sexta-feira, 28 de setembro de 2018

28 DE SETEMBRO - DIA DA GRATIDÃO À MÃE PRETA

Escravidão e Maternidade: a triste história das amas-de-leite no Brasil
- O aleitamento materno entre os índios tupinambás era a regra geral até a chegada dos colonizadores europeus que não viam a amamentação em sua cultura como uma atividade nobre à mulher branca. O amor materno era deixado de lado, pois não tinha valor social e moral. Assim, a amamentação era vista como “indigna” para estas damas, que recorriam as amas-de-leite para alimentar seus filhos.
Essa cultura acabou sendo difundida também para as classes mais pobres da sociedade brasileira - e é aí que entram em atuação as “saloias” ou “amas-de-leite”. Inicialmente, eram índias ou mulheres muito pobres que amamentavam os filhos das damas, sendo estas as primeiras versões de amas-de-leite no Brasil.
Porém, como as índias eram culturalmente rejeitadas, um novo modelo de amas-de-leite entrou em atuação: as amas africanas, que eram trazidas tanto para amamentar os filhos das damas como para cuidar deles.
Uma vez o rebento chegado, a maternidade não parecia interessar muito às classes dominantes brasileiras. O principal papel das senhoras se reduzia a parir um grande número de filhos e, em seguida, entregá-los para que uma ama de bom leite os amamentasse e criasse e, assim que as crianças se tornam incomodas ao conforto da senhora, são despachadas para a escola.
Fragilidade psicológica das mães muito jovens? Saúde precária da mãe, depressão pós-parto, desnutrição? Faltam respostas.
Quando as amas-de-leite africanas entravam em atuação para amamentar os filhos de seu Senhor, o desmame de seus próprios filhos ocorria de forma brusca e violenta.
Com o tempo a moda “escravas amas-de-leite” se ampliou e virou um negócio que gerava muito lucro para quem o praticava. Reduzidas, muitas vezes, a anúncios de compra e venda nos jornais, as amas eram uma substituta afetuosa, ainda que inferiorizada, responsabilizada pela educação de crianças brancas, dos seus filhos e dos bastardos de seu senhor.
Escravas eram vendidas como amas com ou sem seus filhos. A mulher escrava era comercializada como mero objeto e seu bebê completamente ignorado. O negócio de amas-de-leite era considerado algo mais rentável até mesmo do que plantar café, como afirmaram alguns senhores de escravos (Ewbank, 1976).
As sessões de anúncios nos grandes periódicos da capital do Império, como o Jornal do Commércio, em 14 de abril de 1835, exibiam propostas:
“Compra-se uma boa ama de leite parda, do primeiro ou segundo parto, mucama recolhida, que saiba coser e engomar perfeitamente, sem vícios, nem manchas nem moléstias.”
Ou...
“Vende-se uma preta, moça, com bom leite, com filho ou sem ele de dois meses” (1850)
Em famílias de poucas posses não era incomum que as mulheres livres se oferecessem para amamentar ou “vender” seu leite. Era uma forma de aumentar a renda, como se vê no anúncio do mesmo Jornal do Commércio de 04 de setembro de 1864:
“Uma família moradora num arrabalde desta cidade, tendo uma parda com muito e bom leite, toma uma criança para criar”.
Ou, nesse de 1º. de março de 1857:
“Uma senhora branca, parida há vinte e tantos dias, com muito e bom leite, recebe uma criança para criar, na Rua da Carioca 103”.
Mulheres pobres, forras ou brancas presas às suas obrigações domésticas, se ofereciam para amamentar ou criar crianças em domicílio.
Na metade do século XIX, a opinião dos viajantes estrangeiros sobre tal prática era divergente. Houve quem, como o escritor francês Charles Expilly, destacasse o fato de que tais cativas recebiam roupas novas, alimentação suplementar e mesmo ostentavam “luxo insolente”, pois exprimiam a “prosperidade da casa”. Ou o viajante W. Heine que sublinhava que tais amas sofriam em amamentar seus filhos e os filhos de outrem.
Dramas não faltaram. Amas sob cujos cuidados perdiam-se crianças, eram acusadas, julgadas e muitas vezes presas e condenadas.
Por vezes, os menores tinham cada qual a sua babá, enquanto os mais crescidos contavam com amas secas, mas, também, com a companhia de “crias”, ou seja, crianças, filhos de escravos da casa e outros criados domésticos. Mini acompanhantes também podiam ser alugados como se vê num anúncio do mesmo Jornal do Commércio, em 21 de janeiro de 1835:
“Precisa-se de uma negrinha para andar com uma criança, que esta seja carinhosa, e não exceda o seu aluguel de 6$rs. Mensais”.
No final do século, a situação mudou. Médicos condenavam a presença da escrava no ambiente do lar, fustigando a vaidade e a futilidade das mães que não queriam estragar os seios, aleitando.
Em 1867, surgiu na Europa a primeira fórmula industrializada de amamentação de recém-nascidos. A novidade logo bateu aqui. Discutia-se também o emprego de leite de jumenta ou de vaca, fervido ou não, servido em “vasos” para nutrir o bebê. A ama de leite passou a ser indesejada e signo de atraso aos olhos dos estudos “científicos”.
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FONTE:
1) “Histórias da Gente Brasileira: Império (vol.2)” – por Mary del Priore, Editora LeYa: 2016.
2) A triste história das amas-de-leite no Brasil - por Suelen Maistro
Texto completo disponível em https://maepop.com.br/historia-das-amas-de-leite/
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MONTAGEM:
Da esquerda para A direita:
1) João Ferreira Villela com a Ama-de-Leite Mônica, 1860;
2) Mãe preta - foto da coleção de Randolph Linsly Simpson - "Collection of African American History";
3) Ama de Leite - foto sem data (Serra da Mantiqueira);
4) Eugen Keller e sua Mãe Preta em Pernambuco, Brazil, ca. 1874 - foto de Alberto Henschel;
5) José Eugênio Moreira Alves e ama-de-leite, do estúdio de Alberto Henschel, Recife (1866-1877). Cartão de visita (6,5 x 10 cm) - Coleção Francisco Rodrigues. CFR 551. Fundação Joaquim Nabuco de Pesqusias Sociais.

Um comentário:

  1. Boa tarde
    estou editando meu 3º livro agora em Porto Alegre sobre a Arquitetura Barroca Colonial de Viamao. Gostei muito dessa foto sobre as mães pretas. Gostaria de posta-la c os devidos créditos. Pode me passar o autor da foto e/ou montagem?

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