quinta-feira, 12 de março de 2020

Zé Marcolino

Eu tive a feliz oportunidade de conviver com o saudoso poeta Zé Marcolino. O cantador do cariri paraibano (Sumé) teve seu mundo de maior existência entre o Pajeú pernambucano e o Cariri paraibano, sempre levando o canto e a poesia ao povo de ambas as regiões. Fidalgo, Educado, Amigo, Atencioso e comprometido com o Sertão Nordestino, Marcolino foi o estandarte da música de duas regiões onde verteram os mais famosos cantadores de viola do Nordeste. De voz grave e feições de caboclo sério, Marcolino era a suavidade de um alma bondosa e de uma alegria de menino, sempre presente na sua forma de poeta da terra. Não fez uso "profissional" como cantor, tendo apenas gravado um cd (capa acima) produzido e arranjado pelo "Quinteto Violado". O vate/cantador paraibano alimentou a carreira musical de Luiz Gonzaga com grande clássicos que hoje estão imortalizados no cancioneiro popular, como: Sala de Rebôco, Cacimba Nova, Serrote Agudo, A dança de Nicodemos, Coboclo Nordestino e tantos e tantos outros clássicos identificados na voz do "Rei do Baião" e de demais cantores, cantoras, intérpretes e cantadores do Nordeste e de outras regiões do Brasil. Seu instrumento musical era uma caixa de fósforo, tanto para se acompanhar como para compor. O que mais impressionava era o autodidata Marcolino, compondo baiões, xotes, rasta-pés, samba de latada, forrós e lindas canções, as quais louvavam desde uma "Pedra de Amolar" até uma professora através da linda metáfora, como a "Rolinha Branca". Escutar Marcolino na sua voz grave de barítono, ou na grande voz do velho Lula Gonzaga e demais cantores e cantoras nordestinas, nos remete ao Sertão na sua autêntica forma de ser. Nas melodias de Marcolino encontra-se o Sertão alegre nas chuvadas invernosas; na poesia do mestre do Cariri vê-se uma grande fazenda que outrora foi palco e reino de grandes festas de vaquejadas; no lirismo de Marcolino, percebe-se a figura humana na delicadeza de uma "Rolinha Branca", andando e catando pedrinhas pelo chão; no canto lunar do poeta paraibano, vê-se o "Ciúme da Lua" que o poeta sentiu quando os astronautas pisaram no corpo de bela senhora lunar, senhora esta, inspiração e musa de todos os poetas do mundo; enfim, Marcolino nos deixou um legado de canto e poesia que ecoa pelos quatros cantos do Brasil. Hoje, encontra-se no solo paraibano e pernambucano a comunicação de vários sertanejos que tratam uns aos outros de Poeta. Isso, foi criado pelo nosso saudoso Zé Marcolino. O poema abaixo, de minha autoria, foi adaptado e musicado pelo compositor potiguar Galvão Filho, sobre a forma de uma belo Xote. No ano de 2008 o cantador Santana o gravou no seu cd "Forró - a arte do abraço". Gilmar Leite
Saudade de Marcolino
Marcolino, poeta cantador,
A “cacimba” secou de tanto pranto
O “carão” não escuta o teu canto
“Sabiá” padeceu de tanta dor.
O “ciúme da lua” se acabou
Hoje vives morando perto dela
Desenhando teu canto numa tela
Seduzindo-a com tua serenata
Despertando seu riso cor de prata
Num desenho de linda aquarela.
O “serrote agudo” está tristonho
O “fura-barreira já não tem mais casa
“Maribondo” já bateu a sua asa
O “sertão de aço” perdeu o sonho.
Só os vates de cima estão risonhos
O teu canto é a “saudade imprudente”
Que machuca o sertão que há na gente
Como o pranto na “mágoa de um vaqueiro”
Que tristonho, num banco do terreiro,
Faz aboios saudosos e dolente.
Oh! Poeta “caboclo nordestino”
As caboclas “cintura de abelha”
Soltam prantos em forma de centelha
Com saudades do canto campesino.
A “cantiga do vem-vem” pequenino
Sobre os galhos da “flor do cumaru”
Faz sentir Cariri e o Pajeú
A saudade das noites de São João
Ou as tardes tristonhas do sertão
Entre os cantos dolentes do nambu.
Hoje já não se faz a mesma dança
“Nicodemos” partiu pra outros cantos
Não se encontram mais os mesmos recantos
Duma “sala de reboco” com pujança.
A saudade dos “tempos de criança”
A “rolinha” com passos delicados
Um poeta com sonhos encantados
Numa “estrada” pisando no destino
Pra partir nos deixando um lindo hino
Através dos seus cantos coroados.
Gilmar Leite

Um comentário:

  1. Hoje não vemos mais as pessoas dançarem em casas de chão batido, ou em salas rebocadas no barro. São com essas palavras que retrato o esquecimento em que o nosso poeta de duas bandas pernambucana e paraibana, acabou caindo durante esse começo de século 21. Louvo a atitude de pessoas como o amigo, que criou este blog para evitar que a história e seus poetas seja esquecida pelas gerações que estão chegando, mas que nada sabem do que fizeram os poetas que passaram por aqui antes de nós e que deixaram suas marcas pelo lirismo dos anos e os eus dos dias atuais. Parabéms por este blog e por manter viva a história que transpassa o tempo e a memória do verdadeiro caboclo que cheira a terra lavrada e a chiqueiro de porco misturado com pai de chiqueiro, mas que trabalha sol a sol para levar comida a mesa dos brasileiros país a fora e que nunca são reconhecidos por isso e ainda levam o nome de arigó, ou coisa do tipo. Eu me orgulho de ter esse tipo de cheiro misturado e ser filho de um caboclo nordestino e de uma cabocla morena e forte como uma baraúna.

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