quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Estados Unidos e a Lei Seca

A chamada Lei Seca entra em vigor no dia 16 de Janeiro de 1920 por força da Emenda nº 18, ela estabelecia a proibição da produção, venda, transporte, importação e exportação de bebidas alcoólicas. Pouco depois inclusive a venda em bares e restaurantes foi banida.
Vigente durante treze anos, a emenda tornou-se um enorme fracasso legislativo. Em vez de acabar com os problemas sociais atribuídos à bebida, a Lei Seca só os estimulou. A medida desmoralizou as autoridades e tornou-se um incentivo à corrupção. Cidades como Chicago e Nova Iorque viram a criminalidade explodir, enquanto a máfia enriquecia com o contrabando de álcool.
Em todo o país, movimentos contra o consumo de bebidas estavam a surgir desde o século XIX. A campanha ganhou escala nacional resultando na aprovação da 18ª Emenda. Meses depois aprovou-se o Acto de Proibição Nacional, também designado Acto de Volstead, uma homenagem a Andrew Volstead, deputado que liderou a iniciativa. Era considerada "intoxicante" qualquer bebida que tivesse mais de 0,5% de álcool (as cervejas mais fracas têm cerca de 2%).
Qual a razão para esta poderosa nação ter dado tanta importância aos malefícios da bebida? A resposta parece residir no protestantismo, predominante nos EUA, e que fez emergir a ideia do "Destino Manifesto": os americanos seriam o povo eleito por Deus para guiar o mundo.
Para manter a nação no caminho certo, a sobriedade deveria ser estabelecida por decreto. A eclosão da Primeira Guerra Mundial colocou, no entanto, o argumento decisivo na boca dos inimigos do álcool. Segundo eles, cereais, malte e açúcar, alimentos básicos, não poderiam ser desperdiçados no fabrico de bebidas alcóolicas em tempos de guerra. Cerveja e vinho seriam, além disso, produtos típicos da inimiga Alemanha , o seu consumo, portanto, um acto pouco patriótico.
Apesar de ter o apoio de muitos sectores da sociedade, a Lei Seca foi ignorada por milhões de norte-americanos. Muitos iam para o Canadá e voltavam com camiões cheios de bebida. Outros faziam no quintal o próprio uísque. Havia ainda quem se passasse por padre ou médico para obter litros de vinho sacramental ou de destilados medicinais.
Rapidamente esta procura de álcool começou a ser atendida de forma organizada. Eram os gangsters da máfia italiana ou da máfia irlandesa. Antes da Lei Seca, estes mafiosos viviam do jogo e da prostituição. Passaram então a dominar também os milionários negócios com bebidas, corrompendo polícias, elegendo políticos e matando os seus concorrentes.
Em Nova Iorque, o principal mafioso era o siciliano Joseph Bonanno, apontado como o inspirador de O Padrinho, baseado no livro de Mario Puzo e que se tornou um clássico do cinema. Já Dean O'Banion inundava o norte de Chicago com cerveja e uísque vindos do Canadá, enquanto Johnny Torrio contratava polícias para proteger os seus interesses no sul da cidade.
Mas nenhum gangster foi tão lendário quanto Alphonse Capone. Filho de napolitanos, nasceu em 1899, em Nova Iorque. Conheceu Johnny Torrio aos 14 anos e, com a Lei Seca, passou a auxiliá-lo no contrabando de bebidas em Chicago.
Quando o rival O'Banion resolveu enfrentá-los, foi morto por Al Capone. Em 1925, Torrio aposentou-se, deixando Chicago inteira para "Al" Capone, que expandiu o seu ‘império’ para cidades como Saint Louis e Detroit.
Em 1931, graças às investigações conduzidas pelo agente fiscal Eliot Ness, líder dos "Intocáveis", grupo de agentes que combatia a máfia, Capone passou cinco anos na prisão de Alcatraz, na Califórnia.

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