada, era muito religiosa – e poderosa. Comenta-se que,
aliada à Igreja, ela fez um pedido ao marido: a proibição dos badalados
jogos de azar.
Como sua influência sobre Dutra era grande, o desejo foi atendido.
Esses lugares luxuosos, “antros do pecado” para dona Santinha, atraíam,
desde a década de 30, famosos e anônimos que queriam jogar, aparecer e
ver shows de grandes nomes, como Carmen Miranda e Orlando Silva.
Enquanto as mulheres exibiam seus vestidos caríssimos, os maridos
jogavam suas fortunas nas mesas de jogo.
Quando foram proibidos,
os cassinos eram mais de 70 no país, concentrados no Rio de Janeiro e em
hotéis do sul de Minas Gerais, onde Getúlio Vargas costumava se
hospedar. Havia quarenta mil trabalhadores na indústria de jogos. A
proibição teve um forte efeito econômico em cidades que viviam
principalmente do turismo ligado aos jogos, como Petrópolis, Poços de
Caldas, Lambari e outras.
A insistência da primeira-dama dona
Santinha ganhou a ajuda de uma série de reportagens de capa do jornal O
Globo em abril daquele ano, que, pela primeira vez, mostrou fotografias
de um cassino (o Atlântico, em Copacabana) funcionando. As fotos foram
feitas pelo fotógrafo Jean Manzon, de O Cruzeiro, mas o dono da revista,
Assis Chateubriand, recusou-se a publicá-las.
Manzon vendeu o
material ao jornal carioca, desvendando o “inferno do jogo”. Produziu um
escândalo tão grande quanto o que envolveu o ministro José Dirceu e seu
assessor Waldomiro Diniz em fevereiro, que, para muita gente, foi o
verdadeiro motivo encontrado pelo presidente Lula para fechar os bingos.
- Matéria de Julia Moióli
Nenhum comentário:
Postar um comentário