sexta-feira, 16 de fevereiro de 2018

A história de Doutora Nise da Silveira, a mulher que lutou enfaticamente para a humanização do tratamento psiquiátrico no Brasil.

Nise da Silveira nasceu em Maceió, Alagoas, em 15 de fevereiro de 1905, filha de um professor de matemática e uma pianista, estudou o ensino básico em um colégio de freiras e foi a única mulher admitida em uma turma de 157 homens, na Universidade de Medicina da Bahia, em 1926.
Formou-se médica e casou-se com o sanitarista Mário Magalhães da Silveira, com quem não teve filhos, por decisão dos dois, pois decidiram se dedicar a carreira acadêmica. Junto ao marido Nise publicou artigos onde apontava as relações entre pobreza, desigualdade, promoção da saúde e prevenção da doença no Brasil, por suas publicações, por manter leituras marxistas e militância ao lado do Partido Comunista e dos trabalhadores, Nise foi acusada de conspiração e presa em 1936, no carcere conheceu Graciliano Ramos(também preso).
Ao ser libertada após 18 meses, continuou os estudos em psiquiatria se aproximando das ideias Freudianas e Junguianas. No ano de 1944 foi integrada ao serviço público e iniciou seu trabalho no Centro Psiquiátrico Nacional Pedro II, em Engenho de Dentro, no Rio de Janeiro, onde retomou sua luta contra as técnicas psiquiátricas que considerava agressivas aos pacientes. Nesse período os tratamentos psiquiátricos eram, majoritariamente, sustentados por práticas desumanas como: eletrochoques, insulinoterapia, sedação continua e a famosa e temida lobotomia. Nise, discordando das práticas de seus colegas, pediu transferência para uma área abandonada do hospital e lá implantou aos poucos o sistema de tratamento de Terapia Ocupacional, usando as artes e atividades lúdicas para atingir o inconsciente dos pacientes e ajuda-los a superar seus transtornos psiquiátricos, o tratamento atingiu sucesso considerável, conseguindo resultados superiores aos do métodos tradicionais . A psiquiatra, questionada fortemente pela classe médica da época, buscou apoio em artistas e pesquisadores internacionais, como o renomado médico psiquiatra Carl Gustav Jung, que trocou correspondências e se encontrou com Nise por várias vezes.
Em 1952, ela fundou o Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, um centro de estudo e pesquisa destinado à preservação dos trabalhos produzidos nos estúdios de modelagem e pintura que criou na instituição, valorizando-os como documentos que abriam novas possibilidades para uma compreensão mais profunda do universo interior do esquizofrênico. Alguns anos depois da fundação do museu, Nise desenvolveu outro projeto também revolucionário para sua época: criou a "Casa das Palmeiras", uma clínica voltada à reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas. Nesse local os pacientes podiam expressar sua criatividade, sendo tratados como pacientes externos numa etapa intermediária entre a rotina hospitalar e sua reintegração à vida em sociedade, o uso de animais de estimação era frequente e considerado uma espécie de remédio para amenizar a solidão e dificuldades de comunicação dos internos. A médica provou que não bastava apenas tratar os pacientes com humanidade, mas também era necessário zelar pela nova vida que levariam após a cura ou controle dos transtornos.
O excelente trabalho da Doutora Nise deixou um legado de muitos artigos e exemplos que impulsionaram o movimento Antimanicomial no Brasil.
Com o sucesso atingido, Nise se transformou em membro fundadora da Sociedade Internacional de Expressão Psicopatológica e levou para o mundo a eficácia das práticas que ajudou a implantar nas clínicas psiquiátricas do país.
A grande Psiquiatra é reconhecida internacionalmente e foi agraciada com vários prêmios, homenagens e condecorações entre eles:
"Ordem do Rio Branco" no Grau de Oficial, pelo Ministério das Relações Exteriores (1987)
"Prêmio Personalidade do Ano de 1992", da Associação Brasileira de Críticos de Arte
"Medalha Chico Mendes", do grupo Tortura Nunca Mais (1993)
"Ordem Nacional do Mérito Educativo", pelo Ministério da Educação e do Desporto (1993)
Seu trabalho e idéias inspiraram a criação de museus, centros culturais e instituições terapêuticas, similares às que criou, em diversos estados do Brasil e no exterior, por exemplo:
O "Museu Bispo do Rosário", da Colônia Juliano Moreira (Rio de Janeiro)
O "Centro de Estudos Nise da Silveira" (Juiz de Fora, Minas Gerais)
O "Espaço Nise da Silveira" do Núcleo de Atenção Psicossocial (Recife)
O "Núcleo de Atividades Expressivas Nise da Silveira", do Hospital Psiquiátrico São Pedro (Porto Alegre, Rio Grande do Sul)
A "Associação de Convivência Estudo e Pesquisa Nise da Silveira" (Salvador, Bahia)
O "Centro de Estudos Imagens do Inconsciente", da Universidade do Porto (Portugal)
O "Association Nise da Silveira - Images de l'Inconscient" (Paris, França)
o "Museo Attivo delle Forme Inconsapevoli" (hoje renomeado "Museattivo Claudio Costa", Genova, Itália)

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