sábado, 3 de novembro de 2018

3 de novembro de 1867 - Morre a Marquesa de Santos.

Amante de Pedro I, Domitila de Castro Canto e Melo, a Marquesa de Santos desafiou as convenções e impôs respeito. 150 anos após sua morte, a memória de Domitila continua arraigada no imaginário brasileiro a ponto de ser considerada por alguns uma santa popular; por outros, uma cortesã inescrupulosa.
Nascida em São Paulo em 27 de dezembro de 1797, Domitila de Castro Canto e Melo, Titília para os irmãos, era a penúltima filha de sete irmãos. Descendia de nobres lusitanos e de bandeirantes ilustres... Mas, se tinha nobreza de sangue, dinheiro, não muito.
Alta, pele clara e expressivos olhos escuros, Titília casou-se aos 15 anos. Este casamento durou 6 anos, e lhe rendeu três filhos e duas facadas do marido. O príncipe encantado era, na realidade, um sapo: bebia, jogava, maltratava a mulher.
Tentando vender as terras que o casal havia herdado com a morte da mãe, Felício (seu marido) falsificou a assinatura de Domitila no contrato e depois tentou assassiná-la. Armou uma emboscada e a esfaqueou, alegando que ela era infiel. Felício foi preso, mas, devido à fortuna paterna, acabou sendo libertado. Domitila, entre a vida e a morte, levou mais de um mês para se restabelecer. Abrigada na casa do pai, lutou pelo divórcio e pela guarda dos filhos (o sogro ainda tentou, em vão, tirar as crianças de Domitila).
O príncipe regente D. Pedro chegou a São Paulo em agosto de 1822 acompanhado do irmão caçula de Domitila, que o apresentou à família. Casado com Leopoldina, D. Pedro não era nenhum modelo de fidelidade. Mas, de todas as amantes que teve, só Domitila o prendeu por tanto tempo.
O relacionamento começou em 29 de agosto de 1822 e durou sete anos, que podem ser acompanhados nas mais de 200 cartas trocadas entre eles e dispersas em arquivos nacionais e estrangeiros. Elas revelam o “homem Pedro”: terno e carinhoso com os filhos, mas também o amante fogoso que assina como “O Demonão”.
Domitila e a família se mudaram em 1823 para a Corte, onde viveram sob a proteção de D. Pedro, já imperador. Proteção que incluía joias, propriedades, escravos e refinamento, com o amante insistindo com ela para que não costurasse suas próprias roupas de gala.
Em 1825, Domitila foi feita viscondessa de Santos e em 1826, marquesa.
Em maio de 1826, D. Pedro reconheceu oficialmente a filha que teve com a amante em 1824. Isabel Maria recebeu o título de duquesa de Goiás e foi apresentada à Corte e à imperatriz. Leopoldina não tinha mais a opção de ignorar o romance. Grávida, deprimida, sofrendo com a infidelidade do marido, faleceu no final do ano. Surgiram rumores de que Domitila, em conluio com o médico da Corte, a teria envenenado. A casa da suposta assassina foi apedrejada, e por isso passou a ser guardada por soldados.
Seis meses depois da morte da imperatriz, D. Pedro decidiu casar-se novamente. Diante das dificuldades para se conseguir uma noiva, cogitou casar-se com a marquesa, mas a princesa Amélia de Leuchtenberg, sobrinha do rei da Baviera, aceitou a proposta. Titília, grávida de Maria Isabel, futura condessa de Iguaçu, foi banida da Corte em 1829 pelo amante, aparentemente arrependido de seus “pecados”.
A Domitila que voltou para a provinciana São Paulo em 1829 era muito diferente da que havia partido para Minas Gerais com o marido em 1813. Com bens que incluíam mais de 40 escravos, tornou-se uma das pessoas mais abastadas da cidade, e isso significava independência. As facadas, a mancebia e o banimento foram superados, e ela soube aprender com seus infortúnios.
Sempre lembrada por seu caso de amor com Pedro I, Domitila é esquecida quanto ao seu envolvimento nas questões nacionais. Na Corte, doara grande quantia à Guerra da Cisplatina. Durante a Guerra do Paraguai, abrigou em sua fazenda a tropa que marchava para Mato Grosso, presenteando soldados e oficiais com dinheiro. Ninguém concorria com a marquesa nas comemorações do 7 de Setembro e do 11 de Agosto, dia do início dos cursos jurídicos no Brasil. Protetora dos estudantes de Direito, recebia-os em seus saraus e cuidava deles quando adoeciam. Sob seu teto, centenas de casamentos entre moças paulistas e futuros bacharéis foram arranjados. Daí surgiu a lenda de que ela seria responsável pela instalação da Academia de Direito em São Paulo.
Ela faleceu em 3 de novembro de 1867, aos 69 anos. Rompendo os padrões de comportamento esperados de uma mulher de seu tempo, chocou a sociedade. Ao mostrar sua força, fez-se respeitada. Seu enterro foi seguido pela elite cultural, econômica e política paulista.
No seu jazigo, há sempre flores frescas e uma placa de agradecimento por uma graça alcançada.
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- FONTE: Revista de História da Biblioteca Nacional
- NA MONTAGEM: 1) A marquesa dos Santos em quadro de 1830; 2) Foto de Domitila por volta dos 68 anos de idade; 3) Fotografia de Domitila já idosa feita por Militão Augusto de Azevedo; 4) Quadro de Domitila no Museu Paulista.

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