Sabe aquele sambão do fundo do baú? Ou aquele pagode dos anos 90 que
você acaba de colocar no seu spotify? Pois é, a gravação deles só foi
possível devido a existência de grandes personagens da nossa história,
um deles é a querida Tia Ciata, mulher importantíssima, que contribuiu
decisivamente para o desenvolvimento do gênero musical Samba.
Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata, nasceu em Santo
Amaro da Purificação, Bahia, em 1854. Como escrava acompanhava sua mãe
na cozinha da casa grande, onde desenvolveu dotes culinários. Após a
aprovação da lei Áurea, muitos negros baianos, ex-escravos, migraram
para a região sudeste, sobretudo para o Rio de Janeiro e São Paulo.
Hilária mudou-se para território carioca e passou a vender quitutes
próximo da praça onze, local conhecido como "Pequena África" por abrigar
quantidade significativa de negros. Sempre paramentada com suas vestes
de baiana. Era na comida que ela expressava suas convicções religiosas,
ou seja, a sua fé no candomblé, religião proibida e perseguida naqueles
tempos. Ia para o ponto de venda com sua roupa de baiana uma saia rodada
e bem engomada, turbante, diversos colares (guias ou fio-de-contas) e
pulseiras, sempre na cor do orixá que iria homenagear. No local de
trabalho passou a organizar sambas de roda(tradição baiana), e virou a
mais famosa das tias baianas do centro do Rio de Janeiro. Partideira
reconhecida, cantava com autoridade respondendo aos refrões das festas
da praça onze, que se arrastavam por dias. Tia Ciata cuidava para que a
comida estivesse sempre quente e saborosa e o samba nunca parasse,
fornecendo água e a famosa pinga aos sambistas de roda e às outras Tias
baianas. Quando a polícia passou a reprimir os sambas de rua, sob a
acusação de vadiagem, Tia Ciata abriu as portas de seu barraco para os
mais diversos músicos, malandros e população em geral, segundo João da
Baiana, na mesma casa chegaram a ter três ambientes diferentes tocando
samba: “os velhos ficavam na sala da frente cantando partido alto… os
jovens ficavam nos quartos cantando samba corrido e, no terreiro, ficava
o pessoal que gostava da batucada.” No meio da bagunça logo aparecia
Tia Ciata dançando o famoso samba "miudinho". A polícia mandou por
várias vezes fechar a casa da sambista. Até o dia que sua vida cruzou
com a do presidente da República Wenceslau Brás, o chefe do executivo
estava adoentado em virtude de uma ferida na perna que os médicos não
conseguiam curar, um investigador, que já havia sido curado por Tia
Ciata, pediu um remédio para sarar a enfermidade do político, em uma
sessão em seu terreiro, ela incorporou um Orixá que disse aos presentes
haver cura para a tal ferida e recomendou a Wenceslau Brás que fizesse
uma pasta com ervas que deveria ser colocada por três dias seguidos. O
Presidente ficou bom e em troca ofereceu a realização de qualquer
pedido. Além de um serviço para o marido, Ciata requisitou ao político
que intervisse para evitar as várias interrupções policiais durante as
rodas de samba organizadas em sua residência, em 1916 o ritmo encontrou
terreno e liberdade para o desenvolvimento como música popular. Foi em
sua casa que o primeiro samba, "Pelo Telefone", foi composto. Todo ano,
durante o Carnaval, Tia Ciata armava uma barraca na Praça Onze,
reunindo desde trabalhadores até a fina flor da malandragem. No
estabelecimento eram lançadas as músicas e as conhecidas marchinhas, que
ficariam famosas no Carnaval do Rio de Janeiro. A sambista morreu em
1924, mas até hoje é parte fundamental da história carioca.
Curiosamente, existem pouquíssimas fotografias dessa importante
personagem, mas sua imagem até hoje é guardada na memória coletiva
brasileira como a mais importante pioneira do samba no Brasil.
Texto de Joel Paviotti
Referências: Ministério da Cultura, Wikipédia, huffpost, Geledes, Visit Rio.
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