sábado, 3 de agosto de 2019

3 de agosto - Dia do Tintureiro.

A partir do século XIV, triunfaram, sobre as vestes, não só dos nobres, mas também da rica burguesia, tecidos preciosos e coloridíssimos graças à habilidade dos tintureiros que, com o tempo, foram adquirindo uma perícia cada vez maior.
Obter cores brilhantes e permanentes não era simples e custava muito também por conta das matérias-primas utilizadas. Por exemplo, o azul em sua vasta gama de tonalidades era obtido a partir do pastel (Isatis Tinctoria), uma planta de origem oriental cuja produção estendeu-se pela Toscana, Emília e na região do Piemonte e da Lombardia.
As folhas, trituradas em moinhos próprios para isso, eram depois dessecadas e embaladas. Antes de ser utilizadas – junto com os fixadores em um banho onde se imergiam os panos para serem tingidos – tinham de passar por uma série de tratamentos: quanto mais intensa era a cor desejada, mais alto o custo de produção.
O mesmo valia para as outras cores. Além de corresponder a ideais estéticos e de gosto, tinham uma determinada função simbólica. O Papa Inocêncio III, no Concílio de Latrão de 1215, por exemplo, decretou no cânone 68 que hebreus e muçulmanos deviam usar vestes ou cores particulares demodo que pudessem ser reconhecidos pelos demais membros da comunidade “qualitate habitus” (pela forma de se vestir).
Aos hebreus foi imposto ora o uso de um tipo de chapéu, ora de um indicativo em cor amarela, considerada a cor da infâmia e da traição: geralmente se tratava de um círculo, enquanto a tristemente famosa estrela dessa cor surgiu pela primeira vez em Verona no ano de 1433. O amarelo era, em certos casos, obrigatório também para as prostitutas que, desse modo – além da liberdade de maquiar-se e vestir-se como quisessem –, se distinguiam das demais mulheres “respeitáveis”.
Outras marcas de indentificação eram costuradas também nas vestes de algumas categorias de doentes considerados altamente contagiosos como os leprosos, que ademais viviam segregados às margens das cidades. Por isso, o amarelo não era muito benquisto.
As cores mais usadas eram o vermelho, o verde e, do século XIII em diante, o azul. Este último, até então visto como tinta eminentemente barbárica, do século XIII em diante foi-se impondo concomitantemente com o culto mariano (Nossa Senhora tinha o manto azul) e tornou-se sinônimo de realeza e nobreza concorrrendo com o clássico vermelho escarlate (termo que, originariamente, significava simplesmente puro e se aplicava a todas as cores, mas que passou, aos poucos, a impor-se como sinônimo do vermelho por antonomásia).
O preto, ao contrário, geralmente associado ao luto, do século XIII em diante se afirmou cada vez mais como cor de prestígio e distinção para algumas profissões como juízes, notários, homens das leis. Em Veneza, era a cor da nobreza, dos médicos e dos advogados, mas também dos paramentos festivos.
Quanto aos materiais, se o couro tinha sempre sido comum em todas as classes para os calçados e acessórios desde a Alta Idade Média, por ser prático, fácil de consertar e de adquirir, as peles – sobretudo aquelas para revestimento e proteção, como de martas, zibelinas, esquilos e outros pequenos roedores – ficavam reservados apenas aos mais afortunados. As classes pobres, para se cobrirem, se arranjavam com peles mais modestas, obtidas de animais domésticos ou de criação como ovelhas e cabritos, coelhos, fuinhas, raposas e até mesmo gatos.
O material mais comum era a lã – protetora no inverno e fresca no verão – seguida pelo linho e por outras fibras naturais como o fustão, produzido a partir do algodão. Com a retomada do comércio e dos contatos com o Oriente, porém, para os ricos a seda tornou-se um artigo indispensável; nos séculos XIV e XV, os calçados e as bolsas mais fashion eram desse material, assim como, de resto, as roupas. Tudo isso, naturalmente, sob auspício das desesperadas tentativas por parte das autoridades citadinas ou dos soberanos, com leis limitativas cada vez menos obedecidas, de manter bem claras as distinções sociais.
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FONTE: "A vida secreta da Idade Média: fatos e curiosidades do milênio mais obscuro da história" - por Elena Percivaldi. Petrópolis, RJ. Vozes, 2018.
ARTE: Antiga litografia colorida alemã, impressa em 1894, representando algumas vestimentas medievais

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