O grau de envolvimento brasileiro na Primeira Guerra Mundial é pouco
conhecido da maioria das pessoas, mas a proximidade do centenário do
conflito, que começou no dia 28 de julho de 1914, joga luz sobre essa
parte da nossa História. Pouca gente sabe, por exemplo, que, muito antes
de o país enviar equipe médica, embarcações e alguns oficiais apenas na
reta final do confronto, dois príncipes brasileiros atuaram na guerra e
até morreram em consequência disso. Filhos da Princesa Isabel com o
francês Conde D’Eu, os nobres D. Luís Maria e D. Antônio Gastão, netos
do ex-imperador D. Pedro II, serviram ao lado do Império Britânico.
Mas o caminho até servir na guerra não foi nada simples para os dois. A
família viveu no Brasil até a Proclamação da República, em 1889, quando
foi para o exílio na França. Antônio tinha, então, 8 anos, enquanto
Luís tinha 11. Durante viagens para outros países, Luís e Antônio não
eram reconhecidos como membros da nobreza brasileira ou portuguesa, mas,
sim, francesa. Porém, quando completaram a idade do alistamento
militar, o exército do país se negou a recebê-los.
— A França já
era uma república, enquanto eles eram brasileiros e faziam parte de uma
família monárquica. Saber disto nos ajuda a entender essa negativa do
exército. A França era a pátria que D. Luís e D. Antônio queriam
defender. Mas eles não conseguiram, pelo menos, diretamente — explica a
historiadora Teresa Malatian, autora do livro “D. Luís de Orleans e
Bragança, peregrino de impérios”.
A solução foi alistar-se no
Império Austro-Húngaro, então governado pelo tio deles, o imperador
Francisco José I. Os dois príncipes cumpriram suas carreiras militares
nas fileiras austríacas sem imaginarem que os dois países, a França com a
qual se identificavam e a pátria que passaram a defender, entrariam em
choque na maior guerra conhecida pelo mundo até então.
Com as
constantes insatisfações e disputas entre as nações, o clima bélico já
se tornava uma preocupação dos príncipes. Sem vislumbre de assumir um
lugar de prestígio em alguma nobreza europeia, o Conde D´Eu, que ao se
casar com a Princesa Isabel abriu mão da hereditariedade do trono
francês, aconselhava seus filhos a seguir carreira militar.
Anos
antes do início do conflito mundial, ao se casar com Maria Pia Bourbon
Napoles, D. Luís pediu desligamento do exército para passar a conviver
com a família. Já D. Antônio, ao perceber que a guerra era inevitável,
saiu das fileiras austríacas pouco antes do assassinato do arquiduque
Francisco Ferdinando, estopim do grande conflito.
Quando a Primeira
Guerra Mundial já tinha iniciado seu curso, os príncipes resolveram se
colocar à disposição do exército francês, inimigo dos austro-húngaros,
mas viram as portas fechadas outra vez. Só que mesmo assim os irmãos não
abandonaram a ideia de lutar junto aos Aliados.
— Desta vez, o
exército francês não os aceita exatamente por terem servido ao inimigo.
Como eles iriam mudar de lado? Os príncipes acabam sendo aceitos pelas
forças britânicas devido a um outro parentesco com a família real de lá —
relata Teresa Malatian.
Oriundos da família real brasileira,
considerados franceses, treinados pelos austríacos e servindo aos
britânicos. É com esta trajetória que o simpático D. Luís e o combatente
D. Antônio, como foram classificados por seu mordomo, entram na
Primeira Guerra Mundial.
— Os príncipes eram pessoas notáveis. O
exército britânico avaliou que seria bom tê-los em suas fileiras — diz o
embaixador Vasco Mariz, autor do livro “Nos caminhos da história”, que
será publicado no final deste ano.
O desembarque de D. Luís no
conflito se deu em 23 de agosto de 1914 e teve duração de quase um ano.
Como encarregado das comunicações entre os regimentos, ele atuou nos
pântanos do Yser, no Norte da França, onde contraiu um tipo de
reumatismo que o teria paralisado, como conta sua filha Maria Pia em seu
livro de memórias.
De volta à França, passou a se locomover em
uma cadeira de rodas e ficou conhecido como um entusiasta do Brasil por
sempre contar a história do país e ensinar português para seus filhos e
conhecidos.
— D. Luís teve um papel político importante para o
Brasil. Era um entusiasta que enaltecia a imagem do país no exterior —
afirma o Vasco Mariz.
A doença que o príncipe contraiu na guerra o acompanharia e seria o motivo de sua morte, em 1920.
Já D. Antônio tinha 33 anos quando entrou na guerra que influenciaria
amplamente a geopolítica mundial dali em diante. Ele se tornou capitão
do regimento Royal Canadian Dragoon, junto com os canadenses que foram
defender a bandeira britânica.
— Alguns autores afirmam que D.
Antônio participou de batalhas aéreas, extremamente novas naquele
período. O que se sabe é que o príncipe era hábil e que muitos o
consideravam bastante corajoso — conta Mariz.
Com a guerra já
terminada, o príncipe sofreu um acidente de avião nos arredores de
Londres. Ele ainda foi levado vivo para um hospital próximo, mas morreu
em decorrência dos graves ferimentos sofridos, no dia 29 de novembro de
1918.
CONDECORAÇÕES FRANCESAS
Mesmo sem ter sido aceito
pelas forças francesas, D. Luís recebeu condecorações póstumas por sua
participação na Primeira Guerra com os Aliados. O governo francês
homenageou o príncipe como cavaleiro da Legião de Honra e lhe outorgou a
Cruz de Guerra, o que demonstra reconhecimento ao príncipe brasileiro
morto.
Já seu irmão recebeu, em 1917, um título de destaque do
exército britânico. Devido a sua participação, considerada de alto nível
nos relatos de superiores, D. Antônio mereceu a Military Cross e foi
incorporado às forças armadas britânicas oficialmente.
Fonte : O globo
Foto de D.Luís,grande brasileiro e terror da rescem criada república brasileira,junto ao seu Irmão D.Antônio.
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