Enedina nasceu no dia 13 de janeiro de 1913, em Curitiba no Paraná.
Filha de Paulo Marques e Virgília Alves Marques, formou-se engenheira no
ano de 1945, sendo a primeira mulher negra no Brasil a se formar em
Engenharia e primeira mulher a ter essa graduação no estado do Paraná.
Filha de doméstica, foi criada na casa da família do delegado e major,
Domingos Nascimento Sobrinho, para quem sua mãe (carinhosamente chamada
dona Duca) trabalhava. Sempre foi tratada como parte da família. Enedina
tinha a mesma idade da filha de Domingos e para que pudesse fazer
companhia uma a outra ele a matriculou nos mesmos colégios e assim, foi
alfabetizada na Escola Particular da Professora Luiza Dorfmund, entre
1925 e 1926.
Durante 1932 e 1935, Enedina passou a trabalhar como
professora em cidades no interior do estado, como Rio Negro, São Mateus
do Sul, Cerro Azul, Campo Largo.
Entre os anos de 1935 e 1937
ela retorna à capital para cursar no Novo Ateu, o Madureza – Curso
intermediário, que era exigido na época para o magistério, equivalante
nos dias de hoje a um supletivo ginasial. Nesse mesmo período, passa a
morar com a família do construtor Mathias Caron, em Juvevê. Um amigo e
parente da família, Jota Caron, é quem garante sua presença na casa da
família. Mesmo não sendo formalmente empregada, Enedina pagava os
préstimos de moradia com serviços domésticos. Os Caron se tornaram os
novos benfeitores de Enedina.
Ainda em 1935, aluga uma casa na
frente do Colégio Nossa Senhora Menina, no Juvevê, e monta classes
seriadas de alfabetização. Em 1938, faz curso complementar em
pré-Engenharia no Ginásio Paranaense, hoje Estadual do Paraná, no
período noturno, enquanto estava na casa dos Caron.
Em 1940,
ingressa na Faculdade de Engenharia da Universidade do Paraná. De acordo
com Jorge Santana, o valor da mensalidade equivaleria hoje a um salário
mínimo. Em 1945, Enedina Alves Marques se gradua em Engenharia Civil na
mesma instituição, tornando-se a primeira mulher engenheira do Paraná e
a primeira engenheira negra do Brasil. A formatura se deu no Palácio
Avenida, tendo como paraninfo o professor João Moreira Garcez. Antes
dela, dois negros se formaram em Engenharia na instituição: Otávio
Alencar (1918) e Nelson José da Rocha (1938).
Em 1946, Enedina
foi exonerada da Escola da Linha de Tiro e tornou-se auxiliar de
engenharia na Secretaria de Estado de Viação e Obras Públicas do Paraná.
No ano seguinte foi deslocada para trabalhar no Departamento Estadual
de Águas e Energia Elétrica, após ser descoberta pelo então governador
Moisés Lupion.
Nesse período realiza o que para muitos foi seu
maior feito como engenheira, a construção da Usina Capivari-Cachoeira.
Também trabalha no Plano Hidrelétrico do estado, além de atuar no
aproveitamento das águas dos rios Capivari, Cachoeira e Iguaçu.
Estabelecida no governo e com carreira estruturada, entre os anos 1950 e
1960, Enedina dedicou-se a conhecer o mundo e outras culturas viajando.
Nesse mesmo período em 1958, o major Domingos Nascimento Sobrinho
faleceu, deixando-a como uma de suas beneficiárias no seu testamento.
Em 1962, aposentou-se pelo governo do estado e recebeu o reconhecimento
do governador Ney Braga, que por decreto admitou os feitos de Enedina
enquanto engenheira e lhe garante proventos equivalentes ao salário de
um juiz.
Embora não tenha publicamente demonstrado interesse ou
participação em nenhuma vertente de movimento em prol da igualdade
racial, Enedina é um exemplo de mulher, negra, que alcançou seus
objetivos e mostrou que poderia estar onde quis estar.
Em 1981,
Enedina é encontrada morta no Edifício Lido, no Centro de Curitiba,
vítima de ataque cardíaco. Morreu sem deixar descendentes.
No
ano de 2000, foi imortalizada ao lado de outras 53 mulheres pioneiras do
Brasil, pelo Memorial à Mulher, localizado na Praça do Soroptismismo,
em Curitiba, no bairro Hugo Lange.
Em 2006, é fundado o Instituto de Mulheres Negras Enedina Alves Marques, em Maringá.
Texto: © Débora Cruz / Palmares Fundação Cultural / Revistas da UFPR
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