A partir do século XIV, triunfaram, sobre as vestes, não só dos
nobres, mas também da rica burguesia, tecidos preciosos e coloridíssimos
graças à habilidade dos tintureiros que, com o tempo, foram adquirindo
uma perícia cada vez maior.
Obter cores brilhantes e permanentes
não era simples e custava muito também por conta das matérias-primas
utilizadas. Por exemplo, o azul em sua vasta gama de tonalidades era
obtido a partir do pastel (Isatis Tinctoria), uma planta de origem
oriental cuja produção estendeu-se pela Toscana, Emília e na região do
Piemonte e da Lombardia.
As folhas, trituradas em moinhos
próprios para isso, eram depois dessecadas e embaladas. Antes de ser
utilizadas – junto com os fixadores em um banho onde se imergiam os
panos para serem tingidos – tinham de passar por uma série de
tratamentos: quanto mais intensa era a cor desejada, mais alto o custo
de produção.
O mesmo valia para as outras cores. Além de
corresponder a ideais estéticos e de gosto, tinham uma determinada
função simbólica. O Papa Inocêncio III, no Concílio de Latrão de 1215,
por exemplo, decretou no cânone 68 que hebreus e muçulmanos deviam usar
vestes ou cores particulares demodo que pudessem ser reconhecidos pelos
demais membros da comunidade “qualitate habitus” (pela forma de se
vestir).
Aos hebreus foi imposto ora o uso de um tipo de chapéu,
ora de um indicativo em cor amarela, considerada a cor da infâmia e da
traição: geralmente se tratava de um círculo, enquanto a tristemente
famosa estrela dessa cor surgiu pela primeira vez em Verona no ano de
1433. O amarelo era, em certos casos, obrigatório também para as
prostitutas que, desse modo – além da liberdade de maquiar-se e
vestir-se como quisessem –, se distinguiam das demais mulheres
“respeitáveis”.
Outras marcas de indentificação eram costuradas
também nas vestes de algumas categorias de doentes considerados
altamente contagiosos como os leprosos, que ademais viviam segregados às
margens das cidades. Por isso, o amarelo não era muito benquisto.
As cores mais usadas eram o vermelho, o verde e, do século XIII em
diante, o azul. Este último, até então visto como tinta eminentemente
barbárica, do século XIII em diante foi-se impondo concomitantemente com
o culto mariano (Nossa Senhora tinha o manto azul) e tornou-se sinônimo
de realeza e nobreza concorrrendo com o clássico vermelho escarlate
(termo que, originariamente, significava simplesmente puro e se aplicava
a todas as cores, mas que passou, aos poucos, a impor-se como sinônimo
do vermelho por antonomásia).
O preto, ao contrário, geralmente
associado ao luto, do século XIII em diante se afirmou cada vez mais
como cor de prestígio e distinção para algumas profissões como juízes,
notários, homens das leis. Em Veneza, era a cor da nobreza, dos médicos e
dos advogados, mas também dos paramentos festivos.
Quanto aos
materiais, se o couro tinha sempre sido comum em todas as classes para
os calçados e acessórios desde a Alta Idade Média, por ser prático,
fácil de consertar e de adquirir, as peles – sobretudo aquelas para
revestimento e proteção, como de martas, zibelinas, esquilos e outros
pequenos roedores – ficavam reservados apenas aos mais afortunados. As
classes pobres, para se cobrirem, se arranjavam com peles mais modestas,
obtidas de animais domésticos ou de criação como ovelhas e cabritos,
coelhos, fuinhas, raposas e até mesmo gatos.
O material mais
comum era a lã – protetora no inverno e fresca no verão – seguida pelo
linho e por outras fibras naturais como o fustão, produzido a partir do
algodão. Com a retomada do comércio e dos contatos com o Oriente, porém,
para os ricos a seda tornou-se um artigo indispensável; nos séculos XIV
e XV, os calçados e as bolsas mais fashion eram desse material, assim
como, de resto, as roupas. Tudo isso, naturalmente, sob auspício das
desesperadas tentativas por parte das autoridades citadinas ou dos
soberanos, com leis limitativas cada vez menos obedecidas, de manter
bem claras as distinções sociais.
.....
FONTE: "A vida
secreta da Idade Média: fatos e curiosidades do milênio mais obscuro da
história" - por Elena Percivaldi. Petrópolis, RJ. Vozes, 2018.
ARTE: Antiga litografia colorida alemã, impressa em 1894, representando algumas vestimentas medievais
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