Alô, Alô, Terezinha!" é um documentário dirigido por Nelson Hoineff e
com roteiro baseado na vida do apresentador de programas de auditório
no rádio e televisão brasileira, Abelardo Barbosa, mais conhecido pelo
seu pseudônimo "Chacrinha". O documentário foi exibido, fora de competição, no Festival do Rio 2009 e na 33ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Em 2009, o documentário levantou os prêmios de melhor filme do júri
oficial, melhor filme do júri popular, melhor montagem e o Troféu
Gilberto Freire. Também foi um dos indicados ao prêmio de melhor
documentário do ano da Academia Brasileira de Cinema.
A obra
acabou resultando na abertura de um processo contra a produtora Comalt,
responsável pelo filme, uma vez que as ex-dançarinas se sentiram
rotuladas como prostitutas. O diretor Nelson Hoineff, posteriormente,
produziu ainda um minidocumentário intitulado "Chacretes", focando-se no
cotidiano das dançarinas.
.....
- AS CHACRETES
No
Brasil dos anos 50, ser bela, famosa, admirada e reconhecida não era
privilégio exclusivo das participantes dos Concursos de Miss...
Os programas de auditório investiram na figura das assistentes de palco e
dançarinas para dar graça e formosura entre os intervalos comerciais,
ou para vender produtos anunciados dentro do próprio programa.
As
primeiras dançarinas vestindo maiôs foram as ‘Tevezinhas”, que
apareceram nos intervalos dos programas da TV Excelsior do Rio de
Janeiro. Os outros canais imitaram a idéia, e a TV Tupi investiu nas
“Garotas Tupi" e cada dia da semana era uma que aparecia. Com isso
muitas moças enxergaram nestes trabalhos uma oportunidade de alcançar a
fama e o sucesso, ou apenas para “aparecer" na televisão.
Um dos
primeiros apresentadores a ter um séquito de moças vestindo colants
cavados, com botas plataformas e uma coreografia das antigas vedetes de
“teatro rebolado" foi Abelardo Barbosa, o Chacrinha. Evolução natural
das meigas “Tevezinhas”, as beldades da Excelsior passaram a se
requebrar na abertura e no encerramento dos programas de Chacrinha,
Moacyr Franco e César de Alencar. Na Hora da Buzina, porém, elas
permaneciam discretamente ao fundo e marcavam o compasso com os pezinhos
- sentadas!
Vestindo uniformes de futebol, aos poucos as
dançarinas se levantaram, se soltaram e, já na TV Rio em 1967. ganharam o
apelido de “Vitaminas”, sendo Addir Silveira uma das pioneiras. Quando
chegaram com o Velho Guerreiro à TV Globo em 1970, a imprensa e o
público já se referiam a elas como “Chacretes”.
As moças
conhecidas como Chacretes carregavam consigo nome e apelido, como: Índia
Potira, Estrela Dalva, Sandra Matera, Lia Hollywood, Fernanda
Terremoto, Fátima Boa Viagem, Suely Pingo de Ouro, Gracinha Copacabana,
Regina Pintinha, Gracinha Portelão, Lucinha Apache, Vera Furacão, Rita
Cadilac entre outras.
Todas eternizadas entre as décadas de 1970 e
1980, ao saírem de cena, foram esquecidas ou devolvidas ao ostracismo:
tomaram-se donas de casa, casaram-se, converteram-se a alguma religião,
trabalharam em outras áreas profissionais fora da esfera artística
televisiva.
O cineasta Nelson Hoineff depois de concluir o
documentário “Alô, Alô, Terezinha" sobre Chacrinha, desdobrou sua
pesquisa e realizou uma série para o Canal Brasil, intitulada “As
Chacretes”. Nos depoimentos colhidos elas relembram os momentos que
trabalharam no programa e falam das suas vidas depois de terem deixado a
televisão. Ali. elas contam que caminho seguiram: índia Potira chegou a
ser presa, Beth Boné tomou-se evangélica, celebra cultos pregando a
“palavra do senhor" no rádio. Gracinha Copacabana mora sozinha rodeada
de cachorros.
Rita Cadilac é uma exceção: fez carreira solo como
cantora apresentando-se em boates, prisões e até no garimpo de Serra
Pelada, gravou discos, pousou nua em revistas masculinas, participou de
programas televisivos, fez filme pomô para comprar casa própria e
sustentar sua família, e por último, ganhou um documentário no qual
narra sua trajetória artística.
Entre os anos 1960 a 1980 ser
Chacrete ou Bolete era sinônimo de prostituta, imoralidade ou o que
viria a ser hoje a “garota de programa". Se Beth Boné admite em seu
depoimento ter feito strip-tease em boates, a conclusão de que as
Chacretes se prostituíam fica a critério do telespectador.
No
entanto, as histórias vão de encontro à moralidade por trás de uma
aparente liberalidade com o corpo e o sexo. Em seus depoimentos
descortinam suas vidas constituída de altos e baixos, de diversões
sexuais, do uso e abuso de um “dinheiro fácil'", de um trabalho
inapropriado para “moças de família", da exposição do corpo nos melhores
anos das suas vidas, uma vida desregrada e tortuosa que cedeu lugar ao
ostracismo e declínio; em seguida veio à conscientização dos supostos
erros, reflexão, admissão e mudança, eis a insígnia moral.
Como
toda “história” — principalmente as contadas na televisão — depois de
sacolejarem seus corpos para as câmeras televisivas, depois de serem
vendidas e expostas como um produto, suas vidas tomam outro rumo, em
nome do casamento, da família, do isolamento e recato moral pela
resignação religiosa, estas “senhoras do bem" guardam algumas fotos,
adereços e roupas daquela época. Mas tudo isso só pode ser retratado
décadas mais tarde em televisão paga.
Na época, ao mesmo tempo
que o apresentador era tido como paizinho, por trás de tamanho respeito
propiciava-se a liberalidade do sexo e insinuava-se a prostituição; não
se duvidava da Chacrete como “puta", designação que anteriormente Rita
Cadilac as auto-define no documentário. Para a família moralista, as
Chacretes contribuíram com o erotismo na família: apresentaram à dona de
casa quem era a acompanhante ou amante do marido.
.....
FONTES:
- "Mulheres na Televisão" - Lúcia Soares da Silva (trecho de uma tese
de doutorado para a PUC-SP: "Política e modulações do entretenimento
televisivo: mulheres e denúncias" - 2011)
- Wikipedia
- IMDb
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