Há exatos 120 anos surgia a primeira favela brasileira, que ainda não
era chamada desta forma. O pequeno assentamento, formado inicialmente
por ex-escravos, ganhou a partir de 1897 uma grande quantidade de novos
moradores, criando uma verdadeira comunidade. Localizada no atual Morro
da Providência, no Rio de Janeiro, a ocupação inicialmente se restringia
a algumas dezenas de casebres, que ao longo do ano receberam mais de 10
mil novos vizinhos, em especial ex-soldados que retornavam da Guerra de
Canudos. Os primeiros moradores do assentamento no eram habitantes do
antigo cortiço "Cabeça de Porco", que havia sido demolido tempos antes.
Ainda sem nome, a área ocupada logo ganhou um apelido dos
ex-combatentes. O conglomerado de pequenas casas passou a ser chamado de
Favela, numa referência ao nome do morro onde os soldados haviam
montado acampamento durante a guerra. Favela é o nome popular da
Cnidoscolus quercifolius, uma planta endêmica da região nordeste
brasileira. Se no passado a palavra era um nome próprio, atualmente se
transformou numa termologia para se referir a um assentamento urbano
informal.
A justificativa para a ocupação há 120 anos é a mesma dos dias atuais, a
falta de moradias. Os ex-soldados tinham a promessa que ao retornarem
da batalha receberiam o soldo, mas o valor nunca foi pago. Sem dinheiro e
local para morarem, eles invadiram um trecho do morro, onde ficava uma
chácara abandonada. Naquele momento, nascia a primeira favela
brasileira. Com os anos, outros assentamentos também passaram a serem
chamados de favelas, numa referência a ocupação do Morro da Providência.
As primeiras casas foram erguidas no sopé do morro, seguindo o estilo
das construções de Canudos. De alvenaria com paredes caiadas e telhados
de madeira, as residências foram engolidas pelo emprego dos próprios
moradores. A maioria dos habitantes da comunidade da Favela trabalhavam
numa pedreira no morro, que consumiu, literalmente, o terreno onde
viviam. A mina funcionou até 1968, quando ocorreu um desabamento que
soterrou e matou 36 pessoas.
Reintegração de posse
Em novembro de 1904, a prefeitura do Rio de Janeiro decidiu desocupar o
morro da Favela, que estava numa área invadida. O problema é que no
mesmo período ocorreu a Revolta da Vacina e devido ao caos generalizado
na cidade, a reintegração de posse foi suspensa. Focada em combater os
distúrbios pelas ruas cariocas, a prefeitura pôs a desocupação da área
em segundo plano. Outra preocupação da então administração pública era o
fato de que muitos habitantes daquela comunidade haviam participado da
Revolta e considerassem a reintegração como uma "punição" pelo ato.
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