Ao desembarcar, encontrei a Praça do Palácio repleta de gente em volta da casa de dois cambistas que haviam sido assassinados na noite de ontem de forma mais atroz que o normal. É bastante temeroso ouvir os crimes enormes cometidos diariamente e não punidos. Um escravo que assassinar seu senhor se tornará um escravo do governo após ser confinado por algum tempo. Já um homem rico pode estar certo de que estará livre dentro de pouco tempo, por maior que seja a acusação contra si. Todos aqui podem ser subornados. Um homem pode se tornar marinheiro ou médico ou qualquer outra profissão se puder pagar o bastante.
Alguns brasileiros já declararam com seriedade que o único defeito que
enxergam nas leis inglesas foi não identificar qualquer vantagem dos
ricos e respeitáveis sobre os pobres e miseráveis.
Os brasileiros, até onde posso julgar, possuem apenas uma pequena fração daquelas qualidades que conferem dignidade à humanidade. Ignorantes, covardes e indolentes ao extremo.
Hospitaleiros e bem intencionados até onde isso não lhes causa qualquer problema. Moderados, vingativos, mas não briguentos. Contentes consigo e com seus costumes, eles respondem a qualquer comentário perguntando: “Por que não podemos fazer como nossos avós faziam?”.
Sua própria aparência pressagia sua pequena elevação de caráter. De vulto pequeno, eles logo se tornam corpulentos. Devido a sua pouca expressão, parecem ter a cara afundada entre os ombros.
Os monges são ainda piores nesse último aspecto. Não é preciso muita fisiognomia para ver plenamente estampados em seu rosto a dissimulação perseverante, a sensualidade e o orgulho. Há um velho que sempre paro para olhar, igual apenas a Judas Iscariotes* (18) em tudo que já vi.
Tudo o que eu disse sobre a expressão dos padres pode ser transferido para as vozes das mulheres mais velhas. Cercadas por escravos, elas se acostumam com o tom severo do comando e com o escárnio de reprimenda. Seus modos são raramente atenuados por termos de afeição. Elas nascem mulheres, mas morrem mais parecidas com demônios. Será mais fácil acreditar se eu disser que o sr. Earl viu a ponta que havia sido violentamente arrancada de um dedo no anjinho* (19) que é freqüentemente mantido na casa.
O estado da enorme população de escravos deve interessar a qualquer um que venha ao Brasil.
Passando ao longo das ruas, é curioso observar o grande número de tribos que podem ser identificadas pelas expressões variadas e pelos diferentes ornamentos talhados na pele. Daí resulta a segurança do país: os escravos precisam se comunicar entre si em português e, por isso, não são unidos.
Não consigo deixar de acreditar que, no fim, eles acabarão se tornando os governantes. Acredito nisso por conta de seu contingente e de seu belo porte atlético (em especial contraste com o dos brasileiros), que prova que eles estão em um clima apropriado, e também por ver claramente que seu intelecto tem sido muito subestimado. Eles são trabalhadores eficientes em todas as tarefas necessárias. Se aumentar o número de negros livres (como deveria ser) e descontentes com a sua desigualdade com os homens brancos, o tempo da libertação geral não estará muito distante."
18 (N. T.) Scoens Judas Iscariot no original.
19 (N. T.) Instrumento de tortura formado por um anel de ferro com que se prendem os polegares de alguém.
Os brasileiros, até onde posso julgar, possuem apenas uma pequena fração daquelas qualidades que conferem dignidade à humanidade. Ignorantes, covardes e indolentes ao extremo.
Hospitaleiros e bem intencionados até onde isso não lhes causa qualquer problema. Moderados, vingativos, mas não briguentos. Contentes consigo e com seus costumes, eles respondem a qualquer comentário perguntando: “Por que não podemos fazer como nossos avós faziam?”.
Sua própria aparência pressagia sua pequena elevação de caráter. De vulto pequeno, eles logo se tornam corpulentos. Devido a sua pouca expressão, parecem ter a cara afundada entre os ombros.
Os monges são ainda piores nesse último aspecto. Não é preciso muita fisiognomia para ver plenamente estampados em seu rosto a dissimulação perseverante, a sensualidade e o orgulho. Há um velho que sempre paro para olhar, igual apenas a Judas Iscariotes* (18) em tudo que já vi.
Tudo o que eu disse sobre a expressão dos padres pode ser transferido para as vozes das mulheres mais velhas. Cercadas por escravos, elas se acostumam com o tom severo do comando e com o escárnio de reprimenda. Seus modos são raramente atenuados por termos de afeição. Elas nascem mulheres, mas morrem mais parecidas com demônios. Será mais fácil acreditar se eu disser que o sr. Earl viu a ponta que havia sido violentamente arrancada de um dedo no anjinho* (19) que é freqüentemente mantido na casa.
O estado da enorme população de escravos deve interessar a qualquer um que venha ao Brasil.
Passando ao longo das ruas, é curioso observar o grande número de tribos que podem ser identificadas pelas expressões variadas e pelos diferentes ornamentos talhados na pele. Daí resulta a segurança do país: os escravos precisam se comunicar entre si em português e, por isso, não são unidos.
Não consigo deixar de acreditar que, no fim, eles acabarão se tornando os governantes. Acredito nisso por conta de seu contingente e de seu belo porte atlético (em especial contraste com o dos brasileiros), que prova que eles estão em um clima apropriado, e também por ver claramente que seu intelecto tem sido muito subestimado. Eles são trabalhadores eficientes em todas as tarefas necessárias. Se aumentar o número de negros livres (como deveria ser) e descontentes com a sua desigualdade com os homens brancos, o tempo da libertação geral não estará muito distante."
18 (N. T.) Scoens Judas Iscariot no original.
19 (N. T.) Instrumento de tortura formado por um anel de ferro com que se prendem os polegares de alguém.
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