Há músicos de jazz. E há Miles Davis, no qual a história do jazz
transcorre, seja no aprofundamento de estilos já consagrados, ou na
redefinição de sua própria história em novos gêneros: jazz orquestra ou
big band; bepop; hard bop; cool jazz; fusion ou electric jazz; word jazz
e hip-hop jazz. Personalidade explosiva, não foi raro suas polêmicas e
agressivas críticas sobre importantes expoentes do jaz
z,
por exemplo, o lendário pianista Thelonius Monk, e o saxofonista Eric
Dolphy, ou seja, duas personalidades icônicas de dois grandes estilos:
bebop e free jazz. Muitas vezes tocando de costas para seu público, por
sua maioria ser composta de brancos, recusou tocar junto com Eric
Clapton e Jack Bruce, então grandes nomes do rock. Em suas palavras: “Eu
não quero ser um homem branco. Rock é uma palavra de brancos.” Certa
vez quase foi morto por gângsteres ao estacionar seu carro no Brooklyn
em Nova York. Dez mil dólares foram oferecidos em recompensa, feita por
Miles, para encontrar os envolvidos. Mesmo ninguém buscando o valor em
dinheiro, semanas depois, os envolvidos apareceram misteriosamente
mortos. Mas falemos de arte. A dimensão intimista do trompete de Miles,
segundo críticos, associa-se a simplicidade transformada em refinação e
sofisticação de seu jeito de tocar. Em sua busca da execução simples,
ele tocava com serenidade, característica de como usava a surdina, como
se respirasse dentro do microfone. Suavidade, pouco vibrato, o soar
pontual de cada nota. Muitos apontam características como desamparo
existencial, solidão e melancolia, presentes em suas belíssimas
execuções musicais que podem ser exemplificadas em músicas como Prayer
(oh Doctor Jesus) do álbum Porgy and Bess; The Pan Piper do álbum
Sketches of Spain; e de músicas como All of you, Blue in Green e tantas
outras.
Que o leitor faça um exercício de imaginação estética e
ouça Round Midnight e termine seu itinerário intimista, sua vivência da
interioridade, em telas de outro grande expoente da solidão, o pintor,
também americano, Edward Hopper, em especial, a tela “Os notívagos”.
Para os leitores não familiarizados com a obra de Miles Davis e que
queiram conhecer sua música mediante a aproximação de outros gêneros
musicais como o rock, funk e hip-hop, recomendo os álbuns In a Silent
Way, Bitches Brew, Tutu e Doo-bop, e no caso da música brasileira em
especial a Bossa Nova, o álbum Quiet Nigths.
Texto de Hilton Valeriano
Fonte: O livro do jazz. Berendt e Huesmann. Editora Perspectiva.
Nenhum comentário:
Postar um comentário