Thomas Bruno Oliveira
Festa
de padroeira é um acontecimento especial, principalmente no que se
refere às cidades de nosso interior. É um momento que propicia o
reencontro de quem mora distante com seus familiares e amigos.
Reencontros apaixonados, carinhosos, ternos, todos unidos em uma
festança só, mas não é só isso: para quem vem de fora, as mudanças da
urbe são mais sensíveis, é também um (re)encontro com seu cantinho, seu
lugar. Aproveitando a época festiva, marcamos a nossa reunião de
confraternização do Instituto Histórico e Geográfico de Serra Branca –
IHGSB exatamente na véspera de sua padroeira, a Nossa Senhora da
Conceição, que é celebrada no dia oito de dezembro e que, aliás, é
festejada em várias cidades do Cariri histórico como Sumé, Cabaceiras,
Pocinhos, Campina Grande e a própria Serra Branca.
Segui para a
Rainha do Cariri sozinho. E sempre que vou ao Cariri, ao meu
Mundo-Sertão, sou absorvido por uma infinidade de sensações que enchem
meu peito de emoção. É algo mais profundo do que aquela impressão de
estar chegando em casa... é um sentimento de pertença àquele chão,
aqueles rincões, algo dificílimo de explicar. Vou tateando, procurando e
reconhecendo seus signos e contornos, e a viagem depois da virada do
sol – depois do pingo do meio dia – é reveladora! Os galhos secos da
caatinga parecem se inclinar para oeste procurando o sol, ficando numa
posição obliqua para receber menos raios solares, menos calor, sábia
caatinga. Os ventos uivam varrendo a poeira e formando breves nuvens que
encobrem o horizonte em véu, quando não fazem pequenos redemoinhos (lá
vai Comadre Fulozinha...); não sei o porquê, mas aquele cenário tem um
cheiro de passado, de antigo, de ancestral.
Aquelas
serras distantes, tendo suas cumeadas beijadas por nuvens esparsas que
parecem brincar em meio a imensidão azul, um cenário ímpar que nos leva a
reflexão; como é magnífica a natureza e quanto somos miúdos diante de
tanta beleza e generosidade. Na margem do Rio Taperoá, ao passar a ponte
na “Travessia”, não vemos mais água e sim pedras que de tão lisas
refletem o sol de maneira tão intensa que chegam a se esconder e se
confundir com a areia fina e branca do rio. A BR 412 vai ganhando aquele
Mundo-Sertão, em certo momento ela se alinha com a Serra do Saco,
parece buscá-la. No seu chão, dentre os minerais que formam o asfalto se
sobressai a mica que, fragmentada, proporciona um espetáculo de brilho
ao momento em que reflete o astro rei, até parece um chão de estrelas...
E a sentinela, a Craibeira de Daniel Duarte, parei ali e fitei os raios
solares tomarem conta da Serra Branca, grande formação rochosa quase
que completamente desnuda de sedimento e vegetação que pode ser visto de
bem longe. Seu dorso convexo reflete os raios solares a destacando em
meio às serras do horizonte. N’aquele olhar, eu imaginava o quão
especial seria a reunião no início da noite e de fato foi o que
aconteceu.
A reunião solene lotou o pátio da Escola
Vasconcelos Brandão, o maior público de todas as reuniões que fizemos!
De início a Orquestra Maria Guimarães, regida pelo Maestro Raniery,
desfilou nos arredores da escola e na reunião iniciou tocando o hino de
Serra Branca. Momento de pura e verdadeira emoção. O seu compositor,
Paulo Lopo Saraiva, que tomou posse naquela noite na cadeira nº 09, era
um dos mais emocionados. Cantava o hino com força, alegria e orgulho,
fazia gestos e vibrava balbuciando “viva Serra Branca!”, gesto bonito de
se ver, assim como foi seu belo discurso de posse. Tivemos as falas do
Presidente de honra Berilo Borba, do Prefeito Vicente Fialho de Souza
Neto (Souzinha) e do Presidente do Instituto Prof. José Pequeno. Através
delas foi dito ao público sobre a reunião que houve durante a tarde
entre o Prefeito e uma comissão do IHGSB onde foi firmado o compromisso
da Prefeitura em viabilizar uma sede provisória para nossa Casa de
Memória, algo notável para nossos objetivos já que nossa sede, a Casa
dos Borba, não possui ainda condições de ser ocupada. Por fim, o
palestrante da noite, o amigo Daniel Duarte, se dedicou a fazer um
esboço das padroeiras e padroeiros do nosso Cariri histórico, uma rica
aula de história eclesiástica de nossas terras.
Após a
reunião, fui observar a festividade. A praça estava bem movimentada
numa paisagem de interior aconchegante e bela. Para o dia seguinte,
outra festa! Sumé nos esperava para a reunião de aniversário do
Instituto Histórico e Geográfico do Cariri e inauguração do Memorial São
Thomé do Sucurú, mas aí já é outra história.
#SerraBranca
Uma bela crônica. Bom trabalho!
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