Em 1965, a TV Record resolveu investir em um novo programa para a
juventude ao constatar uma emergente cultura de consumo, reflexo da
expansão de um mercado de jovens consumidores adolescentes. "Jovem
Guarda" era o nome do programa que estreou em agosto.
Três
apresentadores dividiam o comando do espetáculo: Roberto Carlos, “Rei da
Juventude", Erasmo Carlos, "O Tremendāo", e Wanderléia, “A Ternurinha".
Nao eram só apelidos e sim verdaderas marcas registradas, no sentido
comercial do termo, ao lado do nome do programa e de seu símbolo: "O
Calhambeque".
O programa destinava-se à juventude considerada
“alienada”, interessada em música pop – inspirada pelo rock americano -,
moda, carros e ingênuos romances – um contraponto aos jovens engajados
politicamente, que em plena ditadura militar envolviam-se com movimentos
subversivos e, posteriormente, com a luta armada.
A resposta do
público veio rápida e fulminante. Em pouco tempo as tardes de domingo
eram da turma da Jovem Guarda: Jordans, Os Vips, Os Incríveis, Os
Fevers, Golden Boys, Renato e seus Blue Caps (conjunto que teve em seu
início a participação de Erasmo Carlos), Jerry Adriani, Wanderlei
Cardoso, Martinha, Rosemary, Eduardo Araújo, Leno e Lilian, Deno e Dino,
além de muitos outros. Esses jovens assumiram rapidamente todos os
postos das paradas de sucesso da época.
A nova moda entrava nos
lares, nos ouvidos e nos guarda-roupas. Para os rapazes, a onda era usar
cabelos compridos - influência dos Beatles - e calças colantes
bicolores, com a indispensável boca-de-sino. A minissaia era a peça
básica da "garota papo-firme", acompanhada por botas de cano alto e
cintos coloridos.
A juventude adolescente consumia ferozmente
todos esses produtos lançados por uma agência de publicidade, que, a
partir de uma campanha publicitária bem-articulada, procurava explorar
esse novo mercado consumidor que se abria com a expansão dos meios de
comunicação e o desenvolvimento urbano do país.
No campo musical,
o som da Jovem Guarda, rotulado de iê-iê-iê, remete ao início dos
Beatles e ao rock'n'roll dos anos 50, misturado ao nosso rock-balada
(influência do bolero e do samba-canção). Nas letras, nada de rebeldia,
sexo, drogas ou crítica social. Abandonando muitas vezes o sentido
original das letras, misturava palavras adocicadas e histórias ingênuas
ao ritmo agressivo das músicas.
Apesar dessa
ingenuidade
aparente, as letras da Jovem Guarda potencializavam as primeiras
manifestações do corpo como fonte de prazer para os adolescentes, e o
amor, o namoro, os beijos, a minissaia e a dança tornaram-se elementos
de transgressão dos valores moralizantes da época, dentro dos limites
permitidos pela sociedade.
A ingênua rebeldia da Jovem Guarda não
se restringia apenas aos cabelos, às roupas e à gíria "É uma brasa,
mora!" (marca registrada do movimento). Na realidade, esse movimento nos
permite compreender por quê, na época, a irreverência e o despojamento
das massas roqueiras implicariam uma crítica à inocência de um país que
se modernizava e, ao mesmo tempo, andava de braços dados com arcaicos
padrões de comportamento.
- A última apresentação do programa foi em 24 de outubro de 1968
FONTES:
. Portal Virgula - sessão TV & cinema
. "Movimentos Culturais de Juventude", livro de António Carlos Brandão e Milton Fernandes Duarte
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