quarta-feira, 1 de maio de 2019

30 DE ABRIL DE 1946 - O presidente Gaspar Dutra proíbe o jogo no Brasil.

A proibição dos jogos de azar no Brasil foi estabelecida pelo presidente Eurico Gaspar Dutra sob o argumento de que o jogo é degradante para o ser humano.
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Por que Dutra fizera aquilo?
A medida foi atribuída à pressão de sua mulher, a professora Carmela Dutra, mais conhecida como dona Santinha. Católica até enquanto dormia, dizia-se que ela bombardeava os ouvidos de Dutra com as pregações que escutava dos padres. Nem o argumento de que os impostos do jogo financiavam as obras sociais pelas quais ela, como primeira-dama, ficara responsável a sensibilizava.
Mas, na verdade, o hidrófobo inimigo do jogo junto a Dutra era seu ministro da Justiça, o provinciano Carlos Luz, ex-vereador, delegado de polícia e inspetor escolar em Leopoldina (MG), depois fundador do PSD e deputado constituinte por Minas Gerais.
Para ele, o jogo era um câncer moral, que arruinava os homens de bem e destroçava as famílias. Os grandes perdedores se matavam — e, de fato, os jornais abriam páginas quando se dava um desses suicídios. Carlos Luz assegurou a Dutra que, se quisesse tornar-se imediatamente popular, era só fechar os cassinos.
Dutra queria ser popular. Dois dias depois, saiu o decreto que arruinou o almoço de Joaquim Rolla e estomagou seus concorrentes.
A pressão para o fim do jogo vinha de longe. Em 1941, o general Candido Rondon já pregava a transformação dos cassinos em hospitais...
Uma lei do Estado Novo (1937-45) dispunha que, se um dia o jogo fosse proibido, o governo federal pagaria uma indenização aos proprietários dos cassinos e assumiria as dívidas trabalhistas para com os funcionários demitidos. Mas, em 1946, acabáramos de ingressar na democracia, e Dutra, subitamente esquecido de que fora um dos cardeais do regime deposto, anunciou que não era responsável pelos compromissos do Estado Novo — e não pagou a ninguém.
Pior: em decreto complementar, estabeleceu que os ônus, encargos sociais e indenizações aos empregados despedidos deveriam ser saldados pelos próprios banqueiros do jogo. Naturalmente, estes contestaram e, depois de uma briga de anos, nada se decidiu. Rolla e colegas conseguiram zerar suas dívidas bancárias e com os fornecedores, mas a maioria de seus empregados nunca viu a cor do dinheiro.
- Fonte: "A noite do meu bem: A história e as histórias do samba-canção", de Ruy Castro
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"Esse negocio de acabar com o jogo no Brasil foi uma coisa sem pé nem cabeça. No mundo todo existe jogo... Aqui, inventam essas cafajestadas do tipo raspadinha e outras jogatinas oficiais lamentáveis. E o jogo de cassino, coisa elegante, que se pode perfeitamente regulam, que incentiva o turismo e traz recursos, proíbem.
Quem gosta, precisa ir jogar no exterior! Bastaria impor regras. Por exemplo, só joga quem apresentar identidade; cadastra-se o frequentador, ele recebe um cartão pessoal e intransferível - funcionário de banco não pode jogar; etc. A proibição foi uma cretinice.
Lembro-me da inauguração do Quitandinha em 1943. Bob Hope veio. Olhou aquela construção maravilhosa e disse: 'Isso aqui é Las Vegas de white-tie'. "
- Jorginho Guinle, em seu livro "Um Século De Boa Vida"
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ANTIGA:
O apelido de Carmela Leite Dutra confirma. Dona Santinha, como costumava ser chamada, era muito religiosa – e poderosa. Comenta-se que, aliada à Igreja, ela fez um pedido ao marido: a proibição dos badalados jogos de azar.
Como sua influência sobre Dutra era grande, o desejo foi atendido.
Esses lugares luxuosos, “antros do pecado” para dona Santinha, atraíam, desde a década de 30, famosos e anônimos que queriam jogar, aparecer e ver shows de grandes nomes, como Carmen Miranda e Orlando Silva. Enquanto as mulheres exibiam seus vestidos caríssimos, os maridos jogavam suas fortunas nas mesas de jogo.
Quando foram proibidos, os cassinos eram mais de 70 no país, concentrados no Rio de Janeiro e em hotéis do sul de Minas Gerais, onde Getúlio Vargas costumava se hospedar. Havia quarenta mil trabalhadores na indústria de jogos. A proibição teve um forte efeito econômico em cidades que viviam principalmente do turismo ligado aos jogos, como Petrópolis, Poços de Caldas, Lambari e outras.
A insistência da primeira-dama dona Santinha ganhou a ajuda de uma série de reportagens de capa do jornal O Globo em abril daquele ano, que, pela primeira vez, mostrou fotografias de um cassino (o Atlântico, em Copacabana) funcionando. As fotos foram feitas pelo fotógrafo Jean Manzon, de O Cruzeiro, mas o dono da revista, Assis Chateubriand, recusou-se a publicá-las.
Manzon vendeu o material ao jornal carioca, desvendando o “inferno do jogo”. Produziu um escândalo tão grande quanto o que envolveu o ministro José Dirceu e seu assessor Waldomiro Diniz em fevereiro, que, para muita gente, foi o verdadeiro motivo encontrado pelo presidente Lula para fechar os bingos.
- Matéria de Julia Moióli

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