O Japão foi, sem sombra de dúvida, uma das mais bem sucedidas experiências de missionação da história do
império português. Após a chegada das carracas negras dos «bárbaros do
sul», como os japoneses nos chamavam, instalaram-se no império do sul
levas crescentes aventureiros em busca de almas e de comércio. A
interdição chinesa ao comércio directo entre China e Japão muito fez
para rentabilizar a actividade dos portugueses, que, estabelecidos no
seu entreposto de Macau, assim passaram a actuar como intermediários em
muito do intercâmbio económico entre os dois impérios. A evangelização
cristã, como em todas as partes do império português, acompanhou de
perto o mercador e o capitão. Desde Nagásaqui, os portugueses foram
criando intensa rede de igrejas, colégios, misericórdias e hospitais
que, detidos geralmente por jesuítas, fizeram no Japão aquela que chegou
a ser a maior comunidade cristã de toda a Ásia, assim como a maior do
mundo que não sob a autoridade de um governante também cristão.
Estima-se hoje que a missionação portuguesa tenha criado uma comunidade
nipo-cristã que chegou, no seu auge, a ultrapassar os 300 000 neófitos.
Nem a tese amiúde repetida de que o cristianismo falaria
fundamentalmente às classes oprimidas, nem a que afirma o suposto
desajustamento do cristianismo ao carácter nipónico parecem, pois, poder
merecer crédito ao estudioso sério. Pelo contrário, os padres
portugueses converteram todas as categorias de homens. Entre 1553 e
1620, receberam a água baptismal pelo menos oitenta e seis Daimyos, ou
senhores feudais, as igrejas numeravam já as muitas centenas, e o clero
de origem japonesa constituía metade do total existente em terra
nipónica.
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