Crato. Madrugada de 28 de julho de 1938. O sol ainda não tinha nascido. O
grupo de cangaceiros, tendo à frente Virgulino Ferreira, o Lampião, e
sua mulher, Maria Bonita, tinha acabado de rezar o ofício de Nossa
Senhora e se preparava para tomar o primeiro café-da-manhã, quando os
estampidos de rifles e metralhadoras quebraram o silêncio da madrugada e
a tranquilidade da Grota do Angico, no Estado de Sergipe, onde os
cangaceiros estavam escondidos.
“De repente, o refúgio virou um inferno”, descreveu o cangaceiro “Sereno”, um dos sobreviventes da tragédia.
Depois de 15 minutos de tiroteio, 11 cangaceiros estavam mortos:
Lampião, Maria Bonita, Luiz Pedro, Quinta-feira, Elétrico, Mergulhão,
Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete e Macela. Dos 35 cangaceiros que
estavam acampados, 24 fugiram.
Virgulino Ferreira da Silva, vulgo
Lampião, 40 anos, foi abatido com três tiros: um na cabeça, um no peito
esquerdo, outro no abdômen. Maria Bonita, sua mulher, foi baleada e
morta a facadas enquanto implorava pela vida.
O soldado Adrião Pedro
de Souza, o grande herói esquecido do combate de Angicos, completava a
dúzia de vítimas. Dois outros cangaceiros gravemente feridos morreriam
dois dias depois na fazenda de um coiteiro — nome dado a quem acolhia os
cangaceiros —, que ficava nas proximidades.
No dia seguinte, os
jornais de todo o País, e até do exterior, estamparam a sensacional
notícia nas suas primeiras páginas. A do New York Times dizia: “Foi
morto Lampião cego de um olho, um dos mais temíveis bandidos do mundo
ocidental!”. Terminava a incrível história de um menino que nasceu no
Sítio Passagem de Pedras, a 42 quilômetros de Serra Talhada, em
Pernambuco. Era o fim do cangaço.
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Matéria de Antônio Vicelmo, para o Diário do Nordeste
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