Quem conhece as cidades históricas
mineiras e brasileiras, percebe que nelas há algo em comum: a Rua
Direita. Toda cidade antigamente tinha que ter uma rua com esse nome.
Diamantina, Ouro Preto, São João Del Rei, Tiradentes, Sabará, Serro,
Santa Luzia (na foto acima do Barbosa),
etc. Era geralmente a principal rua da cidade e onde moravam as
famílias mais ricas. Literalmente, não é direita, é toda sinuosa, poucas
ruas com esse nome são em linha reta. Mas por que antigamente toda
cidade tinha que ter uma rua com esse nome?
Nominar de Rua Direita a principal
rua da cidade é costume que veio de Portugal, com os colonizadores. Não
importa se a rua é reta ou não, sendo a principal rua da cidade, tinha
que se chamar Rua Direita e geralmente ficava à direita da principal
igreja local.
Ficava sempre à direita da principal igreja devido
influência religiosa na vida das pessoas. A crença que Jesus está à
direita de Deus, e na visão deles, quem tinha Jesus em sua vida,
estaria à direita de Deus também, depois que morresse. Essa crença foi
fortalecida quando, segundo a Bíblia, Paulo se converteu ao Cristianismo
e doente, sonhou que Jesus lhe ordenara que saísse de sua casa e
seguisse a rua direita até o Templo de Deus, que ele seria salvo. Essa
passagem está no capítulo 11 livro Atos dos Apóstolos, do Novo
Testamento. O templo religioso simbolizava Deus e quem estava à direita
de Deus, estaria salvo, teria a vida eterna. Por isso o nome Rua Direita
e por isso que sempre iniciava ou terminava em uma igreja.
Em Diamantina, a Catedral de Santo
Antônio fica na Rua Direita. Quem vai à Tiradentes, para ir até a Igreja
do Rosário, tem que pegar a Rua Direita. Em Santa Luzia, a Matriz de
Santa Luzia fica na Rua Direita. Em Mariana a Rua Direita te deixa em
frente à Igreja da Sé. Uma das mais belas igrejas de Minas, a Igreja de
Nossa Senhora do Carmo em São João Del Rei, está na Rua Direita e por ai
vai. Muitas cidades históricas mudaram o nome da Rua Direita, como em
Grão Mogol, no Norte de Minas, mas mesmo assim, ficou na mente das
pessoas mais antigas o nome dessas ruas.
Por ser uma rua que
ficava à direita da principal igreja e onde moravam os ricos, eram bem
cuidadas e bem calçadas. Tinha os melhores casarões e o calçamento em
pedra sabão ou pedras comuns chamadas de "pé-de-moleque" eram
impecáveis, diferente das outras ruas, dos menos ricos, que não tinha um
acabamento tão fino. Isso se percebe andando pelas ruas das cidades
históricas.
Quando andar pelas ruas das cidades históricas, com
esse nome, saiba que por essas ruas de calçamento liso e bem feitos e
casarões suntuosos, milhares de escravos foram usados no trabalho.
Centenas de pessoas influentes passaram por essas ruas. Centenas de
vidas diferentes em épocas diferentes viveram nesses casarões. Nessas
ruas, cada centímetro, cada parede, tem uma rica história para contar, a
história de Minas e do Brasil. (Por Arnaldo Silva)
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