Obrigado a viajar para São Paulo a fim de tentar resolver crise
política que ameaçava a ordem no Estado, dom Pedro I entregou temporariamente
o governo a dona Leopoldina. Dias depois, recebeu a notícia de que
Portugal exigia sua volta. Temendo que as tropas portuguesas atacassem o
Rio de Janeiro antes do retorno do marido, em 2 de setembro a futura
imperatriz presidiu reunião do Conselho de Estado, que deliberou pela
independência do Brasil. A carta que se reproduz aqui teria sido lida
por dom Pedro no dia 7 de setembro, às margens do Ipiranga, antes do
lendário grito “Independência ou morte!”.
"Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1822
Pedro,
O Brasil está como um vulcão. Até no paço há revolucionários. Até
portugueses revolucionários […].[1] As cortes portuguesas ordenam vossa
partida imediatamente; ameaçam-vos e humilham-vos. O Conselho de Estado
vos aconselha a ficar. Meu coração de mulher e de esposa prevê desgraças
se partirmos agora para Lisboa. Sabemos bem o que tem sofrido nosso
país. O rei e a rainha de Portugal não são mais reis, não governam mais,
são governados pelo mesmo despotismo das cortes que perseguem e
humilham os soberanos a quem devem respeito […].[2]
O Brasil será
em vossas mãos um grande país. O Brasil vos quer para seu monarca. Com
vosso apoio ou sem vosso apoio, ele fará sua separação. O pomo está
maduro, colheio-o já, senão apodrecerá […].[3] Já dissestes aqui o que
ireis fazer em São Paulo. Fazei, pois."
Marsilio Cassotti. A
biografia íntima de Leopoldina: a imperatriz que conseguiu a
independência do Brasil. São Paulo: Planeta, 2015, p. 183.
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