terça-feira, 26 de junho de 2018

26 de Junho - Dia Internacional de Luta Contra a Tortura

O grande problema da caça às bruxas, e o que acabou gerando numero tão grande de inocentes condenados à fogueira, foi a tortura. Ela entrou nos processos judiciais de feitiçaria graças a uma autorização papal de 1252. Foi quando o pontífice de sugestivo nome Inocêncio IV permitiu que inquisidores usassem a tortura em casos de heresia, o tipo de transgressão mais grave contra os preceitos da lgreja Católica.
Como nessa nova versão da bruxaria as feiticeiras eram unha e carne com o Diabo, elas se tornaram ameaça imensa contra o catolicismo. Ou seja, podiam ser condenadas por heresia. Aos olhos do clero, aliás, eram as maiores hereges possíveis. E, como tais, estavam sujeitas a serem torturadas.
Os métodos eram os piores imagináveis, mas havia regras. Teoricamente, era proibido supliciar alguém mais de uma vez, assim como era vetado torturar mulheres grávidas e crianças. Havia também um método mais indicado: a suspensão, no qual uma pessoa era erguida pelos braços amarrados atrás das costas e depois puxada para baixo com pesos nos pés. Na prática, no entanto, nada disso acontecia. Todas as regras eram desrespeitadas. Principalmente a primeira delas, a proibição da repetição, era convenientemente ignorada, e as bruxas acabavam torturadas diversas vezes, repetidamente.
Os martírios eram inúmeros e diversificados. Primeiro, as acusadas eram despidas e tinham os pelos raspados. Em seguida, os torturadores vasculhavam o corpo em busca de algum sinal do Diabo - acreditava-se que o demônio deixava uma marca em seus aliados, na qual eles não sentiriam dor nem sangrassem.
Por consequência, as acusadas acabavam sendo espetadas por toda parte. Só então começava a tortura. Esmagavam-se os dedos, os membros eram estraçalhados, os olhos furados, as orelhas arrancadas, as pessoas impedidas de dormir ou de comer, jogava-se ácido sobre elas e furava-se a coluna com pontas de faca. Para aumentar a "eficiência", os algozes continuavam as maldades pelo tempo que fosse necessário, até que a vítima confessasse tudo e qualquer coisa - e ainda indicasse nomes de supostos cúmplices.
O resultado é que todo mundo sucumbia e acabava citando nomes de conhecidos... Essas outras pessoas, por sua vez, eram levadas a julgamento, torturadas e obrigadas a entregar mais nomes, em uma interminável bola de neve da barbárie, Há relatos de vilarejos em que apenas uma mulher sobreviveu para contar a história. Todas as outras foram executadas por bruxaria.
O problema da tortura, além da óbvia questão moral, foi que ela alimentou a busca incessante por cada vez mais bruxas.
Cada vez que uma mulher inocente era torturada, acabava confessando qualquer história inacreditável que o juiz sugerisse - de assar bebezinhos a manusear o pênis gelado do Diabo. O juiz, satisfeito com mais uma bruxa desmascarada, fazia anotações do que seria supostamente o comportamento-padrão das bruxas e usava o mesmo roteiro na hora de torturar a próxima vítima - que obviamente acabaria assumindo todos os mesmos crimes.
Assim, foi-se criando um extenso imaginário dos atos de bruxaria, que se confirmava a cada novo julgamento. De repente, mulheres de toda a Europa estavam assumindo fazer sexo com um ser que não existia e crimes que elas nem sequer podiam ter cometido, como voar em vassouras.
Apenas a possibilidade de tortura já era suficiente para espalhar a bruxaria, porque muitas acusadas preferiam confessar de antemão crimes que não haviam cometido para evitar a dor e a humilhaçăo: julgavam que era preferível morrer logo de uma vez a ficar adiando o inevitável. As confissões espontâneas, por sua vez, só confirmavam a crenca na magia. Uma coisa as bruxas da vida real tinham em comum com as parceiras dos contos de fadas: assim como na literatura, não havia final feliz para elas.
Ninguém resistia às torturas intermináveis, principalmente se, como a maioria, elas não tinham o que confessar. Na prática, os interrogatórios e a tortura viravam longas sessões de crueldade nas quais as condenadas ficavam tentando adivinhar o que os inquisidores queriam ouvir, com a esperança de que as deixassem em paz. A maior prova disso é que nos países em que a tortura era proibida, como na Inglaterra, o número de execucões era imensamente menor.
Quando ela era utilizada, 95% das acusadas acabavam condenadas à morte - mas, quando era proibida, a taxa de condenação caía para menos de 50% como no Reino Unido. A diferença não estava no fato de que as bruxas inglesas fossem menos cruéis, mas sim que suas colegas continentais eram torturadas incansavelmente e, assim, não consequiamevitar a confissão de crimes muito piores que poderiam levar à pena de morte. De fato, na Inglaterra, a crença em pactos com o Diabo e em satanismo nunca foi difundida como no resto do continente europeu.
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FONTE: "O Lado Sombrio dos Contos de Fadas - A Origem Sangrenta das Histórias Infantis", por Karin Hueck

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