Guerra de Canudos foi uma série de conflitos armados envolvendo o Exército brasileiro e sertanejos que seguiam o líder religioso Antônio Conselheiro, tendo ocorrido entre 1896 e 1897, no Arraial de Canudos, interior do estado da Bahia. O Brasil passava ainda pela transição para o sistema republicano, tendo acabado de eleger seu primeiro presidente por voto direto e, também, o primeiro presidente civil: Prudente de Morais.
Esses conflitos marcaram fortemente o início do período republicano, tanto pelo grau de violência quanto pelos motivos que teriam justificado a destruição do arraial e a execução de aproximadamente 25 mil pessoas que ali viviam.
Resumo sobre Guerra de Canudos
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A Guerra de Canudos (1896-1897) foi um dos principais conflitos do período de transição para o sistema republicano, ocorreu no arraial de Canudos e envolveu o Exército contra Antonio Conselheiro e seus seguidores.
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Os motivos que teriam levado à guerra ainda são objetos de discussão, havendo duas teses principais: a Euclidiana, interpretando Canudos como um foco de restauração monárquica; e a de Rui Facó, marxista, tendo como epicentro a luta pela abolição dos latifúndios, pelo direito à terra e contra a opressão.
Principais causas da Guerra de Canudos
Existem, pelo menos, duas grandes vertentes que tentaram, e ainda tentam, explicar o que foi a Guerra de Canudos.
Baseada na monumental obra Os sertões, de Euclides da Cunha, publicada em 1902 após o autor acompanhar a “última expedição” a Canudos, a vertente “euclidiana” faz uso de leituras sociológicas características do final do século XIX. Por exemplo: o positivismo, de Hippolyte Taine, que buscava compreender as relações sociais com base em determinismos raciais, geográficos e históricos; e também o darwinismo social, de Herbert Spencer, opondo categorias dicotômicas, como “civilização” e “barbárie”.
Outros autores importantes da época e que também foram influências para Euclides da Cunha são: Karl Marx, Émile Durkheim, Auguste Comte, entre outros que foram fundamentais para o desenvolvimento da sociologia.
Uma das teses propagandeadas pelo governo republicano, com a qual Euclides da Cunha partiu rumo a Canudos, refere-se ao conflito como um embate entre um foco de restauração monárquica, representado por Antônio Conselheiro e seus seguidores, e o Exército brasileiro, incumbido de combater os revoltosos.
Contudo, após voltar da guerra, Euclides da Cunha deu lugar a questões sociológicas complexas, com base nas referências teóricas do período, destacando um “raro caso de atavismo” em Antônio Conselheiro e diagnosticando — no ambiente, na miséria ali encontrada e na mestiçagem daquela população vítima do massacre — explicações para aquela situação. Existia também uma dicotomia entre o litoral brasileiro, desenvolvido e “civilizado”, e o interior do Brasil, onde a “barbárie” reinava. Com base em suas observações, Euclides da Cunha questiona esses modelos defendendo a barbárie como elemento comum a ambas localidades, porém com características diferentes.No final dos anos de 1950, uma outra tese surge a partir dos artigos publicados de Rui Facó, reunidos no livro Cangaceiros e fanáticos. De perspectiva marxista, as teses de Facó buscavam uma interpretação definitiva de Canudos, associando a Guerra de Canudos à luta pela abolição dos latifúndios, pelo direito à terra e contra a opressão (representada pelos militares e a elite cafeeira da época).
Nesse sentido, o movimento de Canudos passa a ser visto, portanto, sob aspectos positivos, uma vez que representa um capítulo importante na história da luta pela terra no Brasil. Essas teses são mencionadas em algumas bibliografias como “progressistas” e antagonizam com as teses “euclidianas”.
Contudo, nos anos de 1990, a historiografia brasileira começou a revisitar o conflito na tentativa de buscar subsídios que pudessem corroborar ou não com essas teses apresentadas sobre Canudos. Com a dificuldade de encontrar fontes confiáveis e elementos que pudessem sustentar tais assertivas, o conflito acabou ganhando contornos menos idealizados sem, ao mesmo tempo, deixar de destacar os absurdos cometidos contra a população que vivia no arraial. Esse momento, inclusive, é considerado um dos maiores massacres já cometidos pelo Exército brasileiro em território nacional na história do Brasil.
Estopim da Guerra de Canudos
Já no final do ano de 1895, o próprio Antônio Conselheiro comprou uma certa quantidade de madeira em Juazeiro para o término da construção de uma nova e maior igreja no arraial. No entanto, apesar de terem recebido o dinheiro da compra, os comerciantes locais não entregaram a encomenda conforme planejado. Isso teria provocado a ira dos moradores do arraial, que, por sua vez, teriam ameaçado “assaltar” Juazeiro.
Vale ressaltar que, conforme a historiadora Jacqueline Hermann aponta em seus trabalhos sobre o tema, não existem documentações seguras que possam sustentar o que de fato ocorreu. Não obstante, esse tom de ameaça, provavelmente, deu início às campanhas militares contra o arraial de Canudos, as quais começaram em novembro de 18.
Participantes do movimento
Para compreender o movimento de Canudos, é importante situá-lo dentro do fenômeno dos movimentos messiânicos, sobretudo do sebastianismo e sua influência no Brasil. Em 1578, o rei de Portugal D. Sebastião teria desaparecido na Batalha de Alcácer-Quibir, no norte do Marrocos.
A sua volta transformou-se em uma crença messiânica, em que o rei voltaria e libertaria os portugueses da difícil situação que estavam passando naquele momento. Antônio Conselheiro chegou a citar o rei D. Sebastião em seus discursos, mostrando a força que a crença em seu retorno despertava no imaginário luso-brasileiro.
No final do século XIX, o interior do Brasil era marcado pelo alto grau de abandono, sobretudo onde a seca atingia populações inteiras. Vale lembrar que a escravidão foi abolida em 1889, ou seja, não se havia completado cinco anos quando, em 1893, Antonio Conselheiro e seus seguidores instalaram-se em uma estéril e abandonada fazenda conhecida como Belo Monte.
As primeiras notícias do beato Conselheiro datam de 1874, no jornal O rabudo, de Sergipe, onde era referido como Antônio dos Mares. Ele vagava pelos sertões construindo cemitérios, igrejas e capelas, proferindo profecias e descontentamentos com questões políticas em discussão naquele período, como o casamento civil, além de conselhos. Dessa última prática viria a alcunha que lhe tornaria conhecido. Além disso, seus discursos sempre eram marcados pelo forte teor religioso.
Com isso, atraiu uma multidão de admiradores desvalidos que passaram a segui-lo até o arraial de Canudos, formando a comunidade que foi praticamente dizimada anos depois pelo Exército brasileiro.
Antônio Conselheiro
Antônio Vicente Mendes Maciel nasceu em 1828, na cidade de Quixeramobim, na então província do Ceará. Filho de comerciante, chegou a estudar português, francês e latim, tendo assumido os negócios da família após a morte de seu pai. Algumas fontes citam que ele teria lecionado português, geografia e aritmética, e que, depois, teria virado caixeiro viajante, casando-se em 1857.
Segundo relatos da época, suas peregrinações começaram após a fuga de sua mulher com um militar. Movido pela vergonha e promessa de vingança, suas andanças teriam então começado pelos sertões do Sergipe. Dando conselhos, restaurando igrejas, construindo outras, levantando capelas e proferindo profecias, tornou-se o beato de uma massa de sertanejos que passou a segui-lo e a defendê-lo.
Em 1877, foi acusado de matar a mulher e a mãe e foi preso, mas logo foi solto pela falta de evidências. Assim, continuou suas peregrinações até, em 1893, junto a uma legião de seguidores, fixar-se na abandonada fazenda de Belo Monte, onde foi construído o arraial de Canudos.
Com o passar do tempo, em 1895, Canudos passou a comportar aproximadamente 25 mil pessoas, até a eclosão dos conflitos no ano seguinte. Após sucessivas batalhas, antes mesmo da capitulação completa do Arraial pelas tropas militares, Antônio Conselheiro morre, em 22 de setembro de 1897, de causas desconhecidas, e seu corpo é encontrado no dia seguinte pelas tropas militares.
Destruição de Canudos
A Guerra de Canudos é dividida em quatro expedições militares, sendo que apenas uma delas, a última, foi vencedora. Foi também na última expedição militar que Euclides da Cunha esteve presente e produziu suas anotações que, em 1902, foram publicadas na obra Os sertões.
Sob rumores de que uma “restauração monarquista” ameaçava a já conturbada transição da República brasileira, no dia 12 de novembro de 1896, o tenente Pires Ferreira, liderando uma tropa com pouco mais de 100 praças e três oficiais, parte de Juazeiro rumo ao arraial de Canudos. No entanto, nove dias depois, a expedição é atacada de surpresa pelas forças conselheiristas. Sete praças e dois civis morreram nesse primeiro embate. Essa notícia provocou uma certa crise política entre civis e militares que só veio a agravar-se nas expedições seguintes.
Os primeiros enfrentamentos só foram ocorrer em 18 de janeiro de 1897, tendo as forças do Arraial, novamente, debelado a campanha militar, que, dessa vez, registrou a baixa de 10 praças. As notícias dessas derrotas chegavam ao Rio de Janeiro, capital na época, como uma derrota da República, em um já conturbado momento político que tinha Prudente de Morais, o primeiro presidente eleito por voto direito e civil da República brasileira.
É então que o coronel Moreira César, veterano da Revolta da Armada, é convocado para “resolver o problema”, que, naquela altura, havia se agravado demais. Ele reuniu então aproximadamente 1300 homens (entre grupos de artilharia, cavalaria, infantaria) e um comboio de cargueiro para munição.
No dia 6 de fevereiro de 1897, as tropas chegam a Salvador, e, no dia 18, estabeleceram-se em Monte Santo, ao lado de Canudos, de onde partiria o ataque planejado. Tentando pegar os conselheiristas de surpresa, o coronel Moreira César teria antecipado o ataque que, dessa vez, bombardeou o povoado, incendiou casas, além de ter atacado a igreja local.
Contudo, o próprio coronel foi ferido em 3 de março, tendo morrido no dia seguinte. Outro comandante também foi morto, ao lado das baixas de mais 13 oficiais e mais de uma centena de praças. Os combatentes de Canudos ainda aproveitaram as artilharias deixadas pelas tropas, reforçando ainda mais as forças conselheiristas.
Os embates entre lideranças civis e militares, que já vinham de antes, agravavam-se cada vez mais. Antônio Conselheiro e seus seguidores passaram a figurar como a maior ameaça à recente e já fragilizada República do Brasil.
É quand
Todos os combatentes foram degolados, além de outras atrocidades envolvendo mulheres e crianças. Ao mesmo tempo que as forças conselheiristas foram derrotadas, não se encontrou nada que pudesse comprovar as teorias conspiratórias que teriam justificado a investida contra o arraial.
Era preciso justificar, então, todo aquele esforço e aquelas mortes patrocinadas pela República. Euclides da Cunha, com a sua obra já mencionada, contribuiu ainda mais para os questionamentos posteriores sobre as motivações da destruição de Canudos. Nisso, os militares e os seus projetos para a República, em crise com os civis, foram, também, ao final da quarta e última expedição, derrotados.
o, do Rio de Janeiro, o general Artur Oscar começa a preparar uma força militar que contou com cerca de 10 mil militares. Após vários assaltos, que receberam reforços de vários batalhões em agosto, Canudos é tomado pelos militares em 5 de outubro de 1897. Publicado por Túlio Queiroz
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