É quase folclórica a história de como nosso bonachão
imperador se aproximou do estande de Alexander Graham Bell, testou um aparelho
e exclamou “Meu Deus, isto fala!”. O que pouca gente sabe é que isso foi uma
imensa mão para o inventor. Era a Exibição Internacional Centenária, na
Filadélfia, em 1876, e o telefone estava concorrendo, entre outras coisas, com
a lâmpada elétrica, um telégrafo musical, a máquina de escrever e o ketchup
Heinz.
Ninguém tinha ouvido falar de Bell, e seu estande acumulava
poeira. Ninguém com exceção de dom Pedro, que o cumprimentou efusivamente, em bom
inglês. Dias antes, ele havia atendido a uma aula sua na Universidade de
Boston. O brasileiro teve a honra de ligar o motor a vapor que provia
eletricidade para a exposição - o que dá uma ideia de seu prestígio. O que fez tirou Bell da sombra.
Com a amizade, menos de um ano depois, o Brasil se tornaria
o segundo país do mundo a ter telefone, primeiro ligando a residência imperial
às dos ministros de Estado. O elegante aparelho do imperador, cuja réplica está
no Museu das Telecomunicações do Rio de Janeiro, era bem diferente do que se entende
por telefone hoje. E nem era um só. Em 1878, não haviam nem inventado a
telefonista ainda, muito menos o disco. As linhas eram instaladas de ponto a
ponto, e um aparelho se comunicava apenas e diretamente com outro. Assim, o
imperador tinha um aparelho para cada ministro. O telefone tinha uma grande
bateria para as ligações, mas isso não provinha energia suficiente para a
campainha – por isso havia uma manivela conectada a um magneto, que acionava o
sino do outro lado.
E esse aparelho primitivo já era uma grande evolução em
relação ao que dom Pedro havia visto nos Estados Unidos. Os primeiros telefones
comerciais, que não chegaram ao Brasil, eram só uma caixa com uma única saída,
que servia tanto de fone quanto microfone. O usuário gritava no buraco e punha
o ouvido depois, para ouvir a resposta. Também não tinha campainha – o grito
era o “toque de chamada”.
A
central telefônica – e as telefonistas – chegaria em 1879, permitindo com que
se falasse com qualquer outro aparelho. A ideia de passar o emprego às mulheres
também havia surgido nos primeiros meses da telefonia – telegrafistas homens,
com experiência, foram contratados primeiro. Mas, como estavam acostumados a só
se comunicar por escrito, eram informais demais, usavam linguajar impróprio e faziam
piadinhas.
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