quarta-feira, 22 de agosto de 2018

22 de agosto de 1965 - Vai ao ar o Programa Jovem Guarda, pela TV Record.

Em 1965, a TV Record resolveu investir em um novo programa para a juventude ao constatar uma emergente cultura de consumo, reflexo da expansão de um mercado de jovens consumidores adolescentes. "Jovem Guarda" era o nome do programa que estreou em agosto.
Três apresentadores dividiam o comando do espetáculo: Roberto Carlos, “Rei da Juventude", Erasmo Carlos, "O Tremendāo", e Wanderléia, “A Ternurinha". Nao eram só apelidos e sim verdaderas marcas registradas, no sentido comercial do termo, ao lado do nome do programa e de seu símbolo: "O Calhambeque".
O programa destinava-se à juventude considerada “alienada”, interessada em música pop – inspirada pelo rock americano -, moda, carros e ingênuos romances – um contraponto aos jovens engajados politicamente, que em plena ditadura militar envolviam-se com movimentos subversivos e, posteriormente, com a luta armada.
A resposta do público veio rápida e fulminante. Em pouco tempo as tardes de domingo eram da turma da Jovem Guarda: Jordans, Os Vips, Os Incríveis, Os Fevers, Golden Boys, Renato e seus Blue Caps (conjunto que teve em seu início a participação de Erasmo Carlos), Jerry Adriani, Wanderlei Cardoso, Martinha, Rosemary, Eduardo Araújo, Leno e Lilian, Deno e Dino, além de muitos outros. Esses jovens assumiram rapidamente todos os postos das paradas de sucesso da época.
A nova moda entrava nos lares, nos ouvidos e nos guarda-roupas. Para os rapazes, a onda era usar cabelos compridos - influência dos Beatles - e calças colantes bicolores, com a indispensável boca-de-sino. A minissaia era a peça básica da "garota papo-firme", acompanhada por botas de cano alto e cintos coloridos.
A juventude adolescente consumia ferozmente todos esses produtos lançados por uma agência de publicidade, que, a partir de uma campanha publicitária bem-articulada, procurava explorar esse novo mercado consumidor que se abria com a expansão dos meios de comunicação e o desenvolvimento urbano do país.
No campo musical, o som da Jovem Guarda, rotulado de iê-iê-iê, remete ao início dos Beatles e ao rock'n'roll dos anos 50, misturado ao nosso rock-balada (influência do bolero e do samba-canção). Nas letras, nada de rebeldia, sexo, drogas ou crítica social. Abandonando muitas vezes o sentido original das letras, misturava palavras adocicadas e histórias ingênuas ao ritmo agressivo das músicas.
Apesar dessa
ingenuidade aparente, as letras da Jovem Guarda potencializavam as primeiras manifestações do corpo como fonte de prazer para os adolescentes, e o amor, o namoro, os beijos, a minissaia e a dança tornaram-se elementos de transgressão dos valores moralizantes da época, dentro dos limites permitidos pela sociedade.
A ingênua rebeldia da Jovem Guarda não se restringia apenas aos cabelos, às roupas e à gíria "É uma brasa, mora!" (marca registrada do movimento). Na realidade, esse movimento nos permite compreender por quê, na época, a irreverência e o despojamento das massas roqueiras implicariam uma crítica à inocência de um país que se modernizava e, ao mesmo tempo, andava de braços dados com arcaicos padrões de comportamento.
- A última apresentação do programa foi em 24 de outubro de 1968
FONTES:
. Portal Virgula - sessão TV & cinema
. "Movimentos Culturais de Juventude", livro de António Carlos Brandão e Milton Fernandes Duarte

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