sexta-feira, 3 de maio de 2019

3 de maio - DIA DO PAU-BRASIL.

"O dia que o capitão-mor Pedro Álvares Cabral levantou a cruz [...] era a 3 de maio, quando se celebra a invenção da Santa Cruz em que Cristo Nosso Redentor morreu por nós, e por esta causa pôs nome à terra que havia descoberta de Santa Cruz e por este nome foi conhecida muitos anos.
Porém, como o demônio com o sinal da cruz perdeu todo o domínio que tinha sobre os homens, receando perder também o muito que tinha em os desta terra, trabalhou que se esquecesse o primeiro nome e lhe ficasse o de Brasil, por causa de um pau assim chamado de cor abrasada e vermelha com que tingem panos, que o daquele divino pau, que deu tinta e virtude a todos os sacramentos da Igreja..."
Frei Vicente do Salvador, em "História do Brasil" (1627).
.....
- O Pau–Brasil foi explorado durante 375 anos ininterruptos de forma desordenada e selvagem, o que veio a provocar o seu atual estado de extinção do habitat natural, pois se estendia na faixa litorânea brasileira desde o Estado do Rio Grande do Norte até o Estado do Rio de Janeiro.
A árvore que dá nome ao nosso país foi declarada Árvore Nacional no dia 07 de dezembro de 1978, sendo a única protegida por Lei.
.....
Para os recém-chegados (século 16), a atividade possível vinha da exploração do pau-brasil, bela árvore que tem entre 10 e 15 metros de altura e se espalhava nas matas, do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. E a extração da caesalpnia echinata, com suas perfumadas flores de pétalas amarelas e vermelhas, se fazia com os índios. Primeiro eles ensinavam - e depois ajudavam - a abater, cortar e transportar até as praias.
Notícias do século XII indicam a presença da árvore na Itália, na França e em Flandres. No século XIII, passava, olímpico, às alfândegas de Gênova, Ferrara e Módena. A Espanha passou a importá-lo e em Portugal, desde o reinado de D. Duarte e D. Afonso V, já era empregado. Seu valor no mercado europeu justificava o interesse em arrancá-lo de nossas matas.
Segundo Gaspar Correia, em seu "Lendas da Índia", Pedro Álvares Cabral já teria levado consigo um primeiro carregamento.
Do nascer ao pôr do sol, grupos que incluíam estrangeiros – franceses ou ingleses – se atarefavam na atividade que, quando se fazia como contrabando, era realizada às escondidas, numa pequena baía ou praia abrigada. Afinal, o pau-brasil era monopólio da Coroa e sobre sua extração pesavam impostos dos quais se tentava escapar.
Datam de 1505 as primeiras contas da Feitoria de Antuérpia, encarregada da distribuição oficial de pau-brasil: cerca de 20 mil quintais por ano. Carregada em Cabo Frio, a preciosa madeira seguia junto com papagaios, periquitos, macacos e, sempre, índios.
.....
- Abaixo, testemunho de Jean de Léry sobre o tráfico de pau-brasil no Rio de Janeiro por volta de 1555:
"Tanto por causa da dureza e, conseqüentemente, da dificuldade que existe em cortar essa madeira, quanto por não existirem nessa terra cavalos, asnos nem outros animais para transportar, carrear ou arrastar os fardos, é absolutamente necessário que sejam os homens a fazer esse serviço, e os estrangeiros que por lá viajam, se não fossem auxiliados pelos selvagens, não poderiam carregar um navio médio em um ano. Portanto, em troca de alguns trajes de frisa, camisas de algodão, chapéus, facas e outras mercadorias que lhes são entregues, os selvagens, com as machadinhas, as cunhas de ferro e outras ferramentas que os franceses e outros daqui lhes dão, não somente cortam, serram, racham, toram e arredondam esse pau-brasil, mas também o transportam sobre os ombros nus, no mais das vezes até por uma ou duas léguas, através de montanhas e léguas bastante incômodas, até a beira do mar, junto às embarcações que estão ancoradas, onde os marinheiros o recebem. Digo expressamente que os selvagens, desde que os franceses e os portugueses frequentam seu país, cortam seu pau-brasil: pois antes, conforme ouvi dos anciãos, não tinham quase nenhum modo de abater uma árvore, exceto o de atear-lhe fogo ao pé".
Jean de Léry, "Histoire d'un voyage faict en terre du Brésil" (1578), 2a edição, 1580, editado por Frank Lestringant, Montpellier Max Chaleil ed., "Classiques du protestantisme", 1992, p. 81.
- Jean de Léry foi um pastor, missionário e escritor francês e membro da igreja reformada de Genebra durante a fase inicial da Reforma Calvinista.
.....
FONTES:
1. "Histórias da Gente Brasileira - vol. 1: Colônia", Copyright © 2016 Mary del Priore, Ed. Leya
2. IFRN - Instituto Federal do Rio Grande do Norte
3. "A Historia do Rio de Janeiro", por Armelle Enders
.....
MONTAGEM:
1. Na linha de cima, a árvore do pau-Brasil e suas flores.
2. No centro, "Pau-brasil" (detalhe) - por Cândido Portinari, pintor brasileiro (1903-1962)
3. Embaixo, à esquerda: "Derrubada do Pau-brasil"- Ilustração do século XVI do Frei André Thévet, frade franciscano francês e escritor (1502-1590) - Thévet viajou ao Brasil no século XVI e escreveu sobre os costumes do lugar.
4. À direita, ilustração de artista desconhecido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário