"O dia que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz [...]
era a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que
Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra
que havia descoberta de Santa Cruz e por este nome foi conhecida muitos
anos.
Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o
domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que
tinha em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome e
lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor
abrasada e vermelha com que tingem panos, que o daquele divino pau, que
deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja..."
▪ Frei Vicente do Salvador, em "História do Brasil" (1627).
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- O Pau–Brasil foi explorado durante 375 anos ininterruptos de forma
desordenada e selvagem, o que veio a provocar o seu atual estado de
extinção do habitat natural, pois se estendia na faixa litorânea
brasileira desde o Estado do Rio Grande do Norte até o Estado do Rio de
Janeiro.
A árvore que dá nome ao nosso país foi declarada Árvore
Nacional no dia 07 de dezembro de 1978, sendo a única protegida por Lei.
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Para os recém-chegados (século 16), a atividade possível vinha da
exploração do pau-brasil, bela árvore que tem entre 10 e 15 metros de
altura e se espalhava nas matas, do Rio Grande do Norte ao Rio de
Janeiro. E a extração da caesalpnia echinata, com suas perfumadas flores
de pétalas amarelas e vermelhas, se fazia com os índios. Primeiro eles
ensinavam - e depois ajudavam - a abater, cortar e transportar até as
praias.
Notícias do século XII indicam a presença da árvore na
Itália, na França e em Flandres. No século XIII, passava, olímpico, às
alfândegas de Gênova, Ferrara e Módena. A Espanha passou a importá-lo e
em Portugal, desde o reinado de D. Duarte e D. Afonso V, já era
empregado. Seu valor no mercado europeu justificava o interesse em
arrancá-lo de nossas matas.
Segundo Gaspar Correia, em seu "Lendas da Índia", Pedro Álvares Cabral já teria levado consigo um primeiro carregamento.
Do nascer ao pôr do sol, grupos que incluíam estrangeiros – franceses
ou ingleses – se atarefavam na atividade que, quando se fazia como
contrabando, era realizada às escondidas, numa pequena baía ou praia
abrigada. Afinal, o pau-brasil era monopólio da Coroa e sobre sua
extração pesavam impostos dos quais se tentava escapar.
Datam de
1505 as primeiras contas da Feitoria de Antuérpia, encarregada da
distribuição oficial de pau-brasil: cerca de 20 mil quintais por ano.
Carregada em Cabo Frio, a preciosa madeira seguia junto com papagaios,
periquitos, macacos e, sempre, índios.
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- Abaixo, testemunho de Jean de Léry sobre o tráfico de pau-brasil no Rio de Janeiro por volta de 1555:
"Tanto por causa da dureza e, conseqüentemente, da dificuldade que
existe em cortar essa madeira, quanto por não existirem nessa terra
cavalos, asnos nem outros animais para transportar, carrear ou arrastar
os fardos, é absolutamente necessário que sejam os homens a fazer esse
serviço, e os estrangeiros que por lá viajam, se não fossem auxiliados
pelos selvagens, não poderiam carregar um navio médio em um ano.
Portanto, em troca de alguns trajes de frisa, camisas de algodão,
chapéus, facas e outras mercadorias que lhes são entregues, os
selvagens, com as machadinhas, as cunhas de ferro e outras ferramentas
que os franceses e outros daqui lhes dão, não somente cortam, serram,
racham, toram e arredondam esse pau-brasil, mas também o transportam
sobre os ombros nus, no mais das vezes até por uma ou duas léguas,
através de montanhas e léguas bastante incômodas, até a beira do mar,
junto às embarcações que estão ancoradas, onde os marinheiros o recebem.
Digo expressamente que os selvagens, desde que os franceses e os
portugueses frequentam seu país, cortam seu pau-brasil: pois antes,
conforme ouvi dos anciãos, não tinham quase nenhum modo de abater uma
árvore, exceto o de atear-lhe fogo ao pé".
Jean de Léry,
"Histoire d'un voyage faict en terre du Brésil" (1578), 2a edição, 1580,
editado por Frank Lestringant, Montpellier Max Chaleil ed., "Classiques
du protestantisme", 1992, p. 81.
- Jean de Léry foi um pastor,
missionário e escritor francês e membro da igreja reformada de Genebra
durante a fase inicial da Reforma Calvinista.
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FONTES:
1. "Histórias da Gente Brasileira - vol. 1: Colônia", Copyright © 2016 Mary del Priore, Ed. Leya
2. IFRN - Instituto Federal do Rio Grande do Norte
3. "A Historia do Rio de Janeiro", por Armelle Enders
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MONTAGEM:
1. Na linha de cima, a árvore do pau-Brasil e suas flores.
2. No centro, "Pau-brasil" (detalhe) - por Cândido Portinari, pintor brasileiro (1903-1962)
3. Embaixo, à esquerda: "Derrubada do Pau-brasil"- Ilustração do século
XVI do Frei André Thévet, frade franciscano francês e escritor
(1502-1590) - Thévet viajou ao Brasil no século XVI e escreveu sobre os
costumes do lugar.
4. À direita, ilustração de artista desconhecido.
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