Parabéns pelo centenário de vida do querido , Seu Alírio . Quem nunca comprou um sapato na sua sapataria? Fez parte da infância e juventude de muitos Filhos de Serra Branca. Parabéns aos familiares também. Feliz aniversário
Você, como quase todos nós, deve ter aprendido que o inventor do
rádio foi um italiano chamado Guglielmo Marconi. Mas provavelmente nunca
ouviu falar de Roberto Landell de Moura, o padre brasileiro responsável
por fazer em 1894 (dois anos antes de Marconi) uma experiência
pioneira de radiodifusão – mas que acabou menosprezado pelos registros
históricos. Nascido em Porto Alegre e
educado em Roma, Landell foi a São Paulo exibir seu invento ao público –
e tentar arrumar um patrocinador. Ele transmitiu a voz humana por 8
quilômetros em linha reta, da avenida Paulista até o Alto de Santana, na
zona norte da cidade. (Detalhe: o rádio inventado por Marconi só
transmitia sinais telegráficos.) Ainda assim, o sucesso do experimento
não se converteu em muito dinheiro. Em 1900, Landell repetiu o
experimento – agora na presença de jornalistas e de um representante do
governo britânico. A notícia repercutiu, mas não do jeito que ele
planejara: alguns religiosos se indignaram quando souberam que um padre
estava fazendo “bruxarias”. Dois dias depois da demonstração, meia dúzia
de fiéis invadiu o modesto laboratório do religioso para quebrar todos
os seus aparelhos. No ano seguinte, o padre foi tentar a sorte nos
EUA, onde impressionou a comunidade científica. Eis que o esperado
dinheiro parecia estar chegando: empresários americanos ofereceram uma
fortuna a Landell. Só que, patriota ferrenho, ele a recusou. O padre
acreditava que as invenções pertenciam ao Brasil. Ele conseguiu
patentear suas invenções em 1904. Tarde demais: Marconi já o havia feito
em 1896. Ao voltar para o Brasil, Landell tentou mais uma vez
convencer o governo a financiá-lo. Seu plano incluía uma demonstração
envolvendo dois navios da Marinha. Ao ser perguntado sobre a distância
que os navios deveriam ficar um do outro, o padre perdeu uma incrível
chance de ficar calado. Sua resposta foi: “Coloquem-nos na maior
distância possível, pois esse invento um dia permitirá até conversas
interplanetárias!” Foi o suficiente para ser taxado de louco por querer
falar com ETs. Desiludido com a falta de apoio, acabou abandonando a
ciência e dedicando-se exclusivamente à vida religiosa.
Há cem anos, nascia, na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba, o cantor
e compositor, José Gomes Filho, mais conhecido como Jackson do
Pandeiro.
Assim como o saudoso Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro
foi uma figura fundamental para a popularização da música nordestina em
todo o Brasil.
Na Paraíba, várias atividades culturais estão previstas para este ano, em comemoração ao centenário do artista.
Nada mais justo quando falamos de alguém que tanto contribuiu para enriquecer a música e a cultura de nosso país.
Salve o inesquecível Jackson do Pandeiro!
E. sente que sua hora chegou. Mas os SS têm para ela não a morte
imediata, mas uma proposta. É um trabalho leve, de meras duas horas por
dia. Receberia uma ração extra e alojamento aquecido. Depois de seis
meses, seria libertada.
Era uma proposta que não podia ser
recusada. Quando ela é encaminhada para o banho, é só um banho mesmo.
Sem demoras, segue-se o exame médico. Um ginecologista testa, apalpa,
observa e faz perguntas sobre sua saúde, todas concentradas em sua vida
sexual. Depois diz que precisa passar por uma pequena cirurgia. Que
exige, porém, anestesia geral. No dia seguinte, Eva acorda com pontos no
abdômen.
Ao ter alta, é apresentada a seu alojamento. No lugar de
um uniforme, ganha um vestido e roupas de baixo. Coisa cara, tomada de
uma vítima mais rica. E, de fato, o lugar é muito mais decente que os
beliches infestados de percevejos aos quais estava acostumada. Recebe
também um café da manhã. E é a mesma ração dada aos guardas. São quase
20h, hora do expediente. “Fique quieta, faça o trabalho, e nada de ruim
vai acontecer”, é instruída.
Finalmente
ela é conduzida ao local de trabalho. Um quarto. Antes que possa
terminar de ligar os pontos, um homem adentra. É um prisioneiro como
ela. Alemão, como ela. Um dos “triângulos verdes”, bandidos comuns
usados pelos nazistas como força de repressão. Ouve, por trás das
paredes, carrascos da SS dando risadinhas. E nota que há buracos nas
paredes. Eles seriam observados.
A escolha era trabalhar ou tomar
uma surra e ir parar na câmara de gás. Sete outros a visitam naquela
noite. E assim passaria a ser por três dias por semana mais as tardes de
domingo. Até dez homens por dia.
Todos os dias, Frau E. podia ver
pela janela a entrada do campo, logo em frente ao prostíbulo. Mas a
promessa de libertação nunca seria cumprida. Algumas ganhariam trabalhos
administrativos. Outras voltariam para o lugar de onde vieram. E havia
também as destinadas a Auschwitz II — Birkenau, a seção de extermínio. Eterno tabu
A
história aqui contada é uma composição de diversos testemunhos, a
grande maioria deles fragmentários ou dados não por quem viveu, mas por
quem ouviu falar ou conversou com elas. Particularmente a descrição
geral que Iga Bunalska, do Grupo de Estudos de Auschwitz, publicou num
trabalho recente.
Não aconteceu apenas em Auschwitz I. Foram dez deles, como em Sachsenhausen, Dachau
e Monowitz (também conhecido por Auschwitz III; um campo separado, a
vários quilômetros do mais famoso. Em todos, menos Auschwitz, as
prisioneiras vinham do campo feminino de Ravensbrück, de onde não só
eram mandadas para bordéis em campos de extermínio como para instalações
do Exército.
Numa estimativa citada por Insa Eschebach, diretora
do Centro Ravensbrück, foram no mínimo 200 delas. Vinte e uma das quais
trabalhavam no Bloco 24 de Auschwitz. Prisioneiras em Ravensbrück / Crédito: Reprodução/ Museu do memorial do Holocausto dos EUA“Quando
falamos nos bordéis, não há quase nenhuma fonte existente sobre o
assunto”, afirma a historiadora. “Parece que o assunto ainda é um tabu.
Depois da guerra, as pessoas fingiram que esse tema não existiu.”
Além
do profundo trauma pessoal, há um estigma da velha moral sexual. Várias
das mulheres forçadas à prostituição, usando o triângulo preto, haviam
sido presas por se prostituírem.
“É uma ironia que, enquanto os
nazistas tentavam restringir a prostituição nas cidades alemãs, eles a
institucionalizaram nos campos”, afirmou o historiador alemão Robert
Sommers, autor de Das KZ Bordell (O Bordel do Campo de Concentração), em
entrevista à Reuters.
Também havia o risco bem real de serem
vistas como colaboradoras — e as diversas cenas de ex-amantes dos
oficiais nazistas arrastadas pelas ruas e tendo os cabelos raspados pela
multidão enfurecida, na liberação, mostram que, absolutamente, essa não
era uma preocupação infundada.
O estigma já existia enquanto os
campos estavam abertos. Num documentário para a TV pública alemã ARD, a
prisioneira soviética Nina Mikhailovna, uma civil de 20 anos capturada
na Bielorrússia para trabalhos forçados, que viveria em São Paulo antes
de se estabelecer nos EUA, contou:
“Quando descobrimos que uma
garota no nosso bloco foi escolhida, nós a pegamos, jogamos um lençol em
cima dela e a espancamos com tanta força que ela mal podia se mexer.
Não era certo se ela se recuperaria. Elas só queriam uma vida melhor, e
nós as castigamos por isso”. Produtividade
A
ideia partiu de Heinrich Himmler, comandante da SS e responsável pelo
programa de extermínio, engenheiro do Holocausto. Ele afirmou que isso
serviria para motivar os trabalhadores forçados. E, em suas palavras,
“evitaria homossexualismo” nos campos.
Parecia uma piada de mau
gosto — a maior de todos os tempos, se de fato era. Uma forma adicional
de humilhar os prisioneiros famélicos, não exatamente dispostos ao sexo
em sua condição. Essa foi a opinião expressa por vários deles.
“Qualquer
um que pense que o Bloco 24 era alguma espécie de presente aos
prisioneiros não entende Auschwitz”, afirmou o prisioneiro polonês Jozef
Szajna em seu testemunho. “Foi feito para humilhar as pessoas. Era só
mais um exemplo do cinismo e crueldade dos alemães. Os bordéis não eram
nada de excepcional. Só foram outro crime do Nacional Socialismo
alemão.”
Acreditasse ou não Himmler no que estava fazendo, o
primeiro campo abriu em Mauthausen/Gusen em 1942. Auschwitz ganharia o
seu em 30 de junho de 1943. Eles permaneceriam ativos até os últimos
dias. O bordel de Mauthausen / Crédito: Wikimedia CommonsHimmler
não estendeu sua concessão aos judeus, que estavam lá com o propósito
de morrer, menos que trabalhar. Eram prisioneiros alemães e eslavos que
estavam nas duas pontas da cama. Judias, apesar de certas histórias que
hoje são muito contestadas, também não foram alistadas. A única mulher
que participou do programa e não era alemã ou eslava foi uma prisioneira
política holandesa.
O plano era destinado aos trabalhadores
especiais dos campos. Eram sobretudo prisioneiros alemães por crimes
comuns, servindo de kapos, seguranças internos, ou em funções na
indústria química I.G. Farben, instalada em Auschwitz III. Segundo o
historiador Robert Sommer, menos de 1% da população aprisionada visitou
os bordéis nos campos.
Piotr Setkiewicz, diretor do Centro de
Pesquisas do Museu de Auschwitz, afirma que os administradores punham
“um enorme valor na existência desse tipo de instituição no campo e,
como sua correspondência indica, tratavam isso como um fator central em
aumentar a produtividade dos prisioneiros”.
Os que visitavam eram
os que recebiam prêmios por superarem cotas de produção. Esse dinheiro
também servia para comprar cigarros, alimentos e outros privilégios. Os
15 minutos no bordel custavam 2 reichsmarks. Parte ia para a mulher,
parte para o campo. Um prisioneiro que quisesse participar do programa
precisava colocar o nome numa lista.
No fim do dia, no pátio onde
recebiam ordens, tinha seu nome chamado publicamente. Era então levado
ao Bloco 24, a Frauenhaus (casa das mulheres), como era chamada
eufemisticamente. Antes de terem acesso à prisioneira, eram postos nus
diante de um médico, que besuntava seus pênis com pomada antisséptica.
Alguns recebiam injeções.
Era oficialmente proibido, mas alguns
oficiais alemães também frequentaram os bordéis, subornando os
responsáveis. É de imaginar que tivessem uma atitude bem diferente da
dos prisioneiros. Nem todos os prisioneiros aceitaram o convite.
“Muitos,
especialmente os prisioneiros políticos bem informados, tentavam evitar
a exposição a chantagens por parte da SS”, testemunhou o sobrevivente
Fritz Kleinman. “Intrigas surgiram entre os clientes do bordel e
transferências punitivas e espancamentos foram o resultado das
escapadelas dos prisioneiros especiais.” Decisão forçada
Laqueaduras
como no caso que abre a matéria não eram universais. E, feitas nas
condições do campo, algumas terminavam em morte. As mulheres que não
eram esterilizadas poderiam terminar grávidas e sofrer abortos forçados,
que também podiam acabar em morte.
Uma história contada pela
sobrevivente Zofia Bator-Stepien relata que uma moça que ela conheceu se
inscreveu imediatamente no programa. “Quando o médico terminou de
examiná-la, perguntou se ela fazia a menor ideia de para onde estava
indo. Ela disse que não, mas ouviu que ela ganharia muito pão.”
O
médico também avisou: “Pense cuidadosamente sobre isso, porque, mesmo
que isso te dê uma chance de sobreviver a Auschwitz, você pode querer
ser mãe no futuro, e isso não será possível”. Ao que ela respondeu: “Não
quero ser mãe. Só quero pão”.
E isso nos leva a um ponto central:
a questão de muitas das mulheres terem sido voluntárias, de que há
relatos, como outro caso contado por Zofia Bator-Stepien, delas à
vontade com o cargo, desfilando em roupas de luxo e maquiagem pelo
campo, e inclusive tentando continuar quando dispensadas. Em Auschwitz / Crédito: Getty Images“É
impossível falar em livre-arbítrio quando você leva em conta as
condições em que elas eram forçadas a tomar essa decisão”, registrou a
sobrevivente Nanda Herbermann (1903-1979) em seu livro-testemunho Der
Gesegnete Abgrund (O Abismo Abençoado).
Nanda, uma católica presa
por divulgar material antinazista, foi forçada a cuidar do bloco de
prostitutas em Ravensbrück. Ou, como define Insa Eschebach: “Sei que
pensamos sobre isso por uma perspectiva diferente, mas, para muitas
delas, foi uma decisão muito simples: era ou o bordel e a sobrevivência
ou a câmara de gás”.
As relações com prisioneiros podiam ser
amigáveis. Frau B., um dos casos lembrados numa exibição recente do
Centro Ravensbrück, afirmou que eles tendiam a ser respeitosos. “Estavam
presos por anos e ficavam felizes em terem qualquer contato humano”,
afirmou.
Ela lembrou que, vez ou outra, a sessão se limitava a uma
conversa. B. também comentou sobre a vigilância dos guardas. “Estávamos
tão dessensibilizadas que simplesmente pensávamos: ‘Que se dane, morram
de olhar, malditos’.”
Mas nem sempre os olhares eram por
voyeurismo. E essa é uma outra parte da perfídia dessa história. Os
prisioneiros do triângulo rosa eram observados não apenas por guardas
mas por médicos especialmente designados.
Cerca de 100 mil gays
foram presos pelos nazistas e, desses, entre 5 mil e 15 mil foram
mandados para os campos de extermínio. Não se sabe quantos sobreviveram,
mas o número é provavelmente bem baixo.
O triângulo rosa marcava
um prisioneiro para atrocidades homofóbicas pelos guardas e outros
prisioneiros. Há casos de SS brincando de tiro ao alvo com seus
triângulos cor-de rosa. A eles eram dados trabalhos dos mais
extenuantes.
E tudo isso não era simplesmente pela ideia de
extermínio. Mas de procurar uma “cura gay”. O trabalho extenuante era
parte do “tratamento”. Vários sofreram com experimentos feitos com
hormônios, outros foram castrados. Himmler inspeciona tropas / Crédito: Wikimedia CommonsE,
em Auschwitz, Himmler em pessoa ordenou um experimento mais
“psicológico”: sexo forçado com as trabalhadoras do Bloco 24, uma vez
por semana. Não é preciso entrar em detalhes para entender como foi uma
experiência traumática para os dois lados. Fracasso
Do
ponto de vista mais cínico e prático possível, o programa dos bordéis
foi um fracasso. “Por tudo o que descobri, não funcionou”, diz Sommer.
“Pouquíssimas pessoas estavam em condições físicas de realmente
usá-los.”
Não há dados, mas historiadores como Sommer e Isa
acreditam que a maioria das prostitutas, dado simplesmente não estarem
passando fome, sobreviveu ao período no campo.
Mas, a essas,
restaria um injustificável estigma para o resto da vida. “Não sabemos de
nenhuma que tenha sido compensada pelo que passou”, afirma o
historiador. “É importante que essas mulheres recebam de volta parte de
sua dignidade.”
Os livros de história afirmam que o ser
humano chegou ao continente americano caminhando por meio do estreito de
Bering, há aproximadamente 13.500 anos, durante a Era do Gelo. No
entanto, uma nova descoberta, publicada na revista Science, aponta algo
diferente. Segundo o artigo, os primeiros homens da América chegaram ao
continente remando ao longo da costa do Pacífico e rio acima, mil anos
antes do que se acreditava. O mais surpreendente é que esses
colonizadores pioneiros teriam vindo do Japão
Ferramentas
de pedra, carvão, rochas lascadas e fragmentos de ossos de grandes
animais foram encontrados em uma escavação na localidade de Cooper's
Ferry, em Idaho, nos Estados Unidos. Esses artefatos são a evidência
mais antiga da presença humana na América do Norte, datando
aproximadamente de 15.000 a 16.000 anos.
Os
cientistas acreditam que eses primeiros povos vieram ao longo da costa
do Pacífico, encontraram o rio Columbia e dali remaram até o interior da
América do Norte. Os artefatos mais antigos do sítio arqueológico são
similares aos encontrados no noroeste da Ásia, especialmente na ilha
Hokkaido, no Japão, o que respalda a teoria de que os primeiros humanos
que chegaram ao continente vieram daquela região.
A
descoberta não invalida a teoria de que houve uma migração humana pelo
caminho de gelo do Estreito de Bering. Significa apenas que outros
humanos já estavam na América do Norte quando isso aconteceu.
Imagem: Teresa Hall/Oregon State University/Reprodução
Durante a chamada Guerra dos Farrapos no Rio Grande do Sul (1835-45),
quando um homem livre era chamado a servir tanto nas forças rebeldes
quanto nas imperiais, podia enviar em
seu lugar (ou no lugar de um filho seu) um de seus trabalhadores
escravizados. Em alguns casos, o alforriavam e alistavam. Também foi
prática comum buscar atrair ou tomar cativos das tropas inimigas,
trazendo-os para seu lado. O primeiro exército a utilizar negros
escravizados como soldados foram os imperiais. Precisando também formar
uma infantaria e sobretudo preferindo enviá-los como bucha-de-canhão,
morrendo na frente em seu lugar, farrapos também os alistaram: eram os
famosos Lanceiros Negros. Ambos, farrapos ou imperiais, prometiam também
liberdade aqueles que desertassem das tropas rivais, mudando de lado.
A maioria dos cativos que combateu nesta guerra foi obrigada a fazê-lo
diante das condições impostas. Por outro lado, apesar da guerra ser
horrível e violenta, era até preferível a vida militar, com seus
esporádicos combates, do que as agruras diárias da escravidão. A
promessa de liberdade após o fim da luta certamente pode ter
influenciado em muito o recrutamento daqueles homens. Uma promessa,
aliás e como veremos, jamais cumprida.
Não havia igualdade nas
tropas farroupilhas, muito menos democracia racial. Negros e brancos
marchavam, comiam, dormiam, lutavam e morriam separadamente. Os oficiais
dos combatentes negros eram brancos, e jamais um negro chegou a um
posto significante, mesmo que intermediário, de comando. Aos Lanceiros
Negros era vedado o uso de espadas e armas de fogo de grande porte. Não
lutavam a cavalo, como costumam mostrar nos filmes e mini-séries de TV,
mas sim a pé, pois havia o risco de se rebelar ou fugir. Sua arma
principal era a grande lança de madeira que lhes deu nome e fama,
algumas facas, facões, pequenas garruchas, os pés descalços, a bravura e
o anseio pela liberdade prometida.
Seria anacronismo se
quiséssemos que líderes farroupilhas tivessem um comportamento ou
posições políticas avançadas e assim diferentes das existentes em seu
tempo, mas defesa da Abolição da escravidão era bem conhecida e nada
alienígena na época. Uma Abolição começou a ser decretada em Portugal em
1767, proibindo que fossem enviados para o reino mais cativos vindos da
África, e em 1773 foi decretada uma Lei do Ventre Livre naquele país.
Na Dinamarca, isso se deu em 1792. Na França, em 1794 (ainda que
Napoleão tenha tentado restabelecer a escravidão no Haiti em 1802). No
México, uma primeira tentativa de Abolição foi feita em 1810, mas foi
finalmente vitoriosa em 1829. Bolívar libertou cativos em 1816-7,
durante suas lutas por independência, e finalmente aboliu a escravatura
em 1821. A Inglaterra, que havia findado a escravidão pouco antes da
Revolta dos Farrapos, pressionava o Brasil pelo fim do tráfico negreiro
desde 1808. Willian Wilbeforce, um dos maiores abolicionistas da
história, morreu em 1833, ou seja, dois anos antes da guerra no Sul do
Brasil. Farrapos, portanto, conheciam, sim, e muito bem o abolicionismo.
Entretanto,os principais chefes farrapos, Bento Gonçalves, Canabarro,
Gomes Jardim e até Netto, dentre outros, eram todos ferrenhos
escravistas. Quando aprisionado e enviado para a Corte no Rio de
Janeiro, Bento Gonçalves teve o direito de levar consigo um de seus
cativos para lhe servir. Ao morrer, o mais conhecido líder farroupilha
deixou terras, gado e quase cinqüenta trabalhadores escravizados de
herança aos seus familiares. Bem diferente do que fizera Artigas no
Uruguai anos antes, os farrapos jamais propuseram uma reforma agrária ou
mesmo uma distribuição de terras entre seus soldados, mesmo os brancos
pobres, que dirá os negros. A defesa da escravidão era tão clara entre
os chefes farrapos a ponto deles jamais sequer terem mencionado o fim do
tráfico negreiro.
Ao fim da guerra e já quase totalmente
derrotados, os farrapos incluíram entre suas exigências para o Império o
cumprimento da promessa de liberdade que haviam feitos aos Lanceiros
(principalmente porque temiam que eles formassem uma guerrilha negra na
província já que a quebra da promessa os faria se rebelar ou fugir para o
Uruguai, destino comum de diversos cativos fugitivos na época). Queriam
entregar-se ao Império, acabar a guerra, voltar à normalidade, mas
tinham os Lanceiros e a promessa que lhes haviam feito, e o Império,
escravista até a medula, não queria cumprir essa parte do acordo.
Que fazer então? A questão foi resolvida na madrugada de 14 de novembro
de 1844, quando o general farrapo David Canabarro entregou seus
Lanceiros desarmados ao inimigo, tudo previamente combinado com Caxias. E
no serro de Porongos, hoje região de Pinheiro Machado (interior do Rio
Grande do Sul), foi dizimada quase toda a infantaria negra, enterrando
de vez a preocupação dos farrapos e acelerando assim a paz com o
Império. A instrução de Caxias a um de seus comandados foi clara e
objetiva: a batalha teria que ser conduzida de forma tal que poupar
apenas e dentro do possível o sangue de brasileiros (e o negro era então
tratado como africano, mesmo que já nascido no Brasil).
Alguns
historiadores apologistas ou folcloristas de CTGs consideraram aquela
traição como Surpresa, já que pela primeira vez que o então vigilante
Davi Canabarro teria sido surpreendido pelo inimigo. Conversa fiada!
Enquanto dispôs suas tropas negras de tal maneira que ficassem
desarmadas e descobertas, algo que até então nunca havia feito,
Canabarro se encontrava bem longe e seguro do local, nos braços de
Papagaia, alcunha de uma amante sua.
Após o combate, um relato
oficial avisou a Caxias que pelo menos 80% dos corpos caídos no campo de
Porongos eram de homens negros. Calcula-se que, nos últimos anos
daquela conflito, os farrapos ao todo somavam uns cinco mil homens,
sendo que algo em torno de mil eram Lanceiros Negros. Após o Massacre de
Porongos, porém, restaram apenas uns 120 deles, feridos, alguns
mutilados, e que foram primeiramente enviados para uma prisão no centro
do país e depois dispersados para outras províncias, ainda mantidos como
cativos.
Feito isso, deu-se a chamada rendição e paz do Poncho
Verde, onde senhores escravistas dos dois lados trocaram abraços e
promessas de lealdade e, logo depois, marcharam juntos e sob a mesma
bandeira imperial contra o Uruguai, Argentina e Paraguai.
Bibliografia
FACHEL, José Plínio Guimarães. Revolução Farroupilha. Pelotas: EGUFPEL, 2002.
Durante quase 500 anos o Brasil
praticamente ignorou uma parte do seu passado. A maior delas. Na escola,
a primeira aula de história começa com o descobrimento do Brasil como
se nada tivesse acontecido antes. No entanto, quando os portugueses
chegaram, em 1500, civilizações avançadas e poderosas estavam no auge,
outras já haviam desaparecido, mas deixado vestígios de passagem e de história no Brasil.
O naturalista dinamarquês Peter Wilhelm Lund, em 1836, foi o primeiro a se interessar pelo Brasil pré-cabralino
e tornou-se uma espécie de patrono da arqueologia e da paleontologia no
país. Sua descoberta mais importante aconteceu na Gruta do Sumidouro,
perto de Lagoa Santa, MG. Em meio aos ossos de grandes mamíferos, ele
achou os primeiros fósseis humanos no Brasil.
Em busca do primeiro
brasileiro, Peter encontrou mais perguntas que respostas (algumas ainda
sem solução). A primeira – e talvez a mais controversa de todas – é
como e quando o homem passou a ocupar o território americano e, por
extensão, o brasileiro?
A
teoria mais aceita é que os primeiros grupos humanos a chegar por aqui
atravessaram da Ásia para a América pela Beríngia (região no extremo
norte do continente, que há 15 mil anos, durante o fim da era glacial,
ligava os dois continentes). A pé, os novos habitantes começaram a
migrar para o sul, em busca de regiões mais quentes. Até a Patagônia, no
limite sul da América, eles teriam levado algo em torno de 2 mil anos.
Mas
há quem discorde. A arqueóloga brasileira Niède Guidon, que há mais de
40 anos estuda os vestígios da presença humana na região da Serra da
Capivara, no Piauí, acredita que o homem americano já ocupava o Brasil
há mais de 60 mil anos. Sua pesquisa, que tem base em vestígios humanos
cujas datações indicaram ter 48 mil anos de idade, é fruto do
documentário Niède, de Tiago Tambelli, que acaba de ser lançado no país.
Segundo
a arqueóloga, a ocupação das Américas começou entre 80 e 100 mil anos
atrás e o primeiro americano teria vindo da região da Austrália em
embarcações simples – uma tese questionada dentro e fora do Brasil. Para
os críticos, esperar que um aborígine de mais de 50 mil anos atrás
atravessasse o Pacífico seria como pedir a Cristóvão Colombo que, em vez
de cruzar o Atlântico para vir ao Novo Mundo, fincasse a bandeira na
Lua.
Mas
Niède Guidon não está sozinha quando marca o início da presença humana
no Brasil, além dos paradigmais 15 mil anos. O trabalho da arqueóloga
Águeda Vilhena Vialou, entre o Museu de Arqueologia da USP e o Museu de
História Natural de Paris, indicou a existência do homem no Mato Grosso,
na Fazenda Santa Elina, há cerca de 23 mil anos. Lá, foram encontradas
pinturas nas paredes e grande quantidade de pedras trabalhadas. “Fizemos
três datações diferentes, em três materiais distintos: ossos,
sedimentos e carvão. Todos à mesma data, entre 22 e 23 mil anos”,
contou. Homens da Lagoa Santa
A arqueóloga
Adriana Schmidt Dias, da UFRGS, acredita que o primeiro brasileiro
descende de uma das várias correntes migratórias vindas da Ásia, que
ocorreram a partir de 15 mil anos atrás. A mais antiga dessas levas de
humanos teria chegado ao Brasil há cerca de 12 mil anos e ficado
conhecida como Os Homens da Lagoa Santa, nome dado em homenagem ao sítio
arqueológico onde foram localizados – o mesmo pesquisado pelo
dinamarquês Lund. Desse povo, faz parte o fóssil humano descoberto em
1975, que viveu por aqui há cerca de 11,5 mil anos e foi batizado pelos
cientistas de Luzia, a mais antiga brasileira descoberta até hoje. Mais antiga pintura rupestre da América, encontrada em Lagoa Santa / Crédito: Reprodução
Luzia
era uma caçadora e coletora de vegetais, com traços bem distintos dos
índios que Pero Vaz de Caminha descreveu em sua carta, em 1500. Em 1999,
a Universidade de Manchester, na Inglaterra, reconstituiu o rosto de
Luzia: ficaram óbvios os traços negroides, típicos de populações
africanas e da Oceania.
Luzia e seus amigos viviam em pequenos
grupos e eram nômades, sempre procurando encontrar vegetais e animais de
pequeno porte, como o porco-do-mato e a paca, que eles caçavam com a
ajuda de lanças e de flechas com pontas feitas de pedras lascadas. Não
ficavam mais que duas semanas no mesmo lugar. Por isso, não costumavam
enterrar seus mortos. O corpo de Luzia foi encontrado jogado no fundo de
uma caverna.
Por volta de 6 mil anos atrás esse povo desapareceu.
A explicação para isso é o surgimento de outro grupo de humanos, dessa
vez, parecidos com os índios atuais. Eles chegaram em muito maior número
e passaram a ocupar a região. As populações se misturaram, segundo
Adriana, mas com o tempo as características dos Homens da Lagoa Santa
submergiram. Essa nova leva de viajantes chegou a ocupar toda a costa
brasileira e o Planalto Central até 2 mil anos atrás.
“Esses
bandos chegavam a uma região, montavam acampamento, geralmente em grupos
de cinco a dez famílias em pequenas faixas de terra”, diz a
pesquisadora. De acordo com ela, eles retiravam da região tudo o que
podiam: vegetais, peixes e animais. Assim que esgotavam esses recursos e
que os acampamentos apresentavam problemas sanitários, como o
aparecimento de insetos em grandes quantidades, iam embora. Civilização das Conchas
Alguns
dos descendentes desses novos habitantes criaram, no litoral do Brasil,
uma das civilizações mais características e inusuais do período
pré-cabralino. Eles ocuparam do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul
entre 6 mil e mil anos atrás, e ficaram conhecidos pelas edificações que
erguiam para sepultar seus mortos: os sambaquis. São pilhas de
sedimentos, principalmente conchas e ossos de animais, cuidadosamente
empilhados e que chegavam a ter 40 metros de altura e mais de 500 metros
de comprimento.
A princípio, os arqueólogos acreditavam tratar-se
de grandes depósitos funerários, mas, com a descoberta sistemática de
novos sítios, ficou provado que os sambaquis eram o centro da vida
social desses povos, chamados sambaquieiros. Ali, eles sepultavam seus
mortos, realizavam rituais e construíam suas casas. Crédito: Martha Werneck
“Eles
se alimentavam basicamente da pesca e da coleta de frutos do mar,
feitas com o auxílio de canoas e redes”, explica o arqueólogo Paulo de
Blasis, da USP. O sambaquieiro era baixo, no máximo 1,60 metro. A
mortalidade infantil era altíssima, entre 30 e 40% dos corpos
encontrados eram de crianças. Quem chegava à idade adulta também não ia
muito longe: para os homens a perspectiva de vida era de 25 anos e as
mulheres chegavam, no máximo, aos 35. Outro mito que as pesquisas vêm
derrubando é que os sambaquieiros eram nômades, indo de um lugar para
outro assim que se encerravam os recursos naturais.
“Era uma
civilização com estabilidade territorial e populacional. Um conjunto de
sambaquis como os do sul de Santa Catarina podia reunir até 3 ou 4 mil
habitantes”, conta Paulo. Para ele, uma ocupação dessa montada, por
tanto tempo, só seria viável com um alto grau de complexidade social,
que deveria incluir a divisão de tarefas e instituição de chefias
regionais.
Nos sambaquis foram encontrados também esculturas e
ornamentos feitos de pedra polida, que eram colocados junto aos corpos
sepultados. Representando animais como o tatu e a baleia, esses objetos
demonstram um delicado senso estético, que exigia habilidade especial.
Segundo
Dione Bandeira, do Museu Nacional do Sambaqui, em Joinville, SC, é
possível que houvesse pessoas designadas para produzi-los, até como
algum tipo de ritual. Os sambaquieiros desapareceram há cerca de mil
anos, com a chegada de povos agricultores vindos do planalto. “Eles
provavelmente foram se afastando cada vez mais de seu local de origem,
esquecendo suas tradições e se misturando ao conquistador”, descreve o
arqueólogo da USP. Os povos da Amazônia
A
Amazônia foi o berço de culturas avançadas, que viveram mais de mil anos
antes de Cabral chegar ao Brasil. Os registros mais antigos da presença
dos homens na região foram descobertos pela arqueóloga norte-americana
Anna Roosevelt, em 1996. Ela encontrou pinturas rupestres datadas de 11
mil anos, na região de Monte Alegre, PA.
Na região da Ilha de
Marajó, uma importante civilização se desenvolveu entre os anos 400 e
1300 d.C. A civilização marajoara dominava a agricultura e possuía
aldeias que chegaram a abrigar 5 ou 6 mil habitantes. Os marajoaras eram
excelentes engenheiros e construíram aterros artificiais que se
elevavam até 12 metros acima do solo.
“Esses aterros exigiam a
mobilização de um grande contingente de mão de obra e uma liderança
constituída e respeitada”, afirmou o arqueólogo Eduardo Neves, da USP.
Tal requinte se refletia na criação de sua cerâmica. De caráter
cerimonial, seus desenhos correspondem ao mundo simbólico e religioso
dos marajoaras. Eles desapareceram misteriosamente por volta de 1300. Crédito: Reprodução
Mas
a superpotência da época era a civilização tapajônica, que ocupava a
região da atual cidade de Santarém, PA. Mesmo depois do contato com os
europeus, ainda era uma das maiores e mais poderosas nações indígenas da
Amazônia. Objetos de sua cerâmica foram localizados em lugares
distantes, o que indica que havia contato intenso entre os tapajós e
tribos vizinhas, incluindo comércio. Segundo Eduardo, havia um poder
central exercido por chefe tapajó, reunindo várias tribos vizinhas. E
algumas aldeias eram tão populosas que seus caciques podiam mobilizar
até 60 mil homens para o combate.
A Amazônia também foi o ponto
de partida para a migração de um povo tecnologicamente avançado e
conquistador, que levou ao declínio os brasileiros coletores e
caçadores, e que se espalhou de forma inédita pelo país: os tupi.
Partindo de onde hoje ficam os estados de Rondônia e do Amazonas, eles
deixaram a região em duas levas principais: os tupi-guarani desceram o
Rio Paraná e chegaram à região sul; os tupinambá seguiram pelo Rio
Amazonas até sua foz e, dali, rumo ao sul pela costa.
Eles viviam
em grandes aldeias, cujas populações chegavam a ter milhares de pessoas.
“Se organizavam em chefaturas, isto é, uma reunião de tribos em que
algumas aldeias seriam mais importantes e teriam influência sobre
outras”, explica o professor e historiador Paulo Jobim. Segundo ele, as
aldeias funcionavam como cidades, com famílias inteiras, com tios,
primos, pais, avós e filhos vivendo numa mesma casa.
“A hierarquia
das tribos era baseada no parentesco”, diz. Os espaços comuns desses
lugares, normalmente na área central, eram dedicados às práticas
religiosas e sociais. Eles conheciam a agricultura, principalmente a de
hortaliças, de mandioca e de milho, e produziam cerâmicas práticas,
principalmente para cozinhar. A guerra, além de demarcar territórios,
era tida como oportunidade para o desenvolvimento de lideranças, que se
baseavam sobretudo na coragem, na oratória e nos laços familiares.
A
expectativa de vida era curta, não ultrapassando os 40 anos de idade em
média. Por isso, os mais idosos eram muito respeitados, ocupando papel
de destaque na sociedade. A divisão do trabalho também era feita por
sexos: os homens caçavam, as mulheres coletavam, cuidavam das crianças e
do preparo do solo para a agricultura. Além disso, eram as responsáveis
pela produção da arte em cerâmica.
“Os guarani eram um povo
conquistador e exclusivista”, descreve o historiador Pedro Schmitz.
“Seus parentes tornavam-se aliados, mas outros povos eram considerados
inimigos e expulsos, dizimados ou incorporados, às vezes, literalmente,
já que eram antropófagos.” Os nossos descendentes que estavam na praia,
naquela manhã de 22 de abril de 1500.
Manuel da Mota Coqueiro era um rico fazendeiro da região de Macaé,
Rio de Janeiro. Possuidor de muitos inimigos ricos e influentes, esse
homem foi vítima de um dos maiores erros judiciais da história do país.
Sua morte, por enforcamento, mostrou a face cruel da influência política
nos julgamentos da época e a forte dúvida em relação à sua inocência
impulsionou o debate sobre a crueldade e insanidade da pena capital
aplicada pelo Estado.
Devido ao fim do tráfico negreiro com a
lei Eusébio de Queirós, Mota Coqueiro e diversos outros fazendeiros da
época iniciaram a prática do regime de parceria com colonos livres. Nas
suas terras da fazenda Bananal, foi residir e trabalhar o meeiro
Francisco Benedito da Silva, acompanhado de sua numerosa família.
Embora com idade avançada e já tendo filhos e enteados, Mota Coqueiro
teve um caso amoroso com Francisca, uma das filhas de Francisco
Benedito. A jovem acabou engravidando e seu pai, ao saber do caso,
passou a pressionar o fazendeiro, pedindo vantagens econômicas como
compensação pela gravidez da filha.
A partir de então, ocorreram
vários conflitos entre Mota Coqueiro e Francisco Benedito, o qual foi
ameaçado de expulsão das terras que ocupava. O colono foi apoiado por
alguns pequenos proprietários dos arredores. Em certa ocasião, Francisco
Benedito e um amigo, pequeno proprietário da região, emboscaram e
agrediram Mota Coqueiro quando ele vistoriava a fazenda Bananal.
Mota Coqueiro tinha vários inimigos pessoais com influência na política
local. Dentre eles, seu primo, Julião Batista Coqueiro, que o odiava por
nutrir por ele um sentimento de vingança. Vinte e cinco anos antes,
quando Julião Batista foi estudar longe de Macaé, Coqueiro aproveitou-se
da ausência do primo para cortejar e casar com sua antiga noiva. Sua
primeira esposa, porém, morreu algum tempo depois e o fazendeiro
casou-se com Úrsula das Virgens, a qual era viúva e tinha um filho.
Também era mal visto na região por alguns padres e fazendeiros
católicos, pois tinha tomado posse de várias extensões de terras, entre
as quais, antigas propriedades dos Jesuítas que ficaram desocupadas
quando estes foram expulsos do Brasil.
Em uma noite chuvosa de
1852, Francisco Benedito e toda sua família foram mortos a golpe de
facões por um grupo de cerca de oito negros, escapando somente
Francisca, a filha grávida. A casa foi incendiada, mas a chuva não
permitiu que os corpos fossem queimados totalmente. Além de Francisco
Benedito, foram assassinados a sua esposa, três filhos adolescentes e
três crianças, uma delas com três anos de idade.
Mota Coqueiro
tinha chegado na fazenda Bananal na tarde deste dia. Durante o horário
provável em que ocorrera o crime, estava na casa grande em reunião de
negócios com vários empresários locais que desejavam comprar madeira das
suas terras. A distância entre o local em que estava Mota Coqueiro e o
local onde ocorreu o crime era de menos de 2 quilômetros e ninguém
presente na reunião percebeu qualquer movimento anormal na fazenda.
Francisca, a filha sobrevivente, fugiu durante dois dias pelas matas,
até que pediu auxílio em uma fazenda de Julião Batista, na qual morava
um amigo próximo do primo e desafeto de Coqueiro. Este imediatamente
levou o caso às autoridades competentes. O delegado e o subdelegado de
Macaé acusaram Mota Coqueiro de ter sido o mandante da chacina.
Alguns dias após o crime, fugindo a cavalo, Coqueiro é reconhecido e preso, após pedir água em uma fazenda.
Levado para a prisão da cidade de Macaé, e sondado pela imprensa local, ganhou o apelido de "Fera de Macabu".
Após a prisão, uma série de erros e manipulações judiciais passam a
ocorrer. Depois da aceitação da denúncia, os promotores do caso
infringiram muitas normas jurídicas para conseguir a condenação do réu.
Arrolaram como principal testemunha uma ex-escrava da fazenda de
Coqueiro (na época, escravos não podiam testemunhar). A negra Balbina
acusou um dos feitores da fazenda, com quem ela teve um caso amoroso, de
ter sido o executor do crime a mando da Fera de Macabu, outros inimigos
políticos de Coqueiro foram convocados para depor. Inimigos do réu
pagavam a imprensa para criar notícias que manchassem ainda mais a sua
imagem.
O fato é que em nenhum dos julgamentos conseguiu provar
cabalmente a participação de Mota Coqueiro no crime. A maioria dos
testemunhos não afirmava que o fazendeiro era o autor do crime, apenas
informava que ele teria motivos para executar as vítimas. No fim dos
julgamentos em primeira instância, Coqueiro foi condenado à forca. Seus
advogados recorreram aos tribunais superiores, mas não conseguiram
reverter a sentença. O caso chegou até o conhecimento de Dom Pedro II,
que por pressões políticas e por não acreditar na inocência de Coqueiro,
confirmou de vez o tenebroso destino do réu.
Após a negação do
Imperador, Coqueiro é enviado para uma prisão no Rio de Janeiro, onde
passa por um tratamento para se fortalecer fisicamente. O procedimento
fazia parte da preparação do condenado para a forca. No dia da execução,
o réu deveria estar forte o suficiente para caminhar até o patíbulo,
ouvir a sentença final e dar as últimas palavras.
Até o final,
Mota Coqueiro negou a autoria do crime. Embora se possa duvidar de sua
inocência, é fato histórico notório que ele não recebeu um julgamento
justo, nem foram feitas investigações detalhadas e imparciais sobre os
eventos.
No dia 6 de março de 1855, três anos após o crime, a
Fera de Macabu é enforcada. Antes de morrer, suas últimas palavras
serviram para amaldiçoar a cidade: "Que esse lugar tenha 100 anos de
atraso para pagar tudo que fizeram pra mim." A frase ficou conhecida
como a maldição do Mata Coqueiro.
Há um debate muito grande em
relação ao fim da pena de morte no Brasil, e se o fato realmente fez
cessar esse tipo de castigo em território nacional. A verdade é que Dom
Pedro II se arrependeu imensamente de não ter dado a graça ao
prisioneiro e passou a ser mais flexível em conceder penas alternativas à
aplicação da pena capital, além do mais, o Imperador era fã do escritor
Victor Hugo, um dos maiores militantes contra a pena de morte na
França.
Após a repercussão da morte de Mota Coqueiro e seus
supostos cúmplices, apenas alguns outros civis foram executados, sendo
que todos eles eram escravos ou negros alforriados, os quais não tinham
posses nem dinheiro para garantir que sua defesa chegasse até o
Imperador.
Texto - Joel Paviotti
Referências - nos comentários
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Já parou para pensar em como foram batizadas algumas bandas que você
conhece? Quem aí gostaria de saber de onde veio o nome dos Novos
Baianos? Pois, pasme! Pouco antes de
entrar no palco em um festival de uma emissora de TV, em 1969, ainda sem
definição de como se chamaria o grupo, Marco Antônio Riso, organizador
do evento, gritou: “Chame aí esses novos baianos!”. Ficou definido como
chamaria o conjunto.