sexta-feira, 9 de março de 2018

Maria Firmina dos Reis: a primeira romancista brasileira

Maria Firmina dos Reis (1825-1917) nasceu em São Luís, Maranhão, em 11 de outubro de 1825. Filha bastarda de mãe branca e pai negro, enfrentou os preconceitos decorrentes de sua cor, de sua classe social e de sua posição de mulher, para tornar-se a primeira romancista brasileira e a pioneira na crítica contra a escravidão em nossa literatura.
Publicou “Úrsula”, seu primeiro romance, em 1859 e fez algo extremamente impensável na época: apresentou os escravos de forma humanizada, buscando, através dessa humanização, registrar uma forte crítica à escravidão.
Ela foi a primeira mulher a ser aprovada em um concurso público no Maranhão, passando a atuar como professora primária na cidade de Guimarães e a denunciar as desigualdades que marcavam a educação da época.
Além de romances, Firmina escreveu contos, poemas, charadas e letras de músicas, compondo o “Hino à libertação dos escravos”. Em 1880, ela fundou a primeira escola mista– com alunos brancos e negros – e gratuita do estado, algo inovador naquele tempo, o que causou bastante polêmica e levou o projeto a ter uma curta duração.
Apesar da importância de sua obra e das lutas que encampou em uma época em que à mulher era reservado apenas o trabalho doméstico, Maria Firmina dos Reis é praticamente desconhecida. Ao denunciar as mazelas da escravidão, o lugar destinado ao negro e à mulher, ela revelou-se uma mulher muito à frente de seu tempo, demonstrando um olhar aguçado para as relações humanas do século XIX e para a denúncia das desigualdades que marcaram aquela época.
Até hoje sua história permanece cheia de lacunas e requer um estudo mais aprofundado, embora, em 1975, José Nascimento Morais Filho tenha publicado a biografia “Maria Firmina: fragmentos de uma vida”, há muitos pontos obscuros de sua história, faltando inclusive registros fotográficos capazes de retratar como realmente ela era.
Maria Firmina nunca se casou, o que também era inesperado na época. Mantendo-se através de seu trabalho como professora, viveu sempre de forma muito independente, dedicando-se à literatura, à educação e ao cuidado das dez crianças que adotou. Ela faleceu em 1917, pobre e cega no município de Guimarães. Deixou, porém, um importante legado tanto para a literatura brasileira quanto para o despertar de uma consciência crítica a respeito das injustiças que sempre marcaram o país, conforme se pode perceber nas próprias palavras da autora: “Quando calará no peito do homem a tua sublime máxima – ama a teu próximo como a ti mesmo – e deixará de oprimir com tão repreensível injustiça ao seu semelhante!... Aquele que também era livre no seu país... Aquele que é seu irmão?”

Texto de Adriana de Paula

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