quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Pancho Villa, o protagonista da Revolução Mexicana Nesta data, em 1910, eclodia a revolução popular que mudou a política do país. Um século depois, a vida do líder mexicano ainda é cercada por mitos

Quando o rei Leônidas, líder dos espartanos, finalmente sucumbiu, varado de flechas, diante do gigantesco exército persa nas Termópilas, o destino de seus restos mortais foi pavoroso: a cabeça foi cortada e o corpo, pendurado numa estaca. Com Pancho Villa, o destino foi quase o mesmo. Morto numa emboscada em 1923, seu cadáver ostentava 150 perfurações de bala. Enterrado, ainda assim seu corpo não teve descanso. Seu túmulo foi violado e sua cabeça, decepada. O que existiria em comum entre os dois homens? Uma obstinada luta por seus ideais, tão ardente, aguerrida e incondicional que provocou em seus inimigos um ódio de igual envergadura.
O caso de Villa, entretanto, foi pior que o de Leônidas. Após sua morte, seus detratores continuaram a combater seu fantasma, passando para o mundo, nas décadas seguintes, a imagem anedótica do pistoleiro mexicano beberrão, um homem cruel, um bandoleiro com postura duvidosa. Sem dúvida, Pancho Villa era um homem passional. Mas a análise feita pelo historiador mexicano Paco Ignácio Taibo II (idealizador da famosa Semana Negra de Gijón, um festival literário fundado em 1988) finalmente coloca contra a parede os mitos e fantasias que cercam um dos maiores protagonistas da Revolução Mexicana.

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Em termos militares, Villa era conhecido por sua engenhosidade. Prova disso é sua fantástica fuga durante a Expedição Punitiva realizada pelo governo americano em 1916, com um contingente de 6 mil homens e oito aviões, liderados pelo general John Pershing. Villa não só despistou os “gringos”, como fugiu do cerco promovido pelo Exército mexicano, que havia se juntado à caçada.

Trem de Tróia

Em outro episódio, Villa demonstrou uma genialidade digna de Ulisses, ao tomar Ciudad Juarez utilizando o mesmo estratagema do cavalo da Guerra de Tróia. Pancho e seus homens queriam entrar na cidade. Assim, interceptaram um trem carregado de carvão que saía de Ciudad Juarez. Em seguida, obrigaram o maquinista a mandar um telégrafo, dizendo que tropas de Villa haviam bloqueado os trilhos. A central imediatamente mandou o maquinista dar marcha a ré, voltando para Ciudad Juarez. O que os defensores da cidade não imaginavam é que Villa já havia tomado o trem e abarrotado suas tropas dentro dele. Quando deram por si, Villa já havia penetrado na cidade.
Finalmente, o livro desfaz a idéia de um Villa inconsequente. A começar pelo fato de ele ser um declarado abstêmio. Não são poucos os episódios em que o rebelde mexicano destruiu depósitos de bebidas ou mesmo mandou fuzilar oficiais bêbados. Quando governou Chihuahua, seu lema era fechar cantinas e abrir escolas. Em apenas um mês, Villa tinha aberto 50 escolas em Ciudad Juarez, uma cidade de pouco mais de 40 mil habitantes. Muitos ainda o vêem como um assassino sanguinário. Mas o “centauro do norte”, ao menos com a chegada desta biografia, poderia eventualmente ser alçado ao panteão dos grandes líderes militares da história.


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