Além do Dia da Terra, no dia 22 de abril é comemorado o
Descobrimento do Brasil. Nessa data, em 1500, os navegadores portugueses
chegaram ao território brasileiro. Sob o comando de Pedro Álvares Cabral, eles
tomaram posse da nova terra. Hoje, iremos descercar essa expedição, e esse
vídeo vai dar início a uma nova série da história do Brasil por uma perspectiva
um pouco diferente. Vamos então!
Introdução
Pedro Álvares Cabral nasceu na cidade de Belmonte, na província da
Beira Baixa, em Portugal, provavelmente em 1467. Seu pai, Fernão Cabral,
tinha cargos no governo da região. Por causa de sua origem nobre,
Cabral conseguiu estudar em Lisboa, onde aprendeu sobre humanidades,
ciências e artes militares.
Em 1499, Cabral foi nomeado
capitão-mor, ou comandante, da expedição que viajaria à Índia para continuar o
trabalho de Vasco da Gama que havia retornado a Lisboa em agosto daquele ano.
É importante ressaltar que para os padrões da época, o mar era tido como
algo temido e obscuro, muitos acreditavam que haviam criaturas estranhas e um
abismo no qual as embarcações eram lançadas.
Na ânsia de novas terras a serem exploradas, e detendo um capital
financeiro significativo, Portugal e Espanha, sendo as nações mais poderosas da
época, entraram nessa jornada integrado também ao objetivo de chegar as Índias,
um centro comercial de alta lucratividade com os produtos de especiaria,
contornando o Mar Mediterrâneo.
Então, um Pouco depois do retorno de Vasco da
Gama a Lisboa, em agosto de 1499, D. Manuel I, em parceria com investidores
particulares, organizava uma nova expedição para Calicute. Decidido a
impressionar o monarca local, ou a convencer ele pelas armas, o rei enviava
agora uma expedição ostensivamente rica e poderosa, composta de 13 navios com
uma tripulação estimada de 1.500 homens. Seu comando foi confiado a Pedro
Álvares Cabral. A bordo, estavam presentes alguns dos mais experientes navegadores
portugueses, como Bartolomeu Dias, o mesmo que dobrou o cabo da Boa Esperança,
atingindo pela primeira vez o oceano Índico. Para saber mais sobre esse feito,
assista o vídeo sobre a expansão marítima, esse vídeo está sensacional.
Mas Enfim, estima-se que em dezembro de 1498,
uma frota de oito navios, sob o comando de Duarte Pacheco Pereira, atingiu o
litoral brasileiro e chegou a explorá-lo, à altura dos atuais Estados do Pará e
do Maranhão. Essa primeira chegada dos portugueses ao continente sul-americano supostamente
foi mantida em rigoroso segredo. Estadistas hábeis, os dois últimos reis de
Portugal entre os séculos 15 e 16 – D. João II e D. Manuel I – procuravam
impedir que os espanhóis tivessem conhecimento de seus projetos.
A partida da armada de Cabral foi programada
para 8 de março de 1500, embora tenha sido adiada para o dia seguinte, devido
ao mau tempo. Uma cerimônia espetacular foi organizada na ocasião pelo rei de
Portugal. Toda a população de Lisboa – cerca de 60 mil pessoas – foi convocada
para assistir, isso era uma forma de oficializar o pioneirismo português no
caminho da Índia, assegurando para o reino luso os direitos do comércio com o
Oriente.
A expedição que saiu de
Lisboa, era composta por 10 naus e 3 caravelas, 1500 homens, sendo 700
soldados; os demais eram pessoas comuns que não tinham nenhum treinamento ou
experiência em combate anterior. Os navegadores mais experientes foram
destacados para acompanhar Cabral, entre eles:
Bartolomeu Dias, Diogo Dias irmão de
Bartolomeu, Nicolau Coelho: experiente nessa rota marítima sendo que participou
da viagem de Vasco da Gama.
A nau de Cabral era formada por sete soldados da
guarda pessoal do comandante, mais 80 marinheiros, 70 soldados e 33
passageiros, dentre os quais sete serviçais, dois presos, oito frades
franciscanos e oito intérpretes. Havia, portanto, 190 homens no navio de
Cabral.
Os marinheiros da frota de
Cabral tinham salários de 10 cruzados por mês. Os soldados recebiam 5 cruzados.
Afonso Furtado era o
escrivão e notário da frota de Cabral. Também era responsável pela despensa,
onde estavam guardados os víveres. Todos a bordo recebiam rações rigorosamente
iguais: 15 quilos de carne salgada por mês, mais cebola, vinagre, vinho e
azeite.
Foi no dia 23 de março de
1500, às 8 horas da manhã, que a primeira de uma série de tragédias se abateu
sobre a frota de Cabral: um dos navios, comandado por Vasco de Ataíde,
simplesmente desapareceu, sem que houvesse motivo para tal. Cento e cinquenta
homens então podem ter sido engolidos pelo mar.
Entediados pela viagem que
durou cerca de um mês e meio até o Brasil, os marinheiros criavam passatempos.
Os preferidos eram apostas, como jogos de cartas e dados. Os padres,
responsáveis por manter a moral a bordo, monitoravam a jogatina, celebravam missas
e cuidavam dos doentes, já que não havia médicos. Os barbeiros, que
aparavam o cabelo e a barba dos marujos, auxiliavam os padres no atendimento
aos enfermos.
Apenas os mais graduados
tinham o luxo de um quarto e uma cama. Os marinheiros dormiam sob o castelo da
popa, a estrutura mais alta do navio. Como não cabia muita gente ali, o jeito
era dormir no convés, ao relento, em frágeis colchões de palha. Os porões eram
reservados para guardar água, mantimentos e munição.
A sujeira reinava. Como não
havia banheiros, as necessidades eram feitas no mar ou nos porões. Ratos
infestavam os navios e transmitiam doenças. A falta de banho também contribuía
para tornar a higiene a bordo calamitosa. Não à toa, das 1,5 mil pessoas que
embarcaram, apenas 500 voltaram vivas a Portugal.
As condições de alimentação
e higiene eram precárias e nocivas. A falta de vitamina C causava o escorbuto,
doença que provoca perda de dentes, dificuldades de cicatrização, anemia e
hemorragias. O contato com bichos a bordo causava diarreia e piolhos. Os males
mais frequentes eram enjoos e vômitos. O castigo para quem não cumpria as
regras nos navios era ficar no porão, tirando a água que entrava pelo fundo da
embarcação.
A base da alimentação a
bordo era um biscoito duro e salgado, geralmente podre e muito fedorento.
O vinho e a água eram
entregues diariamente. Cada homem a bordo tinha direito a 1,4 litro diário de
vinho, que era armazenado em cerca de 200 pipas em cada navio. A água, para
beber e cozinhar, era fornecida também na mesma quantidade do vinho. Armazenada
em tonéis de madeira, essa água cheirava mal por causa da falta de higiene dos
recipientes. Infecções e diarreias eram muito comuns.
A viagem de Cabral foi a
primeira a usar sistematicamente o astrolábio. Parecido com uma pequena roda, o
aparelho mede a altura do Sol ao meio-dia, a das estrelas à noite e fornece a
latitude. Por outro lado, a medição da longitude nunca foi precisa.
Ao lado de Cabral viajava um
cirurgião chamado Mestre João, homem que se tornaria célebre ao redigir uma das
únicas cartas relativas à viagem do Descobrimento do Brasil.
Mas, os fatos a respeito do descobrimento do
Brasil começam a ficar estranhos, sem um motivo claro, os navegadores saíram da
rota inicial e passaram a navegar pelo Atlântico, também chamado de “oceano
longo”. Entretanto, o mais interessante de tudo é que, além de Cabral, estavam
nessa viagem navegadores experientes.
Por muito tempo, os estudiosos afirmaram que
a frota de Cabral se desviou do rumo previsto devido a ventos e tempestades.
Assim, a chegada à costa brasileira teria acontecido por acaso. Mais tarde,
essa versão foi questionada. Os historiadores ainda discutem se Cabral planejou
chegar à América ou não.
Em 22 de abril, marinheiros deram o grito de “terra à vista”. Segundo
registros, o primeiro pedaço de terra que a tripulação viu foi uma
pequena montanha. Como era época de Pascoal, ela recebeu o nome de monte
Pascoal. Cabral permaneceu em seu navio e mandou à terra Nicolau
Coelho, Gaspar da Gama, um marinheiro da Guiné e um escravo de Angola,
como interpretes. Quando chegaram à praia, estavam à espera deles cerca
de vinte índios. Por causa do barulho do mar e a diferença de línguas,
não foi possível um entendimento entre eles.
Os portugueses, para obter
água potável dos índios, ofereciam toucas vermelhas que os marinheiros usavam
durante a viagem, e ainda recebiam dos índios papagaios e araras.
Cabral nomeou a terra de Ilha de Vera Cruz, achando, a princípio se
tratar de uma porção de terra menor do que o imaginado. Pero Vaz de
Caminha escreveu uma carta para o rei de Portugal, contando sobre as
terras e os índios que ali já habitavam. Essa carta é considerada o
primeiro documento da história do Brasil.
No dia 24 de Abril, Andreza Balbino e Cabral receberam os nativos no
seu navio. Então, acompanhado de Sancho de Tovar, Simão de Miranda,
Nicolau Coelho, Aires Correia e Pero Vaz de Caminha, recebeu o grupo de
índios que reconheceram de imediato o ouro e a prata que tinha no navio,
o que fez com que os portugueses inicialmente acreditassem que havia
muito ouro naquela terra. Entretanto, Caminha, em sua carta, confessa
que não sabia dizer se os índios diziam mesmo que ali havia ouro, ou se o
desejo dos navegantes pelo metal era tão grande que eles não
conseguiram entender diferentemente. Posteriormente, se provou que a
segunda alternativa era a verdadeira.
O encontro entre portugueses e índios também está documentado na
carta escrita por Caminha. O choque cultural foi evidente. Os indígenas
não reconheceram os animais que traziam os navegadores, à exceção de um
papagaio que o capitão trazia consigo; ofereceram-lhes comida e vinho,
os quais os índios rejeitaram. A curiosidade tocou-lhes pelos objetos
não reconhecidos — como umas Contas de Rosário, e a surpresa dos
portugueses pelos objetos reconhecidos — os metais preciosos. Foi
curioso e absurdo aos portugueses o fato de Cabral está vestido com
todas as vestimentas e adornos os quais tinha direito um capitão-mor na
frente dos índios e eles, por sua vez, terem passado por sua frente sem
diferenciá-lo dos demais tripulantes.
Os indígenas começaram a tomar conhecimento da fé dos portugueses ao
assistirem a primeira Missa rezada por Frei Henrique de Coimbra, em um
domingo, 26 de abril de 1500.
No dia 1º de maio, uma outra missa foi rezada e também realizada a
posse oficial da terra. A cruz feita para a celebração da segunda missa
no Brasil tinha aproximadamente sete metros e foi fincada para assinalar
o local onde ficariam dois degredados e onde os futuros navegantes
poderiam encontrar boa água. Depois de dez dias na “ilha de Vera Cruz”,
Cabral ordenou a partida da frota. Providenciou que a nau comandada por
Gaspar de Lemos retornasse a Portugal para dar as boas novas ao rei. O
navio, tripulado por 80 homens, levava toras de pau-brasil, amostras de
plantas recolhidas na nova terra e artefatos indígenas como arcos,
flechas, cocares, bodoques, além de duas araras que causaram espanto na
Corte. Junto foram enviadas cartas de Cabral e dos outros capitães, dos
escrivães incluindo Pero Vaz de Caminha (que não era o escrivão oficial
da expedição), religiosos, fidalgos e as mensagens enviadas pelos
soldados e marujos a seus familiares. De toda essa documentação só
restaram a Relação do Piloto Anônimo e as cartas de Mestre João Faras e
de Pero Vaz de Caminha. Todo o restante desapareceu no grande incêndio
que se alastrou por Lisboa em 1580 ou no terremoto seguido de incêndio
de 1755. Na “ilha de Vera Cruz” ficaram, ainda, dois degredados – Afonso
Ribeiro e João de Thomar – além de dois ou cinco grumetes que
desertaram da nau capitânia. Os degredados permaneceram vinte meses na
terra tendo sido resgatados na expedição de Gonçalo Coelho, em
1501-1502. No regresso a Portugal, os dois tiveram que dar um depoimento
minucioso sobre o que viram durante os quase dois anos que permaneceram
no que hoje é o sul da Bahia.
A Relação do Piloto Anônimo é o único
testemunho direto sobre a continuação da viagem de Cabral. Graças a
esse documento ficamos sabendo o que aconteceu com Cabral na Índia. A
frota de Cabral, agora com 11 navios, retomou sua missão rumo à Índia em
3 de maio de 1500. Navegando ao longo da costa brasileira, em direção
ao sul, se convenceu pela extensão da terra que se tratava de um
continente, ao invés de uma ilha. No dia 23 ou 24 de maio, quando se
aproximava do Cabo da Boa Esperança, caiu uma violenta tempestade que
ergueu ondas tão altas capazes de engolirem os navios. Quatro naus
naufragaram se perdendo 380 homens, entre eles Bartolomeu Dias que doze
anos antes havia contornado, com sucesso, o mesmo cabo, então chamado
Cabo das Tormentas. O navio de Diogo Dias se desgarrou e, navegando
sozinho, foi parar em Mogadíscio, na Etiópia. Foi o primeiro europeu a
navegar o Mar Vermelho. Só seria encontrado um ano depois, na viagem de
regresso de Cabral.
Com a expedição reduzida a seis navios, Cabral
chegou em Calicute em 13 setembro de 1500, seis meses depois de deixar
Lisboa. Calicute, era a mais importante cidade da costa ocidental da
Índia, onde mercadores árabes e chineses comercializavam havia séculos.
Era governada pelo Samorim, governante hindu de Calicute. Foi em
Calicute que Vasco da Gama chegou dois anos antes, e não teve sucesso em
suas negociações. Vasco da Gama, contudo, conseguiu obter uma carta
ambígua de concessão de direitos para comercializar. Cabral presenteou o
Samorim com moedas de ouro e prata e teve êxito nas negociações: foi
autorizado a instalar uma feitoria e um armazém na cidade. Por três
meses, os portugueses permaneceram neste rico centro comercial do
Índico. Até que a situação mudou.
A chegada dos portugueses não foi
bem-vinda pelos mercadores muçulmanos que controlavam as principais
rotas comerciais do Índico. E as tensões logo se transformaram em
conflito armado. Em dezembro a feitoria sofreu um ataque de surpresa de
árabes muçulmanos e indianos hindus. Os relatos divergem no número dos
atacantes: de 300 a milhares. Morreram cerca de 50 portugueses, entre
eles Pero Vaz de Caminha e seis franciscanos. Cabral esperou 24 horas
para obter uma explicação do governante de Calicute, mas nenhum pedido
de desculpas foi apresentado. Indignado, ordenou o ataque e o saque de
10 navios mercantes árabes ancorados no porto matando cerca de 600
tripulantes. Ordenou, também, o bombardeio de Calicute por dois dias. Em
seguida, a expedição de Cabral zarpou para Cochim, cidade hindu ao sul
de Calicute. A cidade era território vassalo de Calicute e viu nos
portugueses a oportunidade de se libertar do samorim. O rajá de Cochim
autorizou a instalação de uma feitoria portuguesa. Foi ali que Cabral
acumulou as tão cobiçadas especiarias para retornar a Portugal.
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