Maria Firmina dos Reis (1825-1917) nasceu em São Luís, Maranhão, em
11 de outubro de 1825. Filha bastarda de mãe branca e pai negro,
enfrentou os preconceitos decorrentes de sua cor, de sua classe social e
de sua posição de mulher, para tornar-se a primeira romancista
brasileira e a pioneira na crítica contra a escravidão em nossa
literatura.
Publicou “Úrsula”, seu primeiro romance, em 1859 e fez algo extremamente impensável
na época: apresentou os escravos de forma humanizada, buscando, através
dessa humanização, registrar uma forte crítica à escravidão.
Ela
foi a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão,
passando a atuar como professora primária na cidade de Guimarães e a
denunciar as desigualdades que marcavam a educação da época.
Além
de romances, Firmina escreveu contos, poemas, charadas e letras de
músicas, compondo o “Hino à libertação dos escravos”. Em 1880, ela
fundou a primeira escola mista– com alunos brancos e negros – e gratuita
do estado, algo inovador naquele tempo, o que causou bastante polêmica e
levou o projeto a ter uma curta duração.
Apesar da importância de
sua obra e das lutas que encampou em uma época em que à mulher era
reservado apenas o trabalho doméstico, Maria Firmina dos Reis é
praticamente desconhecida. Ao denunciar as mazelas da escravidão, o
lugar destinado ao negro e à mulher, ela revelou-se uma mulher muito à
frente de seu tempo, demonstrando um olhar aguçado para as relações
humanas do século XIX e para a denúncia das desigualdades que marcaram
aquela época.
Até hoje sua história permanece cheia de lacunas e
requer um estudo mais aprofundado, embora, em 1975, José Nascimento
Morais Filho tenha publicado a biografia “Maria Firmina: fragmentos de
uma vida”, há muitos pontos obscuros de sua história, faltando inclusive
registros fotográficos capazes de retratar como realmente ela era.
Maria Firmina nunca se casou, o que também era inesperado na época.
Mantendo-se através de seu trabalho como professora, viveu sempre de
forma muito independente, dedicando-se à literatura, à educação e ao
cuidado das dez crianças que adotou. Ela faleceu em 1917, pobre e cega
no município de Guimarães. Deixou, porém, um importante legado tanto
para a literatura brasileira quanto para o despertar de uma consciência
crítica a respeito das injustiças que sempre marcaram o país, conforme
se pode perceber nas próprias palavras da autora: “Quando calará no
peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo –
e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu
semelhante!... Aquele que também era livre no seu país... Aquele que é
seu irmão?”
Texto de Adriana de Paula
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