quinta-feira, 13 de junho de 2019

13 de junho - aniversário do Bairro da Lapa.

A LAPA - Boemia a cada esquina. Reduto de jornalistas, músicos, malandros e prostitutas. Na Montmartre carioca até Carmen Miranda é “safa”.
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APP: ANTES DE PEREIRA PASSOS - Antes do bota-abaixo, iniciado em 1902, a Lapa ainda era um bairro habitado por famílias abastadas. Sua formação se iniciou com a construção de casarões a partir da chegada da Corte portuguesa ao Rio. E bem antes disso, a Lapa era apenas uma imensidão de terras, um lugar inóspito, com pouquíssimas edificações, cortado pela estrada do Mata-Cavalo (atual rua Riachuelo).
DPP: DEPOIS DE PEREIRA PASSOS - Com a destruição dos cortiços, do morro do Castelo e de inúmeras construções nas redondezas do Centro, a Lapa se transformou em um bairro de pessoas em situação-limite, muita prostituição e algumas casas superlotadas – ao lado de antigos moradores. Em paralelo, uma boa parte do contingente de pessoas abastadas migrava para a Zona Sul. Foi nessa época que proliferaram os rendez-vous, as casas de jogo, as tabernas e os cabarés. Enfim, solo perfeito para florescer a história da boemia. Um universo cuja essência era de decadência, vício, luxúria e malandragem.
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A PORTUGUESA CARMEN NUNCA ABRIU UM LIVRO NA VIDA, MAS…
Apesar desse lado noturno da Lapa, durante o dia a vida era normal. Pensões, barbearias, farmácias e até escolas. Inclusive era numa delas que Carmen Miranda estudava. Vale aqui uma paradinha para a história da Pequena Notável. Nascida em Portugal, filha de um barbeiro boêmio, foi educada nesse fervilhante caldeirão chamado Lapa, e não é exagero dizer que Maria do Carmo Miranda da Cunha se transformou em furacão graças às suas raízes lapianas. Quem afirma isso é Ruy Castro, em Carmen: uma biografia . Ele conta ainda que Carmen jamais abriu um livro na vida. Tudo que aprendeu foi na melhor das universidades: a rua. Desde a adolescência, suas gírias eram as aprendidas na Lapa.
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Pequeno dicionário delicioso de gírias lapianas de Carmen
- Uma coisa boa e diferente era “de matar”; um sucesso era “um chuá”; dinheiro era “arame”; fugir ou desaparecer era “azular”; flertar ou exibir-se era “fazer farol”. Além de muitos palavrões, que Carmen desde muito cedo incorporou ao seu dia a dia. A Lapa dos anos 1920 era um verdadeiro Montmartre carioca. Reduto de jornalistas, artistas, músicos e pintores. E foi nesse ambiente, que misturava Villa-Lobos e Di Cavalcanti com malandros e lendários cafetões como Camisa Preta e Mete-Braço, que Carmen aprendeu a ser “safa”. Esse riquíssimo universo certamente influenciou a construção da sua estética, tão peculiar e criativa. Onde tudo-junto-e-misturado se transformava em um visual fascinante. Uma mulher-farol, que iluminava à distância!
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PARAÍSO DE MALANDROS E CAFETÕES
No reino da malandragem e dos cafetões, era comum o uso de navalha no bolso de trás. Foi nessa época que surgiu a brincadeira “Tem pente aí?”. Naquele território, quando as tribos se encontravam, era comum passar a mão na bunda do amigo. Não de viadagem, mas uma busca sutil para checar se o outro escondia alguma navalha no bolso. Rapidamente, virou uma febre nas ruas. O pente se abria em formato de navalha, em homenagem ao hábito das armas escondidas. (Dando o merecido crédito, essa história é de um jornalista chamado José Milbs, que contribui com a memória carioca através de suas recordações pessoais do Rio antigo no jornal que edita na web, O Rebate.)
E, para fechar com chave de ouro, um trecho da música “História da Lapa”, composta por Wilson Batista e Jorge de Castro e cantada por Nelson Gonçalves, que era assíduo frequentador do bairro onde os nobres eram as putas, malandros e cafetões (e dizem até que ele tinha a maior moral em cima do mulherio):
Lapa dos capoeiras
Miguelzinho, Camisa Preta
Meia-Noite e Edgar
Lapa, minha Lapa Boêmia
A lua só vai pra casa
Depois do sol raiar.
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FONTE: "Carmen, uma biografia" - por Ruy Castro.

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