COLÔNIA E IMPÉRIO
Observada do mar, enquanto os navios se
aproximavam do porto, o Rio de Janeiro era uma bela cidadezinha,
perfeitamente integrada ao esplendor da natureza que a cercava...
De perto, a impressão mudava rapidamente. Os problemas eram a umidade, a sujeira e a falta de bons modos dos moradores.
Vistas de fora, as casas tinham a mesma aparência de limpeza que
observava-se nas residências dos melhores vilarejos da Inglaterra...
Logo, porém, que se metia os pés para dentro, constatava-se que a
limpeza não passava de um efeito da cal que revestia as paredes
exteriores... e que, nos interiores, habitavam a sujeira e a preguiça.
As ruas, apesar de retas e regulares, eram sujas e estreitas, a ponto
de o balcão de uma casa quase se encontrar com o da casa em frente. Um
estrangeiro que viajou pelo Brasil entre 1819 e 1821, ficou
impressionado com o número de ratos que infestavam a cidade e seus
arredores. “Muitas das melhores casas estão de tal forma repletas deles
que durante um jantar não é incomum vê-los passeando pela sala”,
afirmou.
A limpeza da cidade estava toda confiada aos urubus...
Naquele tempo, os moradores tinham o mau costume de lançar na rua e na
“vala” todos os despejos e detritos domésticos, transformando-a em uma
imensa cloaca, com insuportável mau cheiro e ondas de mosquitos –
entenda-se como “vala” o sangradouro natural de um curtume instalado à
beira da Lagoa de Santo Antônio.
Devido à pouca profundidade do
lençol freático, a construção de fossas sanitárias era proibida. Os
esgotos das casas eram acondicionados em barricas de madeiras (os cubos)
nos quintais e à noite transportado por escravos para os lançamentos
mais próximos, como as Praias do Peixe (Rua D. Manuel) e das Farinhas e o
Campo da Aclamação (Campo de Santana).
Durante o percurso, parte
do conteúdo desses tonéis, repleto de amônia e ureia, caía sobre a pele
e, com o passar do tempo, deixava listras brancas sobre suas costas
negras. Esses escravos e seus barris foram apelidados pelo povo de
“Tigres” dos quais todos fugiam nas ruas mal iluminadas.
Devido à
falta de um sistema de coleta de esgotos, os “tigres” continuaram em
atividade no Rio de Janeiro até 1860, e no Recife, até 1882. O sociólogo
Gilberto Freyre diz que a facilidade de dispor de “tigres” e seu baixo
custo retardou a criação das redes de saneamento nas cidades litorâneas
brasileiras.
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Em vista das péssimas condições sanitárias
da população, surgiu a ideia de construir uma rede de esgotos. Para
tal, em 25 de abril de 1857, foi assinado pelo Imperador D. Pedro II o
contrato básico aprovado pelo Decreto nº 1929 de 26.04.1857 de
esgotamento sanitário da Cidade do Rio de Janeiro.
A Cidade do
Rio de Janeiro foi a terceira cidade do mundo a ser dotada de rede de
esgotos sanitários, precedida por Londres (1815) e Hamburgo (1842).
Somente Londres, como Capital se antecipou ao Rio, na construção de suas
redes de esgotos.
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FONTES:
▪ "A história do tratamento de esgoto no Rio de Janeiro" (portal Copacabana em Foco);
▪"1808", de Laurentino Gomes
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