ÍNDIOS KANOÊ.
Os Kanoês, também chamados de Canoe, Kapixaná e Kapixanã, integram uma etnia indígena brasileira. Atualmente habitam o estado de Rondônia. A população é de 282 indivíduos de acordo com o senso (Siasi/Sesai, 2012). Pertencem a família linguística Kanoe.
Os kanoê encontram-se relativamente dispersos na região sul do Estado de Rondônia, próxima à fronteira com a Bolívia. É possível, contudo, reconhecer duas situações diferenciadas de contato com a sociedade envolvente entre os grupos dessa etnia. A grande maioria mora ao longo das margens do Rio Guaporé e caracteriza-se por uma antiga inserção no mundo dos “brancos”; em contraste com uma única família composta por três membros que habita o Rio Omerê, afluente do Corumbiara, que foi contatada pela Funai apenas em 1995, quando eram em cinco, e tem se mantido em relativo isolamento. Esses grupos kanoê, cada qual a seu modo, são marcados por histórias trágicas que resultaram numa significativa redução populacional. Hoje lutam por sua sobrevivência física e cultural numa região vastamente ocupada por madeireiros, grileiros e outros agentes que não raro ameaçam a integridade e o usufruto exclusivo de suas terras.
Em sua compleição física, os Kanoê não são corpulentos, tendo uma estatura de mais ou menos 1,70 m. O grupo do Omerê usa os cabelos aparados bem curtos, razão pela qual Munuzinho Kanoê afirmou que esses seus parentes eram conhecidos como “Cabeça Seca”.
Embora atualmente vivam relativamente tristes em decorrência das condições materiais de vida e da falta de perspectivas, os Kanoê são gentis e receptivos. O grupo do Omerê caracteriza-se por um acurado perfeccionismo, que pode ser observado em sua cultura material e na manutenção da aldeia, que tem o pátio sempre muito limpo e varrido, inclusive o caminho que dá acesso ao igarapé. O caminho que leva à aldeia também é mantido limpo e destocado para que os funcionários da Funai ou membros das equipes médica e odontológica que lhes prestam assistência regular possam chegar de motocicleta. Para tanto, Purá sempre que pode parece estar desobstruindo o caminho, destocando-o, aplainando-o e queimando gradualmente uma árvore grossa, tombada na transversal, a qual impedia o acesso do veículo.
Em frente à maloca central onde dormem, sob a cobertura que lhes serve de cozinha, cada um parece ter seu local marcado. Nas visitas à aldeia, quando estavam todos presentes e reunidos, sentavam-se sempre nas mesmas posições: a mãe, Tutuá, sempre ao lado esquerdo do fogão; Txinamanty, cuidando de seu filho Operá ou alimentando-o, sempre numa das extremidades da área da cozinha, frontal à posição de sua mãe; Purá, na outra metade da cozinha, onde também amarram os porcos para serem alimentados.
Os Kanoê relevam-se hospitaleiros e corteses com seus visitantes. Tão logo se chega, oferecem ao visitante uma farta caneca de chicha (uma espécie de suco) de milho, fria e refrescante, levemente adocicada. Depois do contato com a Funai, só bebem água filtrada e preparam suas chichas e outros alimentos com água também tratada em filtros de barro com velas de argila porosa, típicos nas casas brasileiras, pois o acampamento lhes doou um desses aparelhos para protegê-los de possíveis doenças advindas da contaminação das águas do igarapé Omerê. Quando se deixa a aldeia, na despedida procuram sempre ofertar alguma coisa, sobretudo bananas. Do mesmo modo, quando visitam o acampamento da Funai, sempre que podem levam algum agrado, como um peixe, um pedaço de caça ou algumas frutas.
Os Kanoê são agricultores, caçadores, pescadores e coletores. Criam galinhas e porcos-do-mato (queixadas), fazem roças de mandioca, cana-de-açúcar, milho, cará, batata-doce, amendoim e fumo. Cultivam ainda bananas, mamões-papaia e abacaxi.
Para a confecção de suas roças, o local é caprichosamente desmatado, queimado, destocado e capinado. As plantações parecem organizadas em setores específicos: cana-de-açúcar aqui, mandioca ali, amendoim acolá. O mesmo capricho revelam no trato dos animais que criam: as galinhas têm um galinheiro para protegê-las. Os porcos também têm duas casas cujas paredes foram feitas de toras de madeira fincadas lado a lado e cobertas por folhas de palmeira trançadas. As portas, feitas de tábuas de madeira lascada, têm um sistema de travas que lhes permite prender os porcos-do-mato em segurança e protegidos de outros animais carnívoros, sobretudo onças, durante a noite. Também fazem uso das roças do acampamento da Funai, onde arrancam mandiocas e carás, colhem mamões e cachos de coco, sempre que suas roças estão desprovidas. Pelo que pôde ser observado, os Kanoê mantêm uma relação de amizade e cortesia mútua com o pessoal do acampamento.
Outro traço que os caracteriza é a disposição para o trabalho. A velha Tutuá acorda sempre muito cedo e, munida de um facão, de seu arco e suas flechas e de um grande cesto dorsal, sai à procura de cachos de coco, sobretudo na área do acampamento onde há muitas palmeiras. Depois de colhê-los, arranca cada fruto dos cachos, acomoda-os no cesto e volta à aldeia. O peso é grande, mas ela caminha cerca de três quilômetros atenta às possibilidades de encontrar uma caça. De volta à maloca, torra os cocos, aos punhados, nas brasas do fogão. Depois, quadra-os um a um e, com uma faca, retira-lhes a polpa cozida e, à medida que faz isso, vai jogando as porções de massa para os porcos se alimentarem. É uma tarefa diária, repetitiva, que no entanto ela parece fazer sempre bem disposta.Fonte: Povos Indígenas do Brasil.
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