sábado, 24 de novembro de 2018

Alimentada pela sangrenta Guerra dos Trinta Anos, a feroz rivalidade entre a França e a Espanha agitava a política do Vaticano, e até mesmo a vida cotidiana de Roma.

Partidários da Espanha penduravam o real brasão espanhol sobre suas portas, enquanto seus inimigos, os partidários da França, penduravam sobre as portas a flor-de-lis francesa. Ambos os países tentavam atrair, mediante lucrativas pensões, os prelados e cardeais da corte romana. Muitos cardeais mudavam de lado com frequência, dependendo de qual das coroas lhe oferecia mais dinheiro. O povo romano se divertia com o fato de que, às vezes, o palácio de um cardeal exibia um brasão, quando o sol se punha, e o brasão rival, quando o sol se levantava.
Era o caso do cardeal Virginio Orsini, que, segundo o boletim escrito por Teodoro Amayden em 1647, “era espanhol e exibia em seu palácio o brasão do rei católico. Depois que seu filho morreu, ele se tornou partidário dos franceses e, logo depois, dos espanhóis; no momento, é francês novamente — mas ninguém sabe até quando”.
Certo dia, o cardeal Mario Teodoli visitou Amayden e se queixou de que nunca recebia nada da Espanha, e tinha muitas dívidas a pagar. A França estava lhe oferecendo generosos subsídios, caso ele se posicionasse do lado francês. Amayden, ferozmente pró-espanhol, reuniu-se com o principal cardeal espanhol, Gil Alvarez Carillo de Albornoz, para saber se alguma coisa poderia ser feita. Mas a Espanha, segundo o cardeal Albornoz, não poderia fazer nada. Então o cardeal Teodoli disse: “Já que os espanhóis não querem me ajudar, fui para o lado dos franceses, embora com relutância”.
A rivalidade entre França e Espanha se infiltrou tanto na sociedade romana que até as roupas refletiam as preferências de alguém. As mulheres demostravam seu apoio conforme o lado em que usavam fitas nos cabelos — se fosse no lado direito, torciam pela Espanha, no esquerdo, pela França. Os homens demonstravam seu apoio conforme a cor de suas meias — vermelhas para a França, brancas, para a Espanha. A posição das plumas de seus chapéus era também indicativa das preferências políticas — lado direito para a Espanha, esquerdo para a França. Até o corte da barda tinha enorme significado político. O cardeal Teodoli sinalizava sua iminente mudança para o lado da França usando a barba no estilo curto e pontudo adotado pelos franceses. Poucos dias depois, seu palácio ostentava o brasão francês.
Anunciar as preferências abertamente, através das cores das meias e do corte das barbas, muitas vezes resultava em tumultos nas ruas. Homens usando meias vermelhas, por exemplo, poderiam atacar um grupo que usasse meias brancas, o que às vezes culminava em assassinatos e vários dias de distúrbios. Alguns homens escolhiam meias pretas, apenas para não serem atacados quando saíssem de casa.
Senhora do Vaticano, de Eleanor Herman

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