sábado, 21 de julho de 2018

"São Domingos presidindo um Auto-da-fé" (em torno de 1495) - por Pedro Berruguete, pintor espanhol (1450-1504).

- A Inquisição é um grupo de instituições dentro do sistema jurídico da Igreja Católica Romana, cujo objetivo é combater a heresia. Começou no século XII na França para combater a propagação do sectarismo religioso, em particular, em relação aos cátaros e valdenses.
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Se tudo é heresia no século XIII, tudo é magia no XIV. A passagem é fácil. Na grosseira teoria daquele tempo, a heresia difere pouco da possessão diabólica; toda crença errônea e todo pecado são um demônio, que se escorraça pela tortura ou o chicote. Porque os demônios são muito sensíveis...
Essa passagem da heresia à magia é um progresso no terror e beneficia o juiz. Nos processos de heresia (de homens, na maioria), ele tem assistentes. Mas nos de magia, de feitiçaria, que envolvem quase sempre mulheres, tem o direito de ficar só, frente a frente com o acusado.
Esse rótulo terrivel de feitiçaria abrangeu pouco a pouco todas as pequenas superstições, a antiga poesia dos lares e dos campos, o traquinas, o duende, a fada. Que mulher seria inocente? A mais devota acreditava em tudo isso. Ao se deitar, antes de sua oração à Virgem, deixava leite para seu duende. A moça, a boa mulher, acendia de noite um foguinho para consolo das fadas e oferecia de dia um buquê para a santa.
Pois, por isso, é feiticeira! Ei-la diante do homem de preto. Ele lhe faz perguntas (as mesmas, sempre as mesmas, aquelas que fizeram a todas as sociedades secretas, aos albigenses, aos templários, não importa). Que ela pense bem, o carrasco está lá, todos prontos, sob a abóbada ao lado, a estrapada, o cavalete, as peças de madeira para juntar os pés, com seus parafusos, as libras de ferro. Ela desfalece de medo, já não sabe o que diz..
"Foi minha mãe, minha irmã, minha prima que me forçou, arrastou... Que podia eu fazer? Tinha medo dela, ia sem querer ir, tremendo..."
[Citado por Limburch, em "Registros da Inquisição" (1307 a 1326)].
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Coisa bem digna de atenção é que a Igreja, inimiga de Satâ, longe de derrotá-lo, promoveu duas vezes sua vitória. Após o extermínio dos albigenses* no seculo XIII, terá ela triunfado? Ao contrário. Satã reina no século XIV. Após o São Bartolomeu** e durante a Guerra dos Trinta Anos, a Igreja terá triunfado? Ao contrário. Sata reina sob Luis XII.
O Malleus Maleficarum, ou O Martelo das Feiticeiras - Manual do Inquisidor, foi publicado em 1486, bastante mais tarde do que foi a Era da Inquisição dos tempos dos cátaros e albigenses (embrião do qual surgiria o Tribunal da Inquisição e do Santo Oficio).
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(* Acreditando que o mundo estava sob o domínio de Satã, os adeptos dessa seita - numerosos na Cidade francesa de Albi - jejuavam 3 dias na semana. Em 1208, acusados de heresia, foram quase dizimados por uma incursão militar ordenada contra eles pelo Papa Inocêncio III. Também chamados de cântaros, foram a primeira organização herética em massa no segundo milênio, que representaram uma grave ameaça para a autoridade da Igreja)
(** Nome dado ao massacre geral dos protestantes de Paris, executado por ordem de Carlos IX. A senha para o morticínio, que atingiu três mil pessoas, foi o repique dos sinos da igreja de Saint-Germain-l'Auxerrois na madrugada de 24 de agosto de 1572, dia da festa de São Bartolomeu. Nos dias seguintes, o massacre prosseguiu nas provincias).
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¤ FONTE:
1) "A Feiticeira" - Jean Michelet
2) Wikipedia
¤ ARTE:
1) "São Domingos presidindo um Auto-da-fé" (em torno de 1495) - por Pedro Berruguete, pintor espanhol (1450-1504).
2) "Procurando as marcas do demônio", 1995 - por Bessonov Nicolay.

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