O
Ibadismo é um seguimento islâmico anterior até mesmo a cisão mais
conhecida entre sunitas e xiitas, tendo se originado a partir da cisão
de outra seita muçulmana, a khawarij, por volta de 657, cerca de 20 anos
após a morte do Profeta Muhammad. Os ibadis constituem a maioria
(aproximadamente 75%) da população atual do Sultanato de Omã. Existem
cerca de 2,72 milhões de ibadis em todo o mundo, dos quais 250 mil vivem
fora de Omã. Como resultado, Omã é o único país do mundo muçulmano com
uma população de maioria Ibadi.
Historicamente, a dinastia medieval do Rustamida (767 – 909) na Argélia era Ibadi, e os refugiados de sua capital, Tiaret, após serem derrotadas pelos fatímidas xiitas ismaelitas em 909, fundaram as comunidades norte-africanas ibadis que exista atualmente. Os ibadis também são encontrados na África Oriental (particularmente em Zanzibar), nas Montanhas Nafusa da Líbia e na Ilha de Djerba na Tunísia. Há um grupo de salafistas que se converteu ao ibadismo nas Maldivas desde 2016. De forma geral, as orientações para os seguidores do ibadismo se centram em Omã.
A escola deriva seu nome de Abdullah Ibn Ibāḍ da tribo árabe dos Banu Tamim. Ibn Ibad foi responsável por romper com o movimento khawarij original mais amplo aproximadamente na época em que Abdul Malik ibn Marwan, o quinto governante omíada sírio, assumiu o poder. No entanto, o verdadeiro fundador do seguimento foi Jābir ibn Zayd de Nizwa, Omã. Inicialmente, a teologia de Ibadi desenvolveu-se em Basra, no Iraque. Os Ibadis se opuseram ao domínio do terceiro califa do Islã, Osman ibn Affan, mas diferentemente dos khawarij mais extremos, os ibadis rejeitaram o assassinato de Osman, bem como a crença carijita de que todos os muçulmanos que tinham pontos de vista diferentes eram infiéis. Os ibadis estavam entre os grupos mais moderados que se opunham ao quarto califa, Ali, e queriam devolver a configuração politica islâmica à sua forma anterior ao conflito entre Ali e Muawiyah I.
Devido à sua oposição ao califado omíada, os ibadis tentaram uma insurreição armada que começou na região de Hijaz na Peninsula Arábica nos anos 740. O califa Marwan II liderou um exército de 4.000 homens e derrotou os ibadis primeiro em Meca, depois em Saná, no Iêmen, e finalmente os cercou em Shibam, no oeste de Hadramaute. Problemas em sua região central na Síria forçaram os omíadas a assinarem um acordo de paz com os ibadis, e a seita foi autorizada a manter uma comunidade em Shibam pelos próximos quatro séculos, enquanto ainda pagassem impostos às autoridades de Ibadi em Omã. Por um período após a morte de Marwan II, Jabir ibn Zayd manteve uma amizade com o famoso general omíada Hajjaj ibn Yusuf, que apoiou os ibadis como um contrapeso aos khawarij mais extremos. Ibn Zayd ordenou o assassinato de um dos espiões de Hajjaj, no entanto, e em reação muitos ibadis foram presos ou exilados em Omã.
Foi durante o século VIII que os Ibadis estabeleceram um imamato na região interior de Omã. A posição era eleita, em oposição às dinastias sunitas e xiitas, onde o governo era herdado. Esses imãs exerceram funções políticas, espirituais e militares.
Por volta do ano 900, o ibadismo se espalhou para Sind na Índia, o Khorosan persa, Hadramaute, Dhofar, Omã, Mascate, Montanhas Nafusa e Qeshm; em 1200, a seita estava presente em al-Andalus (atual espanha), Sicília, M'zab (o Saara argelino) e na parte ocidental da região do Sahel. Os últimos Ibadis de Shibam foram expulsos pela dinastia sulayhida no século XII. No século XIV, o historiador Ibn Khaldun fez referência aos vestígios da influência de Ibadi em Hadramaute no Iemen, embora a seita não exista mais na região hoje.
Apesar de terem antecedido todas as escolas sunitas e xiitas por várias décadas, os ibadis e suas crenças permanecem em grande parte um mistério para forasteiros, não-muçulmanos e até mesmo outros muçulmanos. Ibadis alegaram, com justificativa, que enquanto liam os trabalhos tanto dos sunitas quanto dos xiitas, mesmo os eruditos estudiosos dessas duas seitas nunca leram obras ibadis e frequentemente repetem mitos e informações falsas quando abordam o tema do Ibadismo sem realizar pesquisas apropriadas. A natureza isolada de Omã concedeu a denominação ibadi, secretiva por natureza, o ambiente perfeito para se desenvolver em isolamento do mainstream islâmico.
Ibadis têm sido referidos como puritanos tolerantes ou como quietistas políticos por causa de sua preferência para resolver as diferenças através da dignidade e da razão, e não com o confronto, bem como sua tolerância histórica para com judeus e cristãos. O movimento do Ibadismo do Hijaz para o Iraque e, posteriormente para Omã, fez com que o historiador ibadi al-Salimi escrevesse que o Ibadismo é um pássaro cujo ovo foi colocado em Medina, eclodiu em Basra e voou para Omã.
Ibāḍīs têm várias diferenças doutrinárias com outras denominações do Islã, entre elas:
1-Deus não se mostrará aos muçulmanos no Dia do Juízo, uma crença compartilhada com os xiitas. Os sunitas acreditam que os muçulmanos verão Deus no Dia do Juízo.
2-O Alcorão foi criado por Deus em um determinado momento. Esta crença é compartilhada entre eles e os já extintos muatazilas, enquanto os sunitas mantêm que o Alcorão é co-eterno com Deus.
3-Como a grande maioria dos sunitas e totalidade dos xiitas, eles interpretam referências antropomórficas a Deus no Alcorão simbolicamente ao invés de literalmente, em oposição a visão minoritária da escola hanbali sunita.
4-Seus pontos de vista sobre a predestinação são como as dos sunitas asharis.
5- Para eles politcamente, é desnecessário ter um líder para todo o mundo muçulmano, e se nenhum líder for apto para o trabalho, as comunidades muçulmanas podem governar a si mesmas. Isso é diferente tanto da crença sunita do califado quanto da crença xiita de Imamato.
6- De acordo com o Ibadismo, não é necessário que o governante dos muçulmanos seja descendente da tribo coraixita, que era a tribo do profeta muçulmano Muhammad, nisso eles divergem principalmente de xiitas como da atual visão sunita.
7-Eles acreditam que é aceitável esconder suas crenças sob certas circunstâncias de perseguição (kitman), análogo a taqiyya xiita.
O fiqh ou jurisprudência dos Ibadis é relativamente simples. A autoridade absoluta é dada ao Alcorão e aos hadith; novas inovações aceitas com base em qiyas, ou raciocínio analógico, foram rejeitadas como bid'ah pelos ibadis. Isso difere da maioria dos sunitas que dividem inovações religiosas como boas e más, dependendo do seu grau de alteração as bases da religião.
Os ibadis concordam com os sunitas em relação a Abu Bakr e Omar ibn al-Khattab como califas corretamente guiados. Eles consideram a primeira metade do governo de Osman ibn Affan como justo e a segunda metade como corrupto e afetado por ambos nepotismo e heresia. Eles aprovam a primeira parte do califado de Ali e (como os xiitas) desaprovam a rebelião de Aisha e a revolta de Muawiyah I. No entanto, eles consideram que a aceitação da arbitragem por Ali na Batalha de Ṣiffīn tornou-o impróprio para a liderança, e o condenam por matar os khawarij de an-Nahr na Batalha de Nahrawan. Os teólogos ibadis contemporâneos defendem a oposição khawarij inicial a Osman, Ali e Muawiyah.
O explorador marroquino Ibn Battuta do século XIV observou Ibadis rezando a oração de sexta-feira em Omã e disse que eles oravam da mesma maneira que a oração do Zuhr (com quatro unidades, ao invés das duas dos sunitas). Ele notou que eles invocaram a misericórdia de Deus sobre Abu Bakr e Omar, mas não sobre Osman e Ali, como os sunitas.
Em sua crença, o próximo califa legítimo era Abdullah ibn Wahb al-Rasibi, o líder dos khawarij que se voltaram contra Ali por sua aceitação da arbitragem com Muawiyah. Todos os califas de Mu'āwīyah em diante são considerados tiranos pelos ibadis, exceto Omar ibn Abdul Aziz. Numerosos líderes ibadis são reconhecidos como os verdadeiros imãs, incluindo Abdullah ibn Yahya al-Kindi e os imãs da dinastia Rustamida no norte da África. Tradicionalmente, o Ibadismo Omanense conservador rejeitava a monarquia e o governo hereditário com seus lideres eleitos.
Curiosidade: Assim como xiitas e sunitas da escola maliki, ibadis também oram com os braços estendido ao lado do corpo, diferentemente dos sunitas das escolas hanafi, shafi'i e hanbali.
Historicamente, a dinastia medieval do Rustamida (767 – 909) na Argélia era Ibadi, e os refugiados de sua capital, Tiaret, após serem derrotadas pelos fatímidas xiitas ismaelitas em 909, fundaram as comunidades norte-africanas ibadis que exista atualmente. Os ibadis também são encontrados na África Oriental (particularmente em Zanzibar), nas Montanhas Nafusa da Líbia e na Ilha de Djerba na Tunísia. Há um grupo de salafistas que se converteu ao ibadismo nas Maldivas desde 2016. De forma geral, as orientações para os seguidores do ibadismo se centram em Omã.
A escola deriva seu nome de Abdullah Ibn Ibāḍ da tribo árabe dos Banu Tamim. Ibn Ibad foi responsável por romper com o movimento khawarij original mais amplo aproximadamente na época em que Abdul Malik ibn Marwan, o quinto governante omíada sírio, assumiu o poder. No entanto, o verdadeiro fundador do seguimento foi Jābir ibn Zayd de Nizwa, Omã. Inicialmente, a teologia de Ibadi desenvolveu-se em Basra, no Iraque. Os Ibadis se opuseram ao domínio do terceiro califa do Islã, Osman ibn Affan, mas diferentemente dos khawarij mais extremos, os ibadis rejeitaram o assassinato de Osman, bem como a crença carijita de que todos os muçulmanos que tinham pontos de vista diferentes eram infiéis. Os ibadis estavam entre os grupos mais moderados que se opunham ao quarto califa, Ali, e queriam devolver a configuração politica islâmica à sua forma anterior ao conflito entre Ali e Muawiyah I.
Devido à sua oposição ao califado omíada, os ibadis tentaram uma insurreição armada que começou na região de Hijaz na Peninsula Arábica nos anos 740. O califa Marwan II liderou um exército de 4.000 homens e derrotou os ibadis primeiro em Meca, depois em Saná, no Iêmen, e finalmente os cercou em Shibam, no oeste de Hadramaute. Problemas em sua região central na Síria forçaram os omíadas a assinarem um acordo de paz com os ibadis, e a seita foi autorizada a manter uma comunidade em Shibam pelos próximos quatro séculos, enquanto ainda pagassem impostos às autoridades de Ibadi em Omã. Por um período após a morte de Marwan II, Jabir ibn Zayd manteve uma amizade com o famoso general omíada Hajjaj ibn Yusuf, que apoiou os ibadis como um contrapeso aos khawarij mais extremos. Ibn Zayd ordenou o assassinato de um dos espiões de Hajjaj, no entanto, e em reação muitos ibadis foram presos ou exilados em Omã.
Foi durante o século VIII que os Ibadis estabeleceram um imamato na região interior de Omã. A posição era eleita, em oposição às dinastias sunitas e xiitas, onde o governo era herdado. Esses imãs exerceram funções políticas, espirituais e militares.
Por volta do ano 900, o ibadismo se espalhou para Sind na Índia, o Khorosan persa, Hadramaute, Dhofar, Omã, Mascate, Montanhas Nafusa e Qeshm; em 1200, a seita estava presente em al-Andalus (atual espanha), Sicília, M'zab (o Saara argelino) e na parte ocidental da região do Sahel. Os últimos Ibadis de Shibam foram expulsos pela dinastia sulayhida no século XII. No século XIV, o historiador Ibn Khaldun fez referência aos vestígios da influência de Ibadi em Hadramaute no Iemen, embora a seita não exista mais na região hoje.
Apesar de terem antecedido todas as escolas sunitas e xiitas por várias décadas, os ibadis e suas crenças permanecem em grande parte um mistério para forasteiros, não-muçulmanos e até mesmo outros muçulmanos. Ibadis alegaram, com justificativa, que enquanto liam os trabalhos tanto dos sunitas quanto dos xiitas, mesmo os eruditos estudiosos dessas duas seitas nunca leram obras ibadis e frequentemente repetem mitos e informações falsas quando abordam o tema do Ibadismo sem realizar pesquisas apropriadas. A natureza isolada de Omã concedeu a denominação ibadi, secretiva por natureza, o ambiente perfeito para se desenvolver em isolamento do mainstream islâmico.
Ibadis têm sido referidos como puritanos tolerantes ou como quietistas políticos por causa de sua preferência para resolver as diferenças através da dignidade e da razão, e não com o confronto, bem como sua tolerância histórica para com judeus e cristãos. O movimento do Ibadismo do Hijaz para o Iraque e, posteriormente para Omã, fez com que o historiador ibadi al-Salimi escrevesse que o Ibadismo é um pássaro cujo ovo foi colocado em Medina, eclodiu em Basra e voou para Omã.
Ibāḍīs têm várias diferenças doutrinárias com outras denominações do Islã, entre elas:
1-Deus não se mostrará aos muçulmanos no Dia do Juízo, uma crença compartilhada com os xiitas. Os sunitas acreditam que os muçulmanos verão Deus no Dia do Juízo.
2-O Alcorão foi criado por Deus em um determinado momento. Esta crença é compartilhada entre eles e os já extintos muatazilas, enquanto os sunitas mantêm que o Alcorão é co-eterno com Deus.
3-Como a grande maioria dos sunitas e totalidade dos xiitas, eles interpretam referências antropomórficas a Deus no Alcorão simbolicamente ao invés de literalmente, em oposição a visão minoritária da escola hanbali sunita.
4-Seus pontos de vista sobre a predestinação são como as dos sunitas asharis.
5- Para eles politcamente, é desnecessário ter um líder para todo o mundo muçulmano, e se nenhum líder for apto para o trabalho, as comunidades muçulmanas podem governar a si mesmas. Isso é diferente tanto da crença sunita do califado quanto da crença xiita de Imamato.
6- De acordo com o Ibadismo, não é necessário que o governante dos muçulmanos seja descendente da tribo coraixita, que era a tribo do profeta muçulmano Muhammad, nisso eles divergem principalmente de xiitas como da atual visão sunita.
7-Eles acreditam que é aceitável esconder suas crenças sob certas circunstâncias de perseguição (kitman), análogo a taqiyya xiita.
O fiqh ou jurisprudência dos Ibadis é relativamente simples. A autoridade absoluta é dada ao Alcorão e aos hadith; novas inovações aceitas com base em qiyas, ou raciocínio analógico, foram rejeitadas como bid'ah pelos ibadis. Isso difere da maioria dos sunitas que dividem inovações religiosas como boas e más, dependendo do seu grau de alteração as bases da religião.
Os ibadis concordam com os sunitas em relação a Abu Bakr e Omar ibn al-Khattab como califas corretamente guiados. Eles consideram a primeira metade do governo de Osman ibn Affan como justo e a segunda metade como corrupto e afetado por ambos nepotismo e heresia. Eles aprovam a primeira parte do califado de Ali e (como os xiitas) desaprovam a rebelião de Aisha e a revolta de Muawiyah I. No entanto, eles consideram que a aceitação da arbitragem por Ali na Batalha de Ṣiffīn tornou-o impróprio para a liderança, e o condenam por matar os khawarij de an-Nahr na Batalha de Nahrawan. Os teólogos ibadis contemporâneos defendem a oposição khawarij inicial a Osman, Ali e Muawiyah.
O explorador marroquino Ibn Battuta do século XIV observou Ibadis rezando a oração de sexta-feira em Omã e disse que eles oravam da mesma maneira que a oração do Zuhr (com quatro unidades, ao invés das duas dos sunitas). Ele notou que eles invocaram a misericórdia de Deus sobre Abu Bakr e Omar, mas não sobre Osman e Ali, como os sunitas.
Em sua crença, o próximo califa legítimo era Abdullah ibn Wahb al-Rasibi, o líder dos khawarij que se voltaram contra Ali por sua aceitação da arbitragem com Muawiyah. Todos os califas de Mu'āwīyah em diante são considerados tiranos pelos ibadis, exceto Omar ibn Abdul Aziz. Numerosos líderes ibadis são reconhecidos como os verdadeiros imãs, incluindo Abdullah ibn Yahya al-Kindi e os imãs da dinastia Rustamida no norte da África. Tradicionalmente, o Ibadismo Omanense conservador rejeitava a monarquia e o governo hereditário com seus lideres eleitos.
Curiosidade: Assim como xiitas e sunitas da escola maliki, ibadis também oram com os braços estendido ao lado do corpo, diferentemente dos sunitas das escolas hanafi, shafi'i e hanbali.
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