quinta-feira, 10 de maio de 2018

Conheça o Homo naledi – o mais novo hominídeo pré-histórico

Encontrar fósseis de seres humanos pré-históricos é algo muito, muito raro na arqueologia. Tão raro que, alguns dias atrás, pesquisadores alemães chocaram o mundo da ciência ao anunciar que tinham desistido de encontrar esqueletos. Eles desenvolveram uma técnica capaz de extrair resquícios microscópicos de DNA hominídeo do próprio solo das cavernas que um dia foram casa de nossos primos primatas. E pretendem tocar a pesquisa assim, sem crânio, osso nem documento – entenda aqui como a façanha é possível.
É por isso que cientistas vão à loucura quando um esqueleto completo finalmente é encontrado. E podem morrer do coração quando um sítio arqueológico é generoso e preserva para a eternidade os restos mortais de 15 indivíduos.
Foi isso que aconteceu a 50 km de Joanesburgo, maior cidade da África do Sul, em 2015. Um conjunto de cavernas com centenas de quilômetros quadrados de área, repleto de salas e câmaras, escondia 1500 ossos e dentes aleatórios de uma nova espécie chamada Homo naledi – membro, até então desconhecido, da árvore genealógica do próprio ser humano.
Hoje, terça-feira, saiu o balanço final da exploração do local. O inventário inclui 130 ossos além dos que já tinham sido analisados. Entre eles, o primeiro crânio de Homo naledi já encontrado. Seu dono foi batizado de “Neo”, pesava 4o kg e tinha 1,4 m de altura.
Além de Neo, 17 indivíduos, mais ou menos completos, puderam ser parcialmente reconstituídos – e estão revelando detalhes surpreendentes sobre como foi a convivência dos primeiros Homo sapiens com hominídeos que hoje estão extintos.
A primeira surpresa foi a idade desses fósseis, que têm entre 335 mil e 236 mil anos cada um. O formato dos ossos das pernas, pés, mãos e punhos já eram quase idênticos aos dos seres humanos. Mas eles têm outras características que parecem evolutivamente “atrasadas”: um cérebro pequeno e dedos bem preparados para subir em árvores. Isso quer dizer que, no período histórico em que os Homo naledis e os Homo sapiens foram contemporâneos, há uns 330 mil anos, nosso cérebro já estava em um estágio evolutivo bem mais avançado que o deles.

Esse fato ajuda a ilustrar uma das maiores confusões quando se trata de evolução. O homem não veio do macaco, porque as espécies não se transformam uma na outra em fila indiana.
De acordo com Jessica Thompson, arqueóloga da Universidade Emory entrevistada pelo jornal britânico The Guardian, a descoberta destaca que, em vez de uma linha sucessória,  a evolução é um processo cheio de ramificações, a depender dos desafios que cada espécie enfrenta em diferentes habitats “Não começa com um macaco, que depois vira um chimpanzé, que depois se torna algo próximo de um ser humano e aí, do nada, surgem as pessoas. É muito mais complicado do que isso”. É só por isso que duas espécies aparentadas, vivendo no mesmo período, podem ter características semelhantes e profundamente diferentes ao mesmo tempo.

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