terça-feira, 7 de março de 2017

Com D. Pedro II salvou o telefone Ninguém queria saber de Graham Bell antes dele aparecer

É quase folclórica a história de como nosso bonachão imperador se aproximou do estande de Alexander Graham Bell, testou um aparelho e exclamou “Meu Deus, isto fala!”. O que pouca gente sabe é que isso foi uma imensa mão para o inventor. Era a Exibição Internacional Centenária, na Filadélfia, em 1876, e o telefone estava concorrendo, entre outras coisas, com a lâmpada elétrica, um telégrafo musical, a máquina de escrever e o ketchup Heinz.
Ninguém tinha ouvido falar de Bell, e seu estande acumulava poeira. Ninguém com exceção de dom Pedro, que o cumprimentou efusivamente, em bom inglês. Dias antes, ele havia atendido a uma aula sua na Universidade de Boston. O brasileiro teve a honra de ligar o motor a vapor que provia eletricidade para a exposição - o que dá uma ideia de seu prestígio. O que fez tirou Bell da sombra.
Com a amizade, menos de um ano depois, o Brasil se tornaria o segundo país do mundo a ter telefone, primeiro ligando a residência imperial às dos ministros de Estado. O elegante aparelho do imperador, cuja réplica está no Museu das Telecomunicações do Rio de Janeiro, era bem diferente do que se entende por telefone hoje. E nem era um só. Em 1878, não haviam nem inventado a telefonista ainda, muito menos o disco. As linhas eram instaladas de ponto a ponto, e um aparelho se comunicava apenas e diretamente com outro. Assim, o imperador tinha um aparelho para cada ministro. O telefone tinha uma grande bateria para as ligações, mas isso não provinha energia suficiente para a campainha – por isso havia uma manivela conectada a um magneto, que acionava o sino do outro lado.
E esse aparelho primitivo já era uma grande evolução em relação ao que dom Pedro havia visto nos Estados Unidos. Os primeiros telefones comerciais, que não chegaram ao Brasil, eram só uma caixa com uma única saída, que servia tanto de fone quanto microfone. O usuário gritava no buraco e punha o ouvido depois, para ouvir a resposta. Também não tinha campainha – o grito era o “toque de chamada”.
A central telefônica – e as telefonistas – chegaria em 1879, permitindo com que se falasse com qualquer outro aparelho. A ideia de passar o emprego às mulheres também havia surgido nos primeiros meses da telefonia – telegrafistas homens, com experiência, foram contratados primeiro. Mas, como estavam acostumados a só se comunicar por escrito, eram informais demais, usavam linguajar impróprio e faziam piadinhas.

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