Nada.
"A mulher sem pecado" ficou duas burocráticas semanas em cartaz no Carlos Gomes. Na estréia, o pano subiu e desceu uma vez, ouviram-se alguns aplausos e ninguém saiu tonto do teatro. Ninguém vaiou, ninguém gritou "O autor! O autor!".
Nelson odiou aquela indiferença, mais do que se o tivessem vaiado. Para que não se diga que a platéia passou em branco por "A mulher sem pecado" naquela temporada, conta-se que, numa das récitas, na cena final em que Olegário levanta-se da cadeira de rodas e se descobre que ele não era paralítico, uma senhora da nossa melhor sociedade, sentada na primeira fila, não se conteve e exclamou: "Puta que o pariu!". Mas isso pode ter sido produto da imaginação delirante de Nelson.
O veterano crítico Mário Nunes, do "Jornal do Brasil", odiou a peça. Classificou-a de uma "pura e simples coleção de horrores". Não foi surpresa para Nelson. Surpresa foi que Bandeira Duarte, crítico de "O Globo" e seu colega de redação, também a demolisse. Roberto Marinho, que tinha visto e adorado a peça, não gostou de saber que seu crítico pensava diferente dele. Mas ficou quieto. Quem sabe o outro tinha razão? Afinal, era um critico.
Mas Bandeira Duarte não deu sorte. Dias depois, seu quase xará, o poeta Manuel Bandeira, foi ao jornal. Roberto Marinho sabia que ele vira a peça e perguntou-lhe o que tinha achado. Manuel Bandeira não poupou elogios:
"Esse rapaz, o Nelson, tem um grande talento. A peça é formidável!"
Ao ouvir uma opinião tão autorizada, Roberto Marinho soube que estava certo e mandou Bandeira Duarte passar no caixa. Demitiu-o.
.....
Na noite de estréia de "A mulher sem pecado", Nelson saíra do teatro com Elza, sua mulher, e foram comemorar sozinhos - embora não houvesse muito o que comemorar -, tomando coalhada na leiteria "Palmira". Estava muito silencioso.
Ao tomar o bonde Lapa-Praça da Bandeira, de volta para casa, já tinha outra peça em mente. O título seria "Véu de noiva"...
Ali mesmo, no bonde, achou outro melhor: "Vestido de noiva".
.....
FONTE: "O Anjo Pornográfico - a vida de Nelson Rodrigues", por Ruy Castro — São Paulo: Companhia das Letras, 1992
"A mulher sem pecado" ficou duas burocráticas semanas em cartaz no Carlos Gomes. Na estréia, o pano subiu e desceu uma vez, ouviram-se alguns aplausos e ninguém saiu tonto do teatro. Ninguém vaiou, ninguém gritou "O autor! O autor!".
Nelson odiou aquela indiferença, mais do que se o tivessem vaiado. Para que não se diga que a platéia passou em branco por "A mulher sem pecado" naquela temporada, conta-se que, numa das récitas, na cena final em que Olegário levanta-se da cadeira de rodas e se descobre que ele não era paralítico, uma senhora da nossa melhor sociedade, sentada na primeira fila, não se conteve e exclamou: "Puta que o pariu!". Mas isso pode ter sido produto da imaginação delirante de Nelson.
O veterano crítico Mário Nunes, do "Jornal do Brasil", odiou a peça. Classificou-a de uma "pura e simples coleção de horrores". Não foi surpresa para Nelson. Surpresa foi que Bandeira Duarte, crítico de "O Globo" e seu colega de redação, também a demolisse. Roberto Marinho, que tinha visto e adorado a peça, não gostou de saber que seu crítico pensava diferente dele. Mas ficou quieto. Quem sabe o outro tinha razão? Afinal, era um critico.
Mas Bandeira Duarte não deu sorte. Dias depois, seu quase xará, o poeta Manuel Bandeira, foi ao jornal. Roberto Marinho sabia que ele vira a peça e perguntou-lhe o que tinha achado. Manuel Bandeira não poupou elogios:
"Esse rapaz, o Nelson, tem um grande talento. A peça é formidável!"
Ao ouvir uma opinião tão autorizada, Roberto Marinho soube que estava certo e mandou Bandeira Duarte passar no caixa. Demitiu-o.
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Na noite de estréia de "A mulher sem pecado", Nelson saíra do teatro com Elza, sua mulher, e foram comemorar sozinhos - embora não houvesse muito o que comemorar -, tomando coalhada na leiteria "Palmira". Estava muito silencioso.
Ao tomar o bonde Lapa-Praça da Bandeira, de volta para casa, já tinha outra peça em mente. O título seria "Véu de noiva"...
Ali mesmo, no bonde, achou outro melhor: "Vestido de noiva".
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FONTE: "O Anjo Pornográfico - a vida de Nelson Rodrigues", por Ruy Castro — São Paulo: Companhia das Letras, 1992

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